Este Blog...

É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

Sejam bem-vindos!

Wednesday, June 30, 2010

A partir de hoje...

A partir de hoje numa nova morada...

http://barradasruben.wordpress.com/

Continuarei a postar aqui também durante algum tempo, mas passarei a usar o blog citado acima como o principal.

Desilusão Mundial

Conciso e directo. Cumprimos os serviços mínimos. E nada mais. Nem brilhantismo, nem mobilização da nação, nem excepcional superação dos jogadores. Empate com Costa do Marfim e Brasil, vitória a Coreia do Norte (o que era ‘obrigatório’), e derrota com Espanha, ou seja, apenas ganhámos aos ‘menos fortes’ de todos os adversários que defrontámos. Contra quem estava ao nosso nível não conseguimos mais que empates a 0. Parece-me pouco. Mas vamos por partes.

O mundial não está a ser excitante, longe disso. Uma Alemanha que vai roçando o brilhante, uma Argentina que se vai valendo de ter 500 soluções no ataque, um Brasil chato e sensaborão, uma Holanda assim-assim, e pouco mais. Portugal sai deste mundial sem chama nem glória. Ninguém se lembrará de nada da nossa selecção, e é isso que me preocupa. Não fizemos nada que possa vir a ser lembrado, até porque depois dos 7 à Coreia, nos limitamos a 3 zeros contra os restantes adversários, o que é muito pouco para uma equipa que nos habituou a ver o jogo pela positiva (ataque) e a querer vencer o jogo desde o primeiro minuto (o que acontecia na era Scolari...). Desta vez fomos brindados com uma equipa defensiva, sem soluções atacantes, remetida à sua defesa em grande parte do tempo. Era necessário ter sido assim? Não, não era, pelo menos em todo o tempo. Eu sei que a Espanha e o Brasil são-nos superiores (só não vê quem não quer), mas jogar à equipa pequena, naquela táctica de ‘tudo à defesa e depois logo se vê se salta um coelho da cartola’ dificilmente produziria outro resultado. A derrota de ontem foi um bom exemplo. Portugal preparou bem o jogo, e excepção feita aos primeiros 10m, controlámos a Espanha com inteligência. Até àquela substituição do Hugo Almeida. Ao tirar o único ponta-de-lança, Queiróz cometeu dois erros, um táctico, e outro de mensagem. O erro táctico não sou competente para o discutir, mas parece-me óbvio pelo resultado que se seguiu. Mas o erro na mensagem foi o pior. Ao tirar o único ponta-de-lança, passou à sua equipa uma ideia defensiva que não se justificava na altura, e deu aos espanhóis a mensagem de que seriam eles a ter de assumir o jogo, e que nós lá estariamos na expectativa...

E Ronaldo? Vejo-o quase todas as semanas no Real e não parece o mesmo. Explicações? Joga mais atrás do que no clube (devido à táctica portuguesa), a atitude individualista é um facto, e parece-me que o vedetismo atinge na selecção proporções inimagináveis. Quatro jogos e zero Ronaldo foi o resultado CR deste mundial. E se Queiróz tivesse tido a coragem de o substituir? Faltou coragem? Sim, faltou. Mas faltou, acima de tudo, humildade e brilhantismo de Ronaldo.

E Queiróz? Excessivamente defensivo desde o dia da convocatória. Muitos defesas e poucos atacantes. Ontem, de ataque, só tínhamos Liédson no banco...pouco, muito pouco. A convocatória anunciava uma equipa defensiva, de contenção, sem brilhantismo, mas com trabalho. Com Queiróz, a selecção vestiu o fato-macaco, mas despiu o smoking. Ganhou sentido colectivo (excepto Ronaldo), mas perdeu o brilhantismo que a caracteriza. Ganhou segurança defensiva, mas perdeu qualidade atacante. Esperemos que mude no próximo Euro, mas sinceramente, duvido. Queiróz é assim, defensivo, pouco dado a riscos, pouco interessado em assumir o jogo. Não creio que historicamente sejamos capazes de jogar assim. Fomos feitos para jogar para a frente, não em contenção, e sempre que o fizemos não tivemos sucesso. Esperemos que isto mude, e que da próxima, Queiróz nos leve à glória...

Uma palavra a Eduardo. Ganhou o lugar e é o guarda-redes de Portugal, sem dúvida. Excelente mundial, excelente atitude e dignidade na hora de sair. Temos guarda-redes até 2014/2016. Outra a Coentrão. Extraordinário, o melhor atacante português (o que, tendo em conta que foi o lateral-esquerdo, mostra o nível do ataque português...), tirou todas as dúvidas e devorou a clubite de alguns que o desprezavam enquanto defesa-esquerdo. Juntamente com Eduardo, o melhor português. Também palavra a Deco. Despediu-se da selecção com uma teimosia do sr. Queiróz, sem glória nem brilho. Durante 7 anos foi um dos abonos de família da selecção e teve sempre uma atitude digna, mesmo depois de um ou outro exagero. Merecia um final mais bonito. E agora quem o substitui? Palavra final a Raúl Meireles. Ontem esteve uns furos abaixo, mas foi um dos melhores, e mais raçudos da equipa.

Esperamos pelo Euro 2012. Que por essa altura já tenhamos mais opções e sejamos melhores do que fomos desta vez. Assim o espero eu e um país inteiro. E agora voltemos ao país real...

Tuesday, June 22, 2010

Língua, linguagem e....como disse?

A linguagem

Há quem a encare como um formalismo, um somenos quando comparada com o talento ou a capacidade. Há quem lhe reconheça a importância, mas lhe delegue um papel futuro secundário. Há quem diga que ela é tudo, que está em tudo, e que representa todas as coisas. Há quem não diga nada…





…e a ignore por completo, como se ignorar não fosse também linguagem. E há quem diga mal de tudo o que ela é, só pelo que ela é, como se ela pudesse ser menos importante do que realmente é. Há quem não assuma o seu grau de indispensabilidade e há quem viva fixado por ela. Há de tudo, na linguagem…

Linguagem. Porquê linguagem?

De que serve o que eu digo se ninguém me compreende? De que serve a mensagem que eu torno tangível em linguagem se dela não advém qualquer resultado concreto, vertido na compreensão alheia da minha expressão? De que serve ouvir se não compreendo? De que serve a mensagem que colocamos na linguagem se esta não é inteligível por parte de quem a recebe? De que serve? Que erro tremendo, meu Deus, que erro tremendo, falar sem saber se quem ouve percebe…que tempo perdido é escrever sem saber
se quem lê percebe o que queremos dizer com cada caracter que usamos…que desperdício de raciocínio é formulá-lo e verbalizá-lo, sem que disso se traduza a compreensão por parte de uma segunda pessoa. Que desperdício…

Quantas vezes terei entrado, eu e tu, num sítio onde a linguagem parece saída de uma série de anime (desenhos animados) japoneses? Quantas vezes terei ouvido, eu e tu, um discurso imperceptível, cheio de expressões exclusivas a determinado tempo ou a determinado grupo, ou a determinado propósito? Quantas vezes terei, eu e tu, visto a desgraça em que se tornou a graça de um discurso sem nexo, impossível de assimilar?

Isto não me preocuparia se fosse mecânico, piloto de aviões ou economista. Mas preocupa-me porque um dos meus ‘trabalhos’ é que ‘pessoas entendam a mensagem’. Medina Carreira não se preocupará certamente que as pessoas entendam a diferença entre PIB real e PIB nominal. Carlos Sousa não terá no topo das suas preocupações esclarecer quem não sabe a diferença entre uma caixa manual e uma automática. José Mourinho não estará minimamente preocupado que os tiffosi (agora os madridistas) sejam capazes de distinguir entre um trinco e um armador de jogo. E eu? Estou preocupado na possibilidade de alguém não estar a perceber o que estou a dizer?

Adoro música e adoro falar em público. E por isso penso em linguagem. Já vi guitarristas que conseguem ‘falar’ mais do que oradores após 30 minutos de discurso. Considero estas actividades os pontos máximos que distinguem a importância da linguagem. Ambas são acerca da expressão, mas ambas são acerca do público. Nenhuma arte faz sentido sem público, pelo que nenhuma arte pode perder o sentido de linguagem e a possibilidade de esta ser perceptível pelo receptor.

É trágico ver que tanta gente mata a mensagem, quando ela é tão boa. É trágico ver quando a mensagem é maltratada pela linguagem. É ainda mais trágico ver que dizemos uma coisa, mas falamos outra. Mas mais trágico do que tudo isto é ver quem não compreende este ‘fenómeno’ (uau, como se a história da humanidade não fosse toda acerca disto...), quem não compreende que linguagem é ‘só’ essencial, e que sem uma mensagem bem construída, coerente e capaz, é impossível passar qualquer ideia, por mais simples que seja. Pelo menos uma mensagem que as pessoas queiram ouvir. Da última vez que me lembro, era esse o ‘nosso’ objectivo.

‘Ninguém me compreende’ diz-me mais acerca do emissor do que do receptor. O ‘as pessoas não aceitam’ diz-me mais acerca da irrelevância da tua linguagem e da inteligência do teu receptor, do que da incredulidade das pessoas. Alguém me dizia há uns tempos que ‘se quero um bolo com uma forma diferente, tenho de usar outra forma’. Há quem tente mudar a forma do bolo mudando a farinha, mudando os ingredientes, mudando o tempo de cozedura, mudando tudo. Menos a forma. Se quero que o bolo não seja redondo, não posso usar uma forma redonda. La Palisse a trabalhar.

Anos de linguagem incapaz, incorrecta, demasiado técnica e previsivelmente exclusiva. O que nos fecha a todos debaixo de uma espécie de redoma… triste história esta…

Sunday, June 20, 2010

Reflexões de Hospital

Sinto o Santa Maria como se fosse parte da minha vida. Escrevo isto ao 10º dia de estada na ala de Cardiologia, Piso 8, cama 15, do Hospital de Santa Maria. Noutro lugar qualquer, 10 dias seriam um somenos na minha vida, mas não o são certamente aqui. E desde essas terríveis dores no peito que me assolaram na madrugada do dia 11 e que me trouxeram aqui até ao dia de hoje, muita coisa se passou.

Conheci o Sr. António, o Sr. Agostinho e o Sr. Eusébio. O Sr. António é uma cópia quase estranha do meu avô materno, na medida em que passa todo o tempo a meter-se comigo e eu a meter-me com ele. Com ele o tempo ficou mais leve, certamente, e penso que ele dirá o mesmo da minha companhia. Os seus 81 anos bem-dispostos e de uma vida que muito tem para contar aconselhavam talvez um homem mais grave, mais triste, menos divertido...mas não. Mesmo com uma hérnia de 7 kg que o acompanha...mesmo depois de a sua esposa ter morrido de cancro há 30 anos...mesmo depois de ter sido internado com problemas cardíacos...uma bela lição de vida para alguns dos maricas que aí andam (eu!) e que se queixam porque chove, porque faz sol, porque está vento, porque, porque, porque...Ficou prometido um almoço nas Caldas da Rainha, lugar onde mora. E irei com o maior dos gostos ter com este caríssimo amigo que me tornou os dias mais leves. O Sr. António deverá sair amanhã. Eu talvez 3ª ou 4ª. Mas fico com uma bela recordação destes tempos por aqui.

Conheci esta equipa da ala de Cardiologia do Hospital de Santa Maria. E fiquei abismado com o profissionalismo, a capacidade e o amor que esta gente dedica ao que faz. Saio daqui com maior respeito pelos médicos, enfermeiros e pessoal auxiliar. Trabalham desalmadamente, muitas vezes em turnos de 24h ininterruptos, e ainda têm tempo para servir (é mesmo essa a palavra de ordem aqui, servir...) os doentes. Eles também tornaram a minha estada aqui bem mais leve, e bem mais fácil de levar.

Conheci ‘A Cabana’, que finalmente consegui ler com calma. E fiquei de tal forma estarrecido com esta história que a ela voltarei certamente. Não pensei que outro livro além da Bíblia conseguisse definir alguns pontos da natureza de Deus de forma tão bela, e simultaneamente tão clara e tão real. Ao ler, senti-me imbuído de uma necessidade de me aproximar d’Ele, de uma certeza de que mais do que ter de, eu quero participar daquele relacionamento que ‘A Cabana’ mostra. À pergunta ‘será que não sabia eu que Deus é assim?’, a resposta é sim. Mas vê-lo escrito e descrito daquela forma tão bela dá-nos um bálsamo extra para nos achegarmos a Ele mais confiantemente. E é sobre isso que trata o cristianismo...

Conheci-me quem me rodeia, os meus amigos, familiares e conhecidos. Mais uma vez percebi que a minha família é ‘à séria’. Tenho uma esposa ‘à séria’, uns pais ‘à séria’, uns irmãos ‘à séria’, uns tios ‘à séria’. Gente que tem o mesmo sangue que eu e que se preocupa comigo e não está descansado enquanto eu não estiver bem. Aos meus pais e esposa uma vénia. Estão sempre comigo e têm-me da do os mimos todos que pudesse imaginar... tive também mais uma prova de que tenho na minha igreja verdadeiros irmãos, que se preocupam comigo e me amparam nos momentos mais difíceis, em apoio e oração. Uma palavra à minha equipa de Artes, que faz a melhor homenagem que poderia fazer em continuando diligentemente com o seu trabalho semanal excelente e capaz. Sei que me têm nos seus pensamentos e orações, e isso é fantástico. Mas mais fantástico ainda é saber que continuam o trabalho de forma excelente. Esse é o maior gozo que me poderiam dar. Conheci também melhor os meus amigos e aqueles que estão comigo. Recebi dezenas, centenas de mensagens de força, e de ânimo. Agradeço-vos profundamente por cada uma delas, porque me ajudaram a olhar em frente sem desanimar nos momentos em que as coisas pareciam piorar um pouquinho mais. Desde as mensagens de amigos mais chegados, até aquelas de pessoas que não conheço, mas que por alguma razão souberam da minha situação e decidiram dar-me um pouco da sua força. Muito e muito obrigado. E a todas as igrejas, comunidades e grupos dos quais recebi relatos das suas orações por mim, muito obrigado!

Por último, posso dizer que me conheci a mim mesmo. Não sei porquê mas quando somos colocados perante uma situação destas a nossa cabeça dá muitas voltas. Estou certo de que algum propósito houve nisto, mas ainda estou a descobri-lo aos poucos. Apesar de ainda não conhecer esse propósito na totalidade, esta estada aqui deu-me a oportunidade de me conhecer melhor, de olhar para mim próprio e analisar-me naquilo que tenho sido, mais do que naquilo que tenho feito. E mais uma vez reparei que tenho deixado que o fazer se sobreponha ao ser. E senti uma chamada para ser mais verdadeiro. Não que seja mentiroso, mas no sentido da coerência, na medida em que devo ser o primeiro a ser, e não apenas o primeiro a fazer. Tenho de ir mais fundo nas minhas convicções. Tenho de ir mais fundo nas minhas motivações. Acima de tudo, tenho, eu e todos nós, de nos preocuparmos menos com o sentido estético do cristão e do cristianismo e mais com a clareza e objectividade da mensagem de Cristo. Daquele que era, que é que há-de vir. Daquele que ‘é o que é’.

Friday, June 4, 2010

Um (des)Governo merecido

Nota prévia: perdoem-me a rispidez da escrita, mas aqui está um dos temas que me aflige verdadeiramente...

É um desígnio nacional. Fazemos pouco mas falamos muito. Afinal, falamos de um país onde péssimos políticos dão lugar excelentes comentadores, mas onde o contrário nunca foi visto. Porquê? Das duas uma: ou é cultural, ou fruto de alguma coisa que nos deitam na comida todo o santo dia...

É uma característica quase transversal à cultura portuguesa este fala que fala, mas nada faz. Falamos muito, faríamos muito melhor se estivessemos no lugar deste ou daquele, injuriamos dia sim dia sim quem nos lidera/governa/dirige. Já escrevi que cada um tem o (des)governo que merece. E cada vez mais creio nisso. A mudança de comportamentos tem de deixar de começar no outro, e tem de começar a ter início em mim. Problema 1: somos extraordinários a colocar nos ombros dos outros a responsabilidade pelos problemas que temos em mãos. Problema 2: enquanto não assumirmos pessoalmente os problemas que nos afligem, dificilmente poderemos resolver algum deles. Eu sei que a culpa é do governo (e depois deste será do próximo, e antes deste foi de todos os outros que o antecederam). Problema 3: o que criticamos é exactamente aquilo que faríamos (vai a aposta?), portanto sejamos mais francos e menos hipócritas (aquilo que acusamos toda a gente de ser). Problema 4: somos mestre no preso por ter cão e no preso por não ter...cortou-se 5% no salário dos políticos? Vergonha, deveria ser mais! Não se cortou? Vergonha, não são capazes de abdicar de um cêntimo que seja!

Enquanto português compreendo o quão difícil é governar um país de descontentes compulsivos que, no entanto, pouco fazem na sua vida diária para resolver os descontentamentos próprios. Há sempre um desígnio qualquer que impediu, que não ajudou, mas nunca houve culpa própria. Creio que todos concordamos que são necessários menos paladinos da opinião, e mais gente na linha da frente a fazer algo de novo acontecer. A minha pergunta é em que linha estamos nós? Na primeira, dando a nossa opinião (que até pode ser relevante, mas que não passa de uma opinião) ou na linha frente dando o corpo às balas? Parece retórico este cenário, mas não o é. Estamos à espera do nosso vizinho para fazer o bem, ou fazêmo-lo apenas porque queremos fazer o bem? Somos nós um polo de mudança, de melhoria do mundo que nos rodeia? Somos nós verdadeiramente algo de novo, ou apenas mais uns desencantados e rabugentos velhos do Restelo, infelizes com tudo o que se passa à nossa volta?

Qual é a tua posição? Em que linha estás hoje?

Monday, May 31, 2010

Crítica e Decepção

Todos criticamos e todos somos criticados. Todos já ficámos decepcionados e todos já decepcionámos alguém. E era bom que não nos esquecessemos disso tão facilmente. Comecemos a reflexão pela crítica...

A crítica é uma palavra que define duas coisas tão distantes quanto díspares: construção e destruição. Como é que uma palavra pode definir duas coisas tão distintas quanto estas? Não sei, talvez seja um qualquer erro linguístico ainda a ponto de ser corrigido, mas a verdade é que encaixamos na mesma expressão a palavra que destrói e a palavra que constrói. Pessoalmente, tenho por hábito o desprezo pela crítica destrutiva. E o meu pensamento é simples de resumir: tudo o que não seja contribuir para a solução não conta com um segundo sequer da minha atenção! Amiúde digo que não preciso que me apontem quais os problemas, porque muitos deles eu também já os vi. Do que preciso, eu e todos os líderes, colaboradores e construtores, é que seja trazida a solução. E é assim que lido com a crítica. É para deitar abaixo? Então falem sozinhos que eu tenho muito, mas muito mais que fazer...é para construir? Então vamos fazer melhor JUNTOS!

Se toda a gente compreendesse o verdadeiro sentido da crítica, talvez fosse mais inteligente na sua utilização. Perguntas como ‘será que saberia fazer melhor’ ou ‘ que contributo poderia eu dar para que isto corresse de outra forma’ são perguntas preliminares à crítica que devem ser feitas interiormente. Porque me dão náuseas verdadeiras aqueles que criticam aquilo que nunca sequer conseguiram ainda estar perto de fazer. Na outra mão, aqueles que criticam porque crêem que é possível fazer melhor (e como eu adoro essa crítica!), que é possível ir mais além, ser mais capaz, mais belo e mais incisivo. A sério, quereria eu que todos os que estão à minha volta me criticassem desta forma, porque quanto mais o fizerem construtivamente, mais potencial de crescimento seria concretizado.

E além da crítica há a decepção, que muitas vezes é resultado de uma auto-crítica que nos deixa a sensação de que poderíamos ter ido mais além. Talvez possamos colar este conceito ao de frustração. E continuo a acreditar que essa decepção, essa frustração é o teu e o meu melhor amigo, na medida em que são elas que nos vão relembrar que é preciso mudar, fazer melhor, pedalar mais. Custa muito a decepção. Deixa-nos aquela sensação de murro no estômago, muito difícil de digerir. Mas pode ser o nosso trampolim de sucesso para o futuro, para um melhor e mais belo e efectivo desempenho. É difícil lidar com a decepção? É, e muito! Mas tê-la é sinal de que estamos no caminho para fazer melhor acontecer. E isso é o que eu pretendo.

Desiludo-me? Sim, muitas vezes. Frustro-me? Ui, nem imaginam o quanto. Mas enquanto me sentir assim e isso me fizer avançar em direcção a um melhor e mais radioso futuro, desculpem mas não me importo um milímetro que seja. E quem quiser ajudar a fazer melhor, junte-se ao clube. Tem aqui a oportunidade de mostrar que, mais do que partir pedra, pretende construir um Reino sempre crescente, inabalável, e contra o qual nada prevalecerá.

Wednesday, May 12, 2010

Papa tudo, Ratzinger!

Nada me move contra o Papa. Temos crenças distintas, discordo da sua actuação nalgumas áreas, não simpatizo especialmente com a sua postura tipicamente germânica, na qual os sorrisos são meros apêndices de imagem de difícil execução. Mas vejo em Bento XVI, embora menos do que no seu antecessor, uma pessoa honesta, verdadeira, digna do meu respeito, apesar do seu por vezes extremo conservadorismo. Até compreendo alguma da histeria dos fiéis, embora não partilhe dela, tendo em conta que as pessoas foram ensinadas que o Papa é uma embaixada de Cristo na Terra, uma espécie de divindidade terrena cuja duração foi 'esticada' desde os tempos de Cristo até hoje...

No meio disto tudo há algo que eu sinceramente não percebo. Como já disse, compreendo a emoção/histeria que percorre as vidas dos fiéis, daqueles para os quais o cristianismo visto pela lente católica é modo de vida. Mas não compreendo, aliás, repugna-me a histeria dos pseudo crentes católicos. Gente que não mete os pés numa igreja e que quando vem o Papa é do mais católico que há. Gente que não liga 'patavina' aos ensinamentos da religião que 'professa', mas que à vinda do Papa se torna católico de todos os costados. É desta hipocrisia que me queixo, não da sincera fé daqueles que a professam com ou sem Papa. E não, não concordo com a fé católica. Enquanto protestante, separam-nos n coisas que dificilmente algum dia nos poderão juntar. Mas concordo ainda menos com estes quantos hipócritas que agora gravitam à volta de Bento XVI e que na Sexta-Feira voltam à vilania e tiranagem do dia-a-dia.

É claro que a visita do Papa lembra-me outras coisas. Lembra-me do tal problema de mediação que separa católicos e protestantes. O Papa é embaixador de Cristo, sem dúvida. Mas não é o único. Eu também o sou. Tu também o és. Há milhares de embaixadores de Cristo no mundo, o que significa que o Sr Bento XVI não tem o exclusivo. Aos olhos de Deus, Ratzinger e Ruben Barradas são dois indivíduos que precisam da mediação de Cristo para serem aceites na Presença de Deus, por intermédio da Sua graça. Embora elogie a dimensão moral do homem Ratzinger, recuso-me a olhar para o mesmo com os olhos de quem olha para uma divindade. Esse olhar guardo-o para Cristo, se me permitem.

Finalizo com uma crítica construtiva. O Papa é uma figura que merece uma recepção de excelência. Devemos recebê-lo, por isso, com o que de melhor temos, e da melhor maneira possível. Mas parece-me estranho que o Estado assuma tão grande percentagem dos gastos, independentemente dos tempos serem, ou não , de crise. O Papa é uma figura de Estado, fruto de ser o Chefe de Estado do Vaticano, mas vem a Portugal em clara missão religiosa. Logo, creio serem excessivos muitos dos gastos que o Estado português assumiu nesta visita, os quais deviam ser suportados pela Igreja. E a divisão até era simples. Nas acções enquanto chefe de estado (encontros com autoridades portuguesas, por exemplo) deveria ser o Estado a cobrir despesas. Em acções de cariz religioso (missas no Terreiro do Paço, Av. Aliados, deslocações, segurança nesses momentos, por exemplo) deveria ser a Igreja a suportar os mesmos custos. Porque o Estado é laico e não professa qualquer religião. Pelo menos no papel...

Tuesday, May 4, 2010

A Cabeça Vazia

Entretidos. Andamos muito entretidos. Basta um Porto-Benfica e esquecemo-nos logo dos problemas e da crise e da falta de dinheiro e dos submarinos, etc, etc, etc. Andamos demasiado ocupados a tentar perceber se o Benfica é campeão neste ou no próximo fim-de-semana, andamos demasiado ocupados com os PC's, os Mac's, as Playstations, os 'talkshows', o futebol, as novelas, e esquecemo-nos que temos uma vida, uma família, uma cidade, um país e um mundo para criar. 'Eh, Ruben...que gravidade vai para aí!' dirão alguns...será? Estarei assim tão enganado? Não estará na altura de devolvermos o entretenimento ao sítio onde ele merece estar?

Eu adoro entretenimento. Adoro ser entretido. Sim, gosto do Jay Leno e do Conan. Sim, também sou apaixonado pela bola e ninguém me tira o Benfica ou a selecção. Sim, gosto disso tudo e ainda de mais algumas coisas. E é exactamente isso que me está a tirar do sério. Não é o gostar delas, entenda-se, mas é a importância que lhes dou, eu e meio mundo. Afinal, serão as 3 pedras no autocarro do Benfica são mais importantes que o empréstimo à Grécia? Será a próxima piada do Ricardo Araújo Pereira (por muito boa que seja...) mais importante do que descobrir o que se passou com os submarinos? Será o campeonato do mundo mais importante do que o tamanho da dívida externa portuguesa? A resposta é não! Então, porque nos esquecemos tão rapidamente do que é preciso fazer quando estamos entretidos. Porque continuamos a cair no 'Futebol, Fátima e Fado'? Porquê?

Isto do excesso de importância do entretenimento é fácil de explicar. Estamos tão embrenhados nos problemas do dia-a-dia, que a última coisa que queremos é pensar nos problemas dos outros e do próprio país quando chegamos a casa. O problema 1 disto é que nos limitamos a empurrar os problemas com a barriga enquanto assim for. O problema 2 é que lá se vai a participação cívica e a contribuição activa para mudar o actual estado de coisas. O problema 3 chama-se ópio e deriva do estado de euforia generalizada em que muitas vezes se vive durante determinados períodos de tempo. É o que acontecerá no Mundial. Durante um mês vai parecer que não temos problemas. Afinal, estamos ali, no meio dos melhores do mundo. Ricardo Araújo Pereira dizia que 'se o Governo prometesse que o Benfica seria campeão, desde que eu andasse descalço por cima de vidros, então nem pensava duas vezes...venham de lá esses vidros!'

A cabeça vazia é o objectivo do entretenimento. O mesmo tem substituído a instrução e a valorização cultural do indivíduo. É possível aprender-se no entretenimento, mas não é a mesma coisa. Há que devolver o equilíbrio a tudo isto. Eu quero ser entretido. Sabe-me bem e ajuda a não entrar em paranóia. Mas eu também preciso de me alimentar culturalmente e não apenas ser um burro entretido. Porque, se não pusermos 'a pau', é para aí que caminhamos...

Thursday, April 29, 2010

Pedem-se soluções

Mais do que procurar, pedem-se soluções! Ao longo destas últimas semanas fui escrevendo e falando (no '3 minutos da UCB Portugal) sobre os defeitos e as qualidades do povo deste país à beira-mar plantado. Muita coisa poderia ter escrito mais, mas decidi cingir-me ao essencial, na minha singela e modesta opinião. Mas a crise, a cujo agravameto temos assistido nos últimos dias, pede que se tomem medidas, que se encontrem soluções, que haja o contributo de todos. Que medidas? Que soluções? Tentemos encontrá-las, então...

Solução 1 - A verdade.

Há que ser verdadeiro. Chega de promessas vãs e pouco claras. É preciso que saibamos o quão funda vai esta crise. É preciso que a nossa preocupação nãos esteja nas TVI's ou nos Rui Pedro Rocha's ou nos Paulo Penedos desta vida. A nossa concentração deve estar centrada em saber como vai verdadeiramente este país. Quanto devemos, de quanto precisamos, o que é necessário fazer, quais os sacrifícios. É clareza neste discurso que é necessária. A primeira forma de sair de um problema é reconhecê-lo e avançar na sua direcção para o resolver. E para isso é preciso ver o problema sem nevoeiro, sem filtros nem distorções da realidade. É preciso vê-lo com olhos seriamente orientados e sem pré-concepções. É preciso ver a verdade...

Solução 2 - Colaboração

Ontem foi dado um bom passo. Gostei de Passos Coelho quando disse que o maior partido da oposição estava ali para ajudar a encontrar soluções, e quando garatiu que não contassem com o seu partido para uma crise política. É precisa colaboração, disponibilidade para fazer em conjunto aquilo que, separados, teremos muito mais dificuldade em alcançar. São precisos cortes? Comecemos pela classe política, cortando nas despesas supérfluas massivas que ocorrem na administraçao central! É precisa colaboração de todos? Então que comecemos pela classe política, que em vez e apontar problemas, deve começar a apontar soluções! É preciso mais esforço? Comecemos então todos nós a dar o exemplo, concentrando os nossos esforços em comportamentos que ajudem o nosso país, consumindo produtos nacionais, gastando menos em bens de necessidade duvidosa, e ajudando quem mais precisa de forma activa e regular. É precisa a colaboração de todos! E todos significa todos mesmo!

Solução 3 - Olhar para lá da nuvem

A nuvem é densa e a tendência é focarmo-nos dela. É preciso olhar para lá da nuvem, para lá dos problemas, para lá das dificuldades. É preciso olhar, planear, pensar como pdoeremos sair e o como podemos sair daqui. É altura de, tal como J.F.Kennedy afirmou nos anos 60, perguntar ao nosso país o que podemos fazer por ele, em vez de perguntarmoso que pode ele fazer por nós. É tempo de sermos rigorosos para com quem vive na base da desnestidade e da mentira. É tempo de dar a quem precisa e tirar a quem vive em preguiça. É preciso olhar o futuro, não apenas a nuvem, mas o futuro brilhante e radioso que nos espera...

Solução 4 - Um espírito de Inter Milão

Esta semana o Inter jogou no campo do Barcelona. Basicamente, e trocando isto por miúdos, o Barcelona é uma equipa magnífica, talvez a melhor do mundo. O Inter treinado por Mourinho, sabia que tinha pela frente uma tarefa hercúlea, e montou uma estratégia para ultrapassar o seu adversário. Viu-se confrontado com a lesão de um dos seus melhores jogadores no aquecimento. Viu-se confrontado com a expulsão de um seu jogador ainda antes da meia-hora. Decidiu jogar feio e sem grande magia. Sem floreados nem coisinhas bonitas. E passou à final! É altura de deixarmos para trás os floreados, as bonitas coisas como estádios, estradas e aeroportos, tudo coisas muito charmosas e megalómanas. É preciso jogarmos feio em direcção aos resultados de que precisamos, ficarmos cientes de que temos um objectivo pela frente, que é levantar o nosso país do marasmo em que se encontra e devolver-lhe uma esperança que parece estar perdida. É preciso compreendermos que vão ter de ser tomadas decisões pouco belas, mas indispensáveis se queremos existir daqui a 10, 20 ou 50 anos. É preciso jogar à Inter. Bonito? Que interessa o bonito se não existirmos daqui a 10 anos?

Wednesday, April 21, 2010

O Mariquismo Cristão

Nota prévia: As expressões 'mariquismo' e 'mariquinhas', utilizadas várias vezes neste artigo, não têm por base qualquer referência a questões de orientação sexual. As mesmas são utilizadas num contexto que evoca a linguagem infantil, designando uma acção que deixa de ser feita por medo das consequências imediatas ou posteriores.

Somos uns mariquinhas. Pé de salsa, acrescentaria nos meus tempos de escola. Não aguentamos nada, somos incapazes de lidar com a decepção, pensamos que tudo se faz em 21, 6 e até em 3 passos, e esquecemo-nos que a graça da vida está na jornada e não no alcançar dos objectivos. Se os pudéssemos alcançar assim, de mão beijada, deixariam de ter todo o seu sabor. Mas não, continuamos e estamos cada vez piores na nossa intolerância ao fracasso, à dor e à desilusão. Volto a afirmá-lo: estamos feitos uns mariquinhas...

‘Ai, Rúben, estás tão azedo!’ Não, não estou. Estou até bastante bem-disposto. Mas começa a causar-me urticária extrema este mariquismo. Dei por mim um dia destes a perguntar-me a mim mesmo: ‘estás um bocadinho maricas, a queixares-te de tudo e de nada, não estás?’ E a resposta foi um sim. Oh meu Deus! Também tu, Rúben?!?! É verdade, ou era porque tinha muito trabalho, ou porque tinha pouco tempo livre, ou porque isto ou porque aquilo. ‘Vamos lá parar com isto!’ pensei eu. Afinal, quero ou não quero crescer? Afinal, quero ou não quero fazer coisas maiores que eu próprio? Afinal, aceitei ou não entregar-me a uma causa de coração, independentemente do preço a pagar?

A maior parte de nós precisa de trabalhar a sua capacidade de sofrimento e aprender a carregar os diversos pesos que a vida nos vai colocando aos ombros aqui e ali. Temos de deixar de ser crianças que choram desesperadamente à primeira queda e joelho esfolado, e temos de ser mais duros, mais, desculpem a expressão, homenzinhos. Capazes de suportar tempos de abundância e de falta, tempos de sol e de chuva, tempos de vitória e tempos de tremenda dificuldade.

Não se esqueçam que, para a maior parte de nós, já lá vai a fase de meninice relativamente à vida. Já sabemos que nem sempre teremos sacos de algodão para transportar, e que muitas vezes teremos de transportar gigantescas barras de aço durante períodos de tempo bem razoáveis. É estranho quando os mesmos desafios nos colocam os mesmo problemas. Era suposto crescermos com eles, e não apenas encararmos os mesmos desafios continuamente. É essa fase de meninice mariquinhas que precisamos de ultrapassar. É verdade que as quedas esfolam os joelhos, os cotovelos, às vezes até partimos a cabeça ou algum osso, mas nada disso deixa de ter remédio. Há que levantar a cabeça, levantar o corpo do chão, levantar a moral das tropas, e prosseguir, prosseguir em direcção ao rumo. É verdade que as recuperações muitas vezes diferem do tamanho da queda e das repercussões da mesma, mas ficar sentado no chão a chorar pelo braço partido não o vai curar.

A minha pergunta é: e se Jesus se tivesse regido pelas nossas típicas acções ‘mariquinhas’?

Muito provavelmente, quando confrontado com a mágoa, que é das primeiras atitudes de ‘mariquinhas’ que revelamos, Ele teria fugido aquando da entrada triunfal em Jerusalém, dizendo alguma coisa como: ‘então vocês que estão aqui tão contentes comigo, a saudar-me triunfalmente, são os mesmos que me vão crucificar daqui a uma semana? Epá, então desculpem lá mas a vossa atitude magoa-me de sobremaneira. É por isso que renuncio à minha qualidade de Salvador do mundo, devido à muita dor que me causaram a hipocrisia dos habitantes de Jerusalém.’ Muitas vezes agarramo-nos à mágoa que outros nos causaram, às más atitudes de x ou y. Não me vou agarrar ao argumento de que todos nós magoamos alguém durante a nossa vida, embora ele seja verdade. Mas vale a pena pensar no que Jesus fez, apesar da atitude hipócrita daquela gente. Será que Jesus não estava magoado com a situação? Certamente...mas os mesmos que o saudaram vitoriosamente, que eram os mesmos que o crucificaram uma semana depois, esses mesmos que o magoaram, foram também os mesmos a quem Jesus trouxe a possibilidade de perdão e arrependimento. Jesus não refugiou na sua mágoa profunda para com aquela gente, nem sequer lhe dedicou grane atenção. Limitou-se a relatar o que haveria de acontecer, nada mais. Não havia mágoa que o parasse, ele sabia que estava prestes a escrever história!

E se Jesus tivesse feito aquilo que muitas vezes fazemos, usar o argumento do peso excessivo? O ‘isto é demasiado pesado’ ou o ‘eu não aguento’. Só um aparte para dizer que há, de facto, momentos em que isso é verdade. Mas já repararam que, quem sua esse tipo de argumento, usa-o numa base constante? Estão sempre ‘cheios de trabalho, estão sempre cheios de dificuldade em gerir porque é tudo em demasia. Jesus passou por um momento, apenas um momento similar: pediu a Deus para ‘afastar de mim este cálice’. Jesus sabia que aquilo era demasiado pesado e que implicava grande sofrimento. Mas ele estava disposto a ir ate ao fim, como se viu no que resta da História. Será que ele não poderia, depois de ter pedido a Deus para afastar toda aquela dor, ter dito algo como: ‘Oh Deus, desculpa lá, mas isto é demasiado duro. Conta comigo para pregar em tudo quanto é sítio, ir aqui e acolá, fazer discípulos, deixar a cabeça dos fariseus em água, epá mas para ser crucificado como se fosse um criminoso, isso não! O que quiseres menos isso, porque eu não aguento!’ Apesar de tudo, Ele aguentou até ao fim. Ele sabia que era uma situação passageira, cujos proveitos seriam muito maiores que o seu esforço, que, embora sobre humano, era apenas momentâneo. E foi com os olhos postos num futuro radioso que Ele se predispôs a tudo isto...

Talvez falte aqui a cobardia. O seu contrário, a valentia, não a considero a ausência de medo, mas sim o avançar apesar do mesmo. A cobardia é olhar demasiado para o medo e de menos para o que o futuro nos reserva. Coisas novas implicam processos novos, caminhos desconhecidos, e problemas nunca antes solucionados. Mas será esta conjugação de factores que nos levará a lugares nunca antes alcançados. Se Jesus tivesse tido medo do desconhecido, hoje seríamos gente perdida no meio do falhanço do plano divino, vergados ao peso do mal e da culpa. Se Jesus se tivesse vergado perante o peso da cobardia, não teríamos visto a mudança da História que ainda hoje pode ser feita na vida de cada um. Se Jesus não tivesse avançado no meio do escuro desconhecido, hoje não teríamos a possibilidade de vermos este resultado: vidas transformada diariamente por um Deus pessoal, amoroso, gracioso e que está à disposição de todos aqueles que o quiserem receber.

Friday, April 16, 2010

O que é nosso...

Estranha mania a dos portugueses de desvalorizar o que é nosso. A nossa música é sempre a mais pirosa, os nossos políticos são sempre os mais horríveis e porcos corruptos, a nossa selecção devia jogar sempre mais, mesmo que tenha dado 5-0 ao Brasil...nunca estamos satisfeitos! 'Oh insaciável povo este', diria Camões da alto da sua pala de sapiência. Eu diria que é uma terrível insegurança que nos leva a este ponto...mas insegurança relativa a quê?

Somos inseguros quanto à nossa história - Síndrome da Ignorância Adquirida

Um povo que não sabe de onde veio, dificlmente saberá para onde ir. Temos uma história rica mas infelizmente pouco valorizada. É claro que o nosso olhar não deve estar lá atrás, mas também há limites para tudo...Infante D.Henrique Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Luiz Vaz de Camões, são nome dos quais devemos saber a história de trás para a frente. Raios! Triste país em que as referência se chamam José Mourinho e Cristiano Ronaldo (com todo o respeito que me merecem...). Triste país em que há feriados religiosos por tudo e por nada e em que só há um feriado dedicado a uma figura da história portuguesa! Triste país que ignora de onde vem, porque isso é sinal que ignora para onde vai...

Somos inseguros quanto ao presente - Síndrome Velho do Restelo

Aqueles que ainda conhecem a História de Portugal sabem-no, mas talvez não consigam sempre enquadrar da melhor maneira (eu próprio a maior parte das vezes esqueço-me dele...). Falo da história do velho do restelo, imortalizado na expressão popular similar que define o pessimista exacerbado, aquele para quem o fim do mundo está mesmo aí há esquina há, pelo menos, 50 anos. Esquecemo-nos que essa figura pontua aquilo que é mais comum nos portugueses: a figura que rejeita o que é novo, a figura que não assume riscos, a figura que inflama meia dúzia de iluminados e os leva a rejeitar liminarmente qualquer ideia que venha romper com o pré-estabelecido. Para o velho do restelo o mundo era plano, e aqueles burros, em quem o Reino tinha gasto tanto dinheiro, iam morrer, porque iam cair na borda do mundo. Ainda hoje há uns quantos iluminados que continuam a dizer que devemo-nos manter tal como estamos, sem riscos, aqui fechadinhos na nossa casa. Relembremo-nos que Portugal foi grande quando se abriu ao mundo. Se calhar está na hora putra vez...

Somos inseguros nos conflitos - Síndrome de Pequenez

Algures no tempo perdemos aquele espírito de padeira de Aljubarrota que nos trouxe até aqui e nos fez despachar castelhanos à velocidade da luz. É óbvio que o tom é de brincadeira, mas não o conteúdo. Portugal tornou-se um país de extremo politicamente correcto. Evitamos o confronto, o conflito. Muitos entendidos dizem que isso deve-se ao facto de sermos um país estável em termos de conflitos bélicos há muitos e muitos anos. Talvez seja. Mas precisamos de recuperar esse espírito 'padeira de Aljubarrota'! Precisamos de perder o medo de ir à guerra, de meter o pé, precisamos de deixar de ser o pequenino bem comportado. É essa pequenez estampada na tentativa de fazer tudo muito bem feitinho que nos tem causado tantos problemas e nos tem afundado cada vez mais no fundo dos fundos dos fundos da relevância a nível mundial.

Significa isto que estamos feitos? Não, porque muitas outras coisas temos de extraordinário...falamos disso depois, ok?

Wednesday, April 14, 2010

A vã glória de corrigir sendo corrigido

Titulo estranho e poético. Eu sei, foi essa a ideia. Ao mesmo tempo que fiz um título engraçado, consegi que ele tivesse sentido, isto tendo em conta aquilo que vou escrever a seguir...nada mau, nada mau, mesmo!

Nenhum de nós pode dar-se ao luxo de dizer que não precisa de ser corrigido. Mesmo orgulhosos, sabemos lá no fundo que temos que mudar uma ou outra coisa (mas alguns dizem logo 'não mais do que isso!) para que a nossa vida seja maior e para que o nosso futuro seja mais risonho. Ao mesmo tempo, a correcção é das coisas com que lidamos pior. Não seria estranho se a correcção não fosse o que é na realidade: a aceitação do que fizemos ou somos de menos bom, e o assumir como irremediável uma coisa chamada mudança...ouch!

Há que perceber que somos uma contante mutação, e que quem pára não morre, é um facto, mas torna-se um mero peão, sem infuência, sem capacidade de adaptação. sem capacidade de sobrevivênca no médio/longo prazo. É a aceitação da correcção e a consequente mudança que nos torna capazes de nos melhorarmos a nós próprios, regenerando a nossa maneira de pensar, de agir, de ver, de viver. Em suma, diz-me o quanto és capaz de ser corrigido, e eu dir-te-ei quão longe chegarás...

Há que encontrar o equilíbrio fundamental entre a firmeza e mudança. Muitos confundem a segunda com incapacidade de ser firmes numa determinada decisão. Costumo dizer que, se me provarem por a+b que a opção que me apresentam é melhor que a minha, então só se for burro é que não a levo em consideração. Por outro lado, mudar de decisão sem estar certo de que se muda para melhor, é, isso sim, falta de firmeza. Esta capacidade de reconhecer nos outros as ideias melhores que as nossas é das melhores coisas de um líder. É ele que decide, sim. Mas nada como termos uma liderança que decide o melhor, não olhando à(s)cara(s) ou ao(s) nome(s) por detrás de determinada ideia.

Precisamos de ser mais inteligentes perante a correcção. Afinal, se for justa, ela vem para nosso bem e crescimento. Vem para que mudemos o nosso interior e as nossas acções para melhor. Só alguém muito inseguro é capaz de ver na correcção uma punição ou um castigo. Até o pode parecer à primeira vista. Mas se olharmos para lá do nevoeiro, obteremos, como sempre que vemos as coisas dessa maneira, a imagem fiel do que ela representa: uma oportunidade de crescimento e mudança para um futuro melhor e mais brilhante.

Quem corrige ama, e quem ama corrige, é uma frase que tem grande fundo de verdade. Mal de alguém que me seja próximo quando eu me torno indiferente aos seus erros, é sinal de indiferença. E sabem qual o contrário desse tal senhor que corrige? Pois, é isso mesmo...

Tuesday, April 6, 2010

As voltas do criativo

Não importam as voltas que damos. Não importa todo o trabalho em que estamos embrenhados, nem toda a bulícia do dia-a-dia. Não importa o quanto estamos ocupados, ou o quanto andamos cansados, ou o quanto queremos compor ou desenhar ou criar. O que importa é que recebemos uma chamada. E é da nossa casa! Quer que regressemos àquilo que realmente interessa...

E o que interessa realmente? É o porquê. Quando perdermos a noção do porquê, perderemos tudo, porque sem o porquê, nada faz sentido. É demasiado fácil perdermos o porquê, a razão, o centro das coisas. O deslumbramento talvez seja o culpado, embora também seja fácil culpar o excessivo trabalho. Mas não, é o deslumbramento que se assume como o principal responsável pela perda da identidade central e fulcral do papel do criativo...porquê?

Porque no dia em que criarmos algo do 'nosso tamanho', perdemos a magia da criatividade, do criar. A ambição de todo o criativo, é criar algo maior que ele próprio, que perdure, seja uma música, um filme ou uma obra de arte de outra estirpe. É essa a maior e mais bela ambição do criativo. E isso obriga-nos a procurar uma 'musa' maior do que nós mesmos, um ponto de inspiração que nos ultrapasse, e que permita que a criação seja maior e mais bela que o criador. Ora, só é possível tal desígnio se a nossa 'musa' for a fonte suprema de inspiração, infinito quer no flow in, quer no flow out, e que constantemente nos desafia e ultrapassa os limites da nossa imaginação, do nosso pensamento criativo. E por mais que tente dar voltas para encontrar a melhor e mais completa musa, eis que dou por mim a regressar ao mesmo ponto de inspiração...

Porque no dia em que formos incapazes de reflectir a essência da criatividade, seremos incapazes de criar. E o que é a essência da criatividade? Despirmo-nos do que já existe e reinventarmos aquilo que pensávamos já estar inventado. Parece difícil, e é-o, na realidade. Temos de nos desformatar daquilo que já há está formado na nossa cabeça, sob pena de sempre voltarmos à mesma forma. E sé é suposto voltarmos à mesma musa, é contra o voltarmos à mesma forma que os criativos lutam dia após dia. Há que desligar do como foi feito ontem, e do como é feito hoje, ser criativo é fazer a ligação com o como será feito amanhã. É reencontrar esta essência da criatividade, que nos faz desesperar por moldar o futuro. Isso é criatividade! É desfazer, desformatar, desmontar, para que seja possível criar, construir, consubstanciar o que ainda não foi feito...

Porque criar é trazer o futuro para hoje. É isso que criamos, o futuro. É pegar naquilo que gostaríamos que fosse feito amanhã, e fazê-lo hoje, de uma maneira que nunca o mundo pôde antes ver. Isso é criatividade, mesmo que nos tentem enganar tantas vezes, oferecendo-nos vinho velho em odres novos. Os odres são bonitos, mas o conteúdo deles é o mesmo, vinho velho. A realidade é que as pessoas estão fartas do vinho que beberam ontem, elas querem um vinho novo, de aroma e gosto suave, mas intenso, que lhes provoque emoções, sensações, e não a indiferença do costume. É isso que é a criatividade, é tratar do odre e do vinho, é dar beleza, mas também dar conteúdo, é trazer o vinho bom para a frente. E por isso o criativo não é mais do que aquele que pinta de futuro o presente.

Porque criar é ver com outros olhos, com outros óculos, ver o que poucos viram, ou o que muitos acharam inexequível. É ver para lá da névoa e da dúvida, e vislumbrar uma beleza nunca antes vista. É conseguir ver mais do que apenas o imediato, as dificuldades, as impossibilidades, e projectar, numa tela por vezes baça, uma imagem que vai para lá da mesma tela, e que consegue captar a essência do que há de vir. É por isso que não raras vezes quem cria é incompreendido, é-o porque vê o que mais ninguém vê, e isso é considerado louco. Cria aquilo que vê para lá do nevoeiro.

Porque sem voltar ao centro, à forma, à 'musa' inicial, tudo isto que escrevi há-de desvanecer-se. Porque até hoje ainda só conheci uma pessoa, capaz de ir para lá do razoável e do imaginável, só conheci uma pessoa que consegue ver todo o mundo com outros olhos, só conheci uma pessoa capaz de trazer constantemente o futuro para hoje, convidando-nos a entrar nele dia após dia, após dia, após dia. Amigos criativos, é exactamente para Ele que devemos voltar...

Friday, March 12, 2010

I'm a Rock Star, Baby!

Rock Star é um conceito na moda há décadas. É um conceito ilusório de estrelato, realização e glamour difícil de explicar. Um conceito perseguido por milhares, apesar das histórias trágico-glamorosas que pontuam as estrelas que conhecemos. A realidade é que a maior parte de nós vive com a ilusão de um dia atingir esse conceito de imortalidade que caracteriza o estrelato. Uma imortalidade que nos leva a vivermos para lá da nossa existência terrena, mas que também nos leva a um sítio onde a nossa própria vivência terrestre se torna quase que intocável - ninguém nos 'toca', ninguém consegue chegar até nós. O porquê disto é uma pergunta a que poucos conseguiriam responder. Fama, dinheiro, sexo ou exposição mediática poderiam ser razões aparentes, mas não estou convencido que sejam a explicação de tudo. Por isso, entremos no mundo rock star...


Que desejo secreto é este?

Em primeiro lugar é um desejo de reconhecimento. Faz parte da nossa natureza. Nós, seres humanos, lutamos para sermos reconhecidos naquilo que fazemos, atingimos o ponto máximo da nossa existência quando alguém nos aponta como 'bons, excelentes, ou fantásticos' a fazer isto ou aquilo. O homem é um animal que precisa de reconhecimento, e precisa dele como se de pão para a boca se tratasse. Se eu faço x, então espero o reconhecimento y. Se eu faço bem, espero que haja reconhecimento nisso, e se for reconhecimento público, tanto melhor. E isso leva-nos ao segundo ponto...


É o nosso desejo de sermos superiores que vem ao de cima. Ao sermos reconhecidos publicamente, estamos a ser elevados sobre alguém, estamos a ser colocados em posição superior a a, b ou c. E isso faz-nos sentir tão bem...faz-nos sentir tão superiores. E vicia-nos. Após sermos reconhecidos publicamente, passamos a esperar secretamente que, sempre que há um reconhecimento, ele seja direccionado a nós, mesmo que até saibamos que houve quem fizesse mais que nós. Estranho? Nem por isso...


E a estranheza disto dilui-se numa simples razão: nós somos competitivos! Por mais que neguemos esse facto, só estamos bem em competição. Pela melhor piada, pelo melhor carro, pela melhor casa, pelo melhor emprego, pelo melhor ordenado. E pensamos que quem não pensa assim deve ser atrasado ou coisa que o valha! Gostamos de competição. Mais! Nós precisamos de competição! É por isso que produzimos mais e melhor quando temos quem esteja a fazer o mesmo trabalho. É o desejo secreto de batermos o nosso concorrente a trabalhar...


E a culpa talvez seja das luzes, essas marotas que nos fazem pensar que somos mais importantes do que o que somos na realidade, essas luzes que nos enganam e fazem de nós as rock stars que nunca fomos. E é essa ambição descarada de nos tornamos imortais, não no que fazemos, mas no nosso nome, que nos impele de forma tão gananciosa a procurar tal desiderato. Que fique claro: cada um de nós deve deixar uma marca que perdure, pelo bem, para lá da nossa vida. Mas que o que perdure seja a nossa obra e não o nosso nome. Se este perdurar no tempo, então que seja pela nossa obra, nada mais. Não deixemos que a 'bebedeira' de luzes nos encha o ego, sob pena de a 'ressaca' da nossa pseudo exposição (que, na maior parte das vezes, é irrelevante, convenhamos...) seja terrívelmente dolorosa.


E a culpa é (deixemos o talvez de lado) dessa ideia miticamente mística de que quanto mais inatingíveis estivermos, melhores somos, de que quanto menos do 'povo', mais importantes nos tornamos. Au contraire. Quanto mais próximos, chegados e dados às pessoas estivermos, mais perto dos seus problemas, anseios e motivações estaremos. Quanto mais próximos, chegados e dados às pessoas estivermos, mais próximos estaremos da solução. E todos sabemos que o mundo anda à procura de solução desde que se inventou. 

Por isso, políticos, líderes, responsáveis, chefes e afins...próximos das 'gentes', do 'povo', das pessoas...ok?

Friday, February 12, 2010

Mais Que Música 2010! Muito boas notícias...

Monday, February 1, 2010

Os cristianizadores morais compulsivos

É bonito e quase comovente. Reproduzem-se como se não houvesse amanhã. São o contrário da gente relevante acerca da qual ainda ontem falou o meu ‘patrão’ e amigo Mário Rui Boto. Chamar-lhes cristãos é elogioso, atendendo à sua conduta de comportamento. Não, não estou a falar dos homicidas, nem dos homossexuais, nem dos ateus. Estou a falar de uma raça crescente e assustadora. Há quem lhes chame fariseus. Há quem lhes chame moralizadores. Há quem lhes chame falsos. Há quem diga que são necessários. Eu prefiro chamar-lhes os cristianizadores morais compulsivos da sociedade.

Especialistas na análise de tudo o que se passa à volta, sabem ler e compreender todas as atitudes dos outros, fazendo sempre a sua crítica ‘construtiva’, fruto de uma leitura cristã ‘séria e independente’. Vêem tudo e todos como ninguém, lendo todos os sinais de decadência moral em que este mundo está a entrar. São particularmente especialistas nas questões morais do indivíduo, comentando cada acção menos feliz com uma superiodade própria de alguém a quem a santidade assenta que nem uma luva. Tudo é vergonha. Tudo é desgraça. Tudo é decadência moral. Nada é óptimo. Caminhamos decisivamente para o maior dos males.

Estes moralizadores gostam especialmente de sangue. Tudo o que soe a queda, tudo o que soe a erro crasso de alguém, tudo o que soe a ‘derramamento de sangue’ (sempre ‘espiritualmente falando’) tem a sua atenção e a sua intervenção. Comparo-as àquela malta que aparece nos acidentes de viação, aqueles grandes. Há pessoas a morrer ali naquela altura, mas a sua preocupação está virada para quem teve a culpa, quem errou, quem falhou, como se os paramédicos tivessem isso em consideração aquando do tratamento dos feridos.

Estes moralizadores tendem a transformar a igreja em não, tendem a levar a igreja para um ponto de isolamento da sociedade, porque consideram a mesma demasiado impura para poder albergar a mesma. Estes moralizadores apenas se contentam quando a igreja se torna um clube de seres moralmente superiores, deslocados da sociedade por evidente capacidade superior. O seu sonho é quase o mesma da maçonaria: um circuito fechado e iluminado de gente acima de toda a suspeita. Uau!

É tempo de aqueles que são cristãos (seguidores de Cristo) se levantarem, não contra estes moralizadores, mas a favor de uma sociedade que precisa do Evangelho hoje mais do que ontem, e amanhã mais do que hoje. A última coisa de que precisamos é de quem aponta os problemas, as falhas, os erros. Precisamos de mãos que levantem a mulher adúltera, precisamos de palavra para falar com a mulher samaritana, precisamos de braços que abracem o filho pródigo, precisamos da atenção do bom samaritano para com o próximo. Não precisamos de quem diga que eles estão mal. Disso eles sabem. Todos sabem. Do que precisamos é de mais de Cristo e menos desta amálgama pseudo-moralizadora em que muito querem tornar a Igreja.

Monday, January 25, 2010

São três dias

‘São só três dias, senhor!’, exclamava aquele homem, num tom esbaforido e quase sem fôlego. Eu olhava para ele e pensava no quão irreal era aquela previsão. Afinal, quais seriam as hipóteses de, daqui a três dias, tal acontecimento de dimensão superior, acontecer? Poucas, pensava eu, mas o homem teimava, ‘três dias, senhor, três dias! Espere só mais três dias…’
Eu continuava a pensar que três dias era muito tempo. Tudo o que ultrapassa as três horas causa-me logo náuseas, quanto mais três dias. Raios! E logo agora que estava tudo tão bem encaminhado. Disse-lhe um ‘já volto’ frio e evasivo, na esperança de que ele próprio se deixasse daquela gritaria e daquela ideia. Tinha mais que fazer (frase que norteia toda a minha vida) e aquilo já se inseria no que eu habitualmente designaria de ‘palhaçada’.
Esperar três dias por uma coisa que nem sei se viria a acontecer, nem que hipotéticos resultados teria? ‘Não, nem pensar’, era o que me passava pela cabeça. Afinal, 'tenho dinheiro, estou bem na vida, gosto de tudo JÁ, e esperar nunca foi o meu forte. A minha assitente já sabe como é. É tudo hoje, agora, e às vezes, ontem! Não tenho tempo, nem paciência, nem quero esperar nem um, nem dois, quanto mais três dias! Isto comigo é tudo a andar e sem paragens, é a aviar cartucho’ pensava eu, como que a relembrar-me a mim mesmo como funciono.
Estava eu no meio do meu brainstorming de auto-elevação, quando um pequeno calafrio, pequeno mesmo, me passou pela área a que carinhosamente chamamos ‘espinha’. Corrente de ar? Ar condicionado? Olhei à volta e nada disso. Já sabia o que era. E quase que me chateei com isso. Era ‘aquela’ sensação que me ia obrigar a ir contra o que tinha acabado de pensar, a seguir o chamado ‘feeling’. ‘Raios!’ exclamei, como se estivesse destinado e automaticamente obrigado a ler e a cumprir aquilo que o tal de ‘feeling’ me tinha designado.
Virei a esquina e lá estava o tal homem. Antes que aquela cantilena começasse outra vez (o facto de eu lhe dar os três dias não significava que eu o quisesse ouvir de novo…) levantei o braço direito no ar, num sinal de ‘pare’, e avancei para ele, decidido e seguro. ‘Três dias, nem mais um’, disse-lhe eu com aquela voz de mau que tão bem sei fazer, ‘nem mais um’. O homem disse-me, então, um feliz mas tímido ‘não se vai arrepender, senhor’ que eu só dias depois compreenderia.
Mal sabia eu que, aos três dias, a minha vida iria mudar. Para sempre…

Thursday, January 21, 2010

Reescrevendo 'Os que da lei da morte se libertam'

Reescrevo porque repensei e reflecti.

O post 'Os que da lei da morte se libertam' foi escrito tendo como ponto de partida o falecimento da minha avô Luísa. Alguns saberão que ela passou os últimos 28 anos num estado provocado por acidente grave de viação, que a atirou para uma cadeira de rodas, ao mesmo tempo que toldou boa parte das suas capacidade mentais. Com base nisso escrevi (e pensei!) que a grande mágoa que teria era de não a poder ter conhecido verdadeiramente, antes desse acidente. Mas hoje escrevo diferente, e passo a explicar porquê.

Desde miúdo que me habituei a ouvir relatos da vida da minha avóantes do acidente, contados por gente que ela conhecia, amava ou, de alguma outra forma, influenciou. Ouvi n relatos diferentes, de gente diferente, que conviveu com ela em momentos diferentes. Todos esses relatos convergem num ponto-chave comum. A minha avó amava as pessoas, amava estar com elas, preocupava-se com elas e queria estar no meio delas. Ajudava, acompanhava, aconselhava, dava a mão, levantava, mobilizava. Tinha tempo para a Igreja, para a família, e para as pessoas, nunca descurando nenhuma destas áreas.

É por isso que eu reescrevo. Guardei da minha avó uma coisa simples, mas de importância incalculável. O amor pelas pessoas. O interesse pelas pessoas. O foco nas pessoas. As pessoas é o que de mais importante há neste mundo. Cristo veio pelas pessoas. E eu gostaria de também ser reconhecido por essa característica. E é por isso que reescrevo. Porque, sem que provavelmente ela tenha tido consciência disto, a minha avó ensinou-me o quão importantes são as pessoas. Sem elas, nem correrias, nem edifícios, nem projectos, nem reuniões importam. Importam, isso sim, as pessoas. E é por elas que sigo o exemplo da avó que eu não conheci, mas da qual ouvi falar. Porque as tuas obras continuaram e continuarão a falar mesmo depois da tua morte...

Tuesday, January 19, 2010

Os que da lei da morte se libertam

Sobre aqueles que 'se vão da lei da morte libertando’, escreveu Camões, até talvez pouco confiante na grandiosa verdade que acabara de escrever. Olhar para a morte como o derradeiro lugar de oportunidade, pode ser estranho, mas talvez não seja assim tão incorrecto. Mas não é uma dissertação sobre a morte que me traz aqui. É uma dissertação sobre a vida…

Quando perdemos alguém, por muito difícil que nos seja encarar tal facto, guardamos as recordações e os momentos que nos marcaram de alguma forma. Podemos dizer que a força da recordação é a força que mantém determinadas pessoas ‘vivas’ em cada um de nós. Eu próprio já o escrevi. São essas pequenas lembranças que nos engancham à memória deste ou daquele momento, desta ou daquela pessoa, deste ou daquele dia. É tal como acontece com o povo. Se estudarmos Relações Internacionais (e todas as suas ‘afiliadas’) aprendemos que só há povo quando há memória colectiva. Histórias, dias, sucesso, vitórias, derrotas e fracassos comuns, celebrados e chorados em conjunto. Aplicando isto ao indivíduo, diria que uma das piores tragédias do ser humano seria a de perder a capacidade de guardar as suas memórias, quer as boas (por razões óbvias), quer as más (porque nos ajudam a lembrar o quão boas são as boas).

A modernidade tem-se esforçado por deixar de viver amarrada ao passado. E tem-no feito bem. Mas não pode cair no erro de esquecer a sua memória. Nem revivalistas, nem desconhecedores do passado. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Sejamos equilibrados, porque sem este equilíbrio, perderemos grande parte daquilo que somos. Há que estabelecer a diferença entre revivalismo fundamentalista, que deifica tudo o que é passado, e o apagar da memória colectiva, que nos trouxe até aqui, que fez de nós aquilo que somos, com todos os defeitos e virtudes que isso acarreta.

Talvez me perguntem porque escrevo sobre memória sendo tão novo. Eu explico. 25 anos é a minha idade. Hoje, vi falecer a minha avó Maria Luísa, a quem um acidente grave de viação retirou grande parte das faculdades físicas e mentais que tinha. Esse acidente ocorreu em Outubro de 82. Isto significa que vi partir alguém que, na realidade, nunca conheci. O único gancho que me segura à sua história são as histórias e as narrativas de quem conviveu com ela antes daquele dia. E se perder alguém cuja história nos marca directamente é doloroso, não pensei que lembrar-me que nunca conheci a minha avó, aquela avó dinâmica e cuidadosa, decidida e meiga, pastora e amiga, fosse tão difícil. Faltam-me palavras para expressar o vazio. A pena de não ter como recordar aquilo que a Maria Luísa Barradas foi verdadeiramente. Apenas ouvi falar dela…e isso não me chega…

Não é tarde para ganhar a memória. Vou agarrar no meu avô João (o único vivo agora) e vou escrever um livro com ele. Não é um livro de memórias, mas um livro de sabedoria, da sabedoria que emana de cada vez que ele fala. Quero que todos conheçam o homem que, de cada vez que abre a boca, me ‘mostra’ qualquer coisa nova sobre a Bíblia. E quero ter essa memória…

Tuesday, January 5, 2010

O Fundamentalismo

Ninguém me tira da cabeça que o homem não é um ser democrático. O que torna ainda mais espantoso como é que a democracia conseguiu evoluir (pelo menos no Ocidente) até aquilo que hoje é. Mas o ser humano não é democrático. Isso vê-se pelo seu comportamento, e acima de tudo, pela fraca qualidade que evidencia na hora de aceitar as opiniões divergentes da nossa.

O fundamentalismo é associdado quase que em regime de exclusividade aos muçulmanos extremistas. E isso é tudo menos verdadeiro. Tenho-me dedicado a observar debates, entrevistas, intervenções e um sem número de outros derivados destas, e tenho, invariavelmente, chegado à mesma conclusão: democratas? Só quando é para pôr a cruzinha no boletim…

Hoje de manhã, de forma casual, ouvi o presidente da Opus Gay em entrevista na SIC Notícias. Não concordando com a generalidade dos pontos de vista que defendem, sempre primo por tentar perceber (embora confesse que nem sempre consigo) os pontos de vista em questão. Foi com surpresa e desagrado que ouvi da boca deste senhor, António Serzedelo de seu nome, a destilar disparates odiosos contra tudo o que é contra a legalização dos casamentos entre homossexuais, dizendo que a recolha das 90 mil assinaturas que hoje foi apresentada no Parlamento tinha sido obra de ‘párocos que haviam incentivado os fiéis a assinarem no final das homílias’(uau, grande problema...) e que ‘até os evangelistas tinham feito publicidade a esse facto numa conferência no Algarve’ (nem eu, que estive nessa tal conferência de evangelistas, sabia que a conferência tinha sido assim tão importante para a Opus Gay…). Deixando de lado a ignorância da expressão ‘evangelistas’ (como diria Ricardo Araújo Pereira, já que é para injuriar, ao menos que o façam acertadamente…), espantou-me o tom do discurso e a dureza arrogante do mesmo. Eu sou o primeiro a afirmar que os homossexuais foram, ao longo dos tempos, perseguidos e alvos de injustiças sociais gigantescas. Mas isto só vem confirmar os meus receios: o ser humano só suspira pela democracia quando está na mó de baixo, quando aparece como ‘parte dominante’ rapidamente se esquece dessa mesma democracia.

É deste fundamentalismo que falo e contra o qual me pronuncio. Então de que vale a nosso opinião? É certo que a arma da opinião tem sido mal usada n vezes, por gente que não percebe que a opinião vale a pena quando é para agir. Costumo dizer que não precisamos de alguém que aponte os problemas, porque esses já conhecemos. Precisamos é de quem trabalhe nas soluções. Mas a má utilização da opinião não justifica isto. Será que a minha opinião vale menos ou mais que a de alguém? Será que o meu ponto de visto é melhor ou pior do que um qualquer outro? Será que podemos passar a vida a julgar as pessoas, tendência particularmente óbvia quando os julgados deixam a sua posição e passam a julgadores? Será? Então de que democracia somos nós apoiantes? Slazar, Hitler e Mussolini também se diziam democratas. Em Portugal haviam eleições, com o ‘pequeno’ pormenor de ganahr sempre o mesmo. Hitler ganhou o poder democraticamente, mas no que toca a democracia, ficámos por aí. Porque a grande conquista da democracia não foi a cruz no boletim. A grande conquista da democracia é que eu gtenho direito a ter a minha visão, a minha opinião, e tenho direito a fazer algo por isso. Na democracia, a única coisa que não se deveria admitir é a superioridade de julgamento de pensamento ou de opinião. E eu ainda hei-de ver isso a acontecer…