Conciso e directo. Cumprimos os serviços mínimos. E nada mais. Nem brilhantismo, nem mobilização da nação, nem excepcional superação dos jogadores. Empate com Costa do Marfim e Brasil, vitória a Coreia do Norte (o que era ‘obrigatório’), e derrota com Espanha, ou seja, apenas ganhámos aos ‘menos fortes’ de todos os adversários que defrontámos. Contra quem estava ao nosso nível não conseguimos mais que empates a 0. Parece-me pouco. Mas vamos por partes.
O mundial não está a ser excitante, longe disso. Uma Alemanha que vai roçando o brilhante, uma Argentina que se vai valendo de ter 500 soluções no ataque, um Brasil chato e sensaborão, uma Holanda assim-assim, e pouco mais. Portugal sai deste mundial sem chama nem glória. Ninguém se lembrará de nada da nossa selecção, e é isso que me preocupa. Não fizemos nada que possa vir a ser lembrado, até porque depois dos 7 à Coreia, nos limitamos a 3 zeros contra os restantes adversários, o que é muito pouco para uma equipa que nos habituou a ver o jogo pela positiva (ataque) e a querer vencer o jogo desde o primeiro minuto (o que acontecia na era Scolari...). Desta vez fomos brindados com uma equipa defensiva, sem soluções atacantes, remetida à sua defesa em grande parte do tempo. Era necessário ter sido assim? Não, não era, pelo menos em todo o tempo. Eu sei que a Espanha e o Brasil são-nos superiores (só não vê quem não quer), mas jogar à equipa pequena, naquela táctica de ‘tudo à defesa e depois logo se vê se salta um coelho da cartola’ dificilmente produziria outro resultado. A derrota de ontem foi um bom exemplo. Portugal preparou bem o jogo, e excepção feita aos primeiros 10m, controlámos a Espanha com inteligência. Até àquela substituição do Hugo Almeida. Ao tirar o único ponta-de-lança, Queiróz cometeu dois erros, um táctico, e outro de mensagem. O erro táctico não sou competente para o discutir, mas parece-me óbvio pelo resultado que se seguiu. Mas o erro na mensagem foi o pior. Ao tirar o único ponta-de-lança, passou à sua equipa uma ideia defensiva que não se justificava na altura, e deu aos espanhóis a mensagem de que seriam eles a ter de assumir o jogo, e que nós lá estariamos na expectativa...
E Ronaldo? Vejo-o quase todas as semanas no Real e não parece o mesmo. Explicações? Joga mais atrás do que no clube (devido à táctica portuguesa), a atitude individualista é um facto, e parece-me que o vedetismo atinge na selecção proporções inimagináveis. Quatro jogos e zero Ronaldo foi o resultado CR deste mundial. E se Queiróz tivesse tido a coragem de o substituir? Faltou coragem? Sim, faltou. Mas faltou, acima de tudo, humildade e brilhantismo de Ronaldo.
E Queiróz? Excessivamente defensivo desde o dia da convocatória. Muitos defesas e poucos atacantes. Ontem, de ataque, só tínhamos Liédson no banco...pouco, muito pouco. A convocatória anunciava uma equipa defensiva, de contenção, sem brilhantismo, mas com trabalho. Com Queiróz, a selecção vestiu o fato-macaco, mas despiu o smoking. Ganhou sentido colectivo (excepto Ronaldo), mas perdeu o brilhantismo que a caracteriza. Ganhou segurança defensiva, mas perdeu qualidade atacante. Esperemos que mude no próximo Euro, mas sinceramente, duvido. Queiróz é assim, defensivo, pouco dado a riscos, pouco interessado em assumir o jogo. Não creio que historicamente sejamos capazes de jogar assim. Fomos feitos para jogar para a frente, não em contenção, e sempre que o fizemos não tivemos sucesso. Esperemos que isto mude, e que da próxima, Queiróz nos leve à glória...
Uma palavra a Eduardo. Ganhou o lugar e é o guarda-redes de Portugal, sem dúvida. Excelente mundial, excelente atitude e dignidade na hora de sair. Temos guarda-redes até 2014/2016. Outra a Coentrão. Extraordinário, o melhor atacante português (o que, tendo em conta que foi o lateral-esquerdo, mostra o nível do ataque português...), tirou todas as dúvidas e devorou a clubite de alguns que o desprezavam enquanto defesa-esquerdo. Juntamente com Eduardo, o melhor português. Também palavra a Deco. Despediu-se da selecção com uma teimosia do sr. Queiróz, sem glória nem brilho. Durante 7 anos foi um dos abonos de família da selecção e teve sempre uma atitude digna, mesmo depois de um ou outro exagero. Merecia um final mais bonito. E agora quem o substitui? Palavra final a Raúl Meireles. Ontem esteve uns furos abaixo, mas foi um dos melhores, e mais raçudos da equipa.
Esperamos pelo Euro 2012. Que por essa altura já tenhamos mais opções e sejamos melhores do que fomos desta vez. Assim o espero eu e um país inteiro. E agora voltemos ao país real...