Este Blog...

É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

Sejam bem-vindos!

Monday, January 25, 2010

São três dias

‘São só três dias, senhor!’, exclamava aquele homem, num tom esbaforido e quase sem fôlego. Eu olhava para ele e pensava no quão irreal era aquela previsão. Afinal, quais seriam as hipóteses de, daqui a três dias, tal acontecimento de dimensão superior, acontecer? Poucas, pensava eu, mas o homem teimava, ‘três dias, senhor, três dias! Espere só mais três dias…’
Eu continuava a pensar que três dias era muito tempo. Tudo o que ultrapassa as três horas causa-me logo náuseas, quanto mais três dias. Raios! E logo agora que estava tudo tão bem encaminhado. Disse-lhe um ‘já volto’ frio e evasivo, na esperança de que ele próprio se deixasse daquela gritaria e daquela ideia. Tinha mais que fazer (frase que norteia toda a minha vida) e aquilo já se inseria no que eu habitualmente designaria de ‘palhaçada’.
Esperar três dias por uma coisa que nem sei se viria a acontecer, nem que hipotéticos resultados teria? ‘Não, nem pensar’, era o que me passava pela cabeça. Afinal, 'tenho dinheiro, estou bem na vida, gosto de tudo JÁ, e esperar nunca foi o meu forte. A minha assitente já sabe como é. É tudo hoje, agora, e às vezes, ontem! Não tenho tempo, nem paciência, nem quero esperar nem um, nem dois, quanto mais três dias! Isto comigo é tudo a andar e sem paragens, é a aviar cartucho’ pensava eu, como que a relembrar-me a mim mesmo como funciono.
Estava eu no meio do meu brainstorming de auto-elevação, quando um pequeno calafrio, pequeno mesmo, me passou pela área a que carinhosamente chamamos ‘espinha’. Corrente de ar? Ar condicionado? Olhei à volta e nada disso. Já sabia o que era. E quase que me chateei com isso. Era ‘aquela’ sensação que me ia obrigar a ir contra o que tinha acabado de pensar, a seguir o chamado ‘feeling’. ‘Raios!’ exclamei, como se estivesse destinado e automaticamente obrigado a ler e a cumprir aquilo que o tal de ‘feeling’ me tinha designado.
Virei a esquina e lá estava o tal homem. Antes que aquela cantilena começasse outra vez (o facto de eu lhe dar os três dias não significava que eu o quisesse ouvir de novo…) levantei o braço direito no ar, num sinal de ‘pare’, e avancei para ele, decidido e seguro. ‘Três dias, nem mais um’, disse-lhe eu com aquela voz de mau que tão bem sei fazer, ‘nem mais um’. O homem disse-me, então, um feliz mas tímido ‘não se vai arrepender, senhor’ que eu só dias depois compreenderia.
Mal sabia eu que, aos três dias, a minha vida iria mudar. Para sempre…

Thursday, January 21, 2010

Reescrevendo 'Os que da lei da morte se libertam'

Reescrevo porque repensei e reflecti.

O post 'Os que da lei da morte se libertam' foi escrito tendo como ponto de partida o falecimento da minha avô Luísa. Alguns saberão que ela passou os últimos 28 anos num estado provocado por acidente grave de viação, que a atirou para uma cadeira de rodas, ao mesmo tempo que toldou boa parte das suas capacidade mentais. Com base nisso escrevi (e pensei!) que a grande mágoa que teria era de não a poder ter conhecido verdadeiramente, antes desse acidente. Mas hoje escrevo diferente, e passo a explicar porquê.

Desde miúdo que me habituei a ouvir relatos da vida da minha avóantes do acidente, contados por gente que ela conhecia, amava ou, de alguma outra forma, influenciou. Ouvi n relatos diferentes, de gente diferente, que conviveu com ela em momentos diferentes. Todos esses relatos convergem num ponto-chave comum. A minha avó amava as pessoas, amava estar com elas, preocupava-se com elas e queria estar no meio delas. Ajudava, acompanhava, aconselhava, dava a mão, levantava, mobilizava. Tinha tempo para a Igreja, para a família, e para as pessoas, nunca descurando nenhuma destas áreas.

É por isso que eu reescrevo. Guardei da minha avó uma coisa simples, mas de importância incalculável. O amor pelas pessoas. O interesse pelas pessoas. O foco nas pessoas. As pessoas é o que de mais importante há neste mundo. Cristo veio pelas pessoas. E eu gostaria de também ser reconhecido por essa característica. E é por isso que reescrevo. Porque, sem que provavelmente ela tenha tido consciência disto, a minha avó ensinou-me o quão importantes são as pessoas. Sem elas, nem correrias, nem edifícios, nem projectos, nem reuniões importam. Importam, isso sim, as pessoas. E é por elas que sigo o exemplo da avó que eu não conheci, mas da qual ouvi falar. Porque as tuas obras continuaram e continuarão a falar mesmo depois da tua morte...

Tuesday, January 19, 2010

Os que da lei da morte se libertam

Sobre aqueles que 'se vão da lei da morte libertando’, escreveu Camões, até talvez pouco confiante na grandiosa verdade que acabara de escrever. Olhar para a morte como o derradeiro lugar de oportunidade, pode ser estranho, mas talvez não seja assim tão incorrecto. Mas não é uma dissertação sobre a morte que me traz aqui. É uma dissertação sobre a vida…

Quando perdemos alguém, por muito difícil que nos seja encarar tal facto, guardamos as recordações e os momentos que nos marcaram de alguma forma. Podemos dizer que a força da recordação é a força que mantém determinadas pessoas ‘vivas’ em cada um de nós. Eu próprio já o escrevi. São essas pequenas lembranças que nos engancham à memória deste ou daquele momento, desta ou daquela pessoa, deste ou daquele dia. É tal como acontece com o povo. Se estudarmos Relações Internacionais (e todas as suas ‘afiliadas’) aprendemos que só há povo quando há memória colectiva. Histórias, dias, sucesso, vitórias, derrotas e fracassos comuns, celebrados e chorados em conjunto. Aplicando isto ao indivíduo, diria que uma das piores tragédias do ser humano seria a de perder a capacidade de guardar as suas memórias, quer as boas (por razões óbvias), quer as más (porque nos ajudam a lembrar o quão boas são as boas).

A modernidade tem-se esforçado por deixar de viver amarrada ao passado. E tem-no feito bem. Mas não pode cair no erro de esquecer a sua memória. Nem revivalistas, nem desconhecedores do passado. Nem tanto ao mar, nem tanto à terra. Sejamos equilibrados, porque sem este equilíbrio, perderemos grande parte daquilo que somos. Há que estabelecer a diferença entre revivalismo fundamentalista, que deifica tudo o que é passado, e o apagar da memória colectiva, que nos trouxe até aqui, que fez de nós aquilo que somos, com todos os defeitos e virtudes que isso acarreta.

Talvez me perguntem porque escrevo sobre memória sendo tão novo. Eu explico. 25 anos é a minha idade. Hoje, vi falecer a minha avó Maria Luísa, a quem um acidente grave de viação retirou grande parte das faculdades físicas e mentais que tinha. Esse acidente ocorreu em Outubro de 82. Isto significa que vi partir alguém que, na realidade, nunca conheci. O único gancho que me segura à sua história são as histórias e as narrativas de quem conviveu com ela antes daquele dia. E se perder alguém cuja história nos marca directamente é doloroso, não pensei que lembrar-me que nunca conheci a minha avó, aquela avó dinâmica e cuidadosa, decidida e meiga, pastora e amiga, fosse tão difícil. Faltam-me palavras para expressar o vazio. A pena de não ter como recordar aquilo que a Maria Luísa Barradas foi verdadeiramente. Apenas ouvi falar dela…e isso não me chega…

Não é tarde para ganhar a memória. Vou agarrar no meu avô João (o único vivo agora) e vou escrever um livro com ele. Não é um livro de memórias, mas um livro de sabedoria, da sabedoria que emana de cada vez que ele fala. Quero que todos conheçam o homem que, de cada vez que abre a boca, me ‘mostra’ qualquer coisa nova sobre a Bíblia. E quero ter essa memória…

Tuesday, January 5, 2010

O Fundamentalismo

Ninguém me tira da cabeça que o homem não é um ser democrático. O que torna ainda mais espantoso como é que a democracia conseguiu evoluir (pelo menos no Ocidente) até aquilo que hoje é. Mas o ser humano não é democrático. Isso vê-se pelo seu comportamento, e acima de tudo, pela fraca qualidade que evidencia na hora de aceitar as opiniões divergentes da nossa.

O fundamentalismo é associdado quase que em regime de exclusividade aos muçulmanos extremistas. E isso é tudo menos verdadeiro. Tenho-me dedicado a observar debates, entrevistas, intervenções e um sem número de outros derivados destas, e tenho, invariavelmente, chegado à mesma conclusão: democratas? Só quando é para pôr a cruzinha no boletim…

Hoje de manhã, de forma casual, ouvi o presidente da Opus Gay em entrevista na SIC Notícias. Não concordando com a generalidade dos pontos de vista que defendem, sempre primo por tentar perceber (embora confesse que nem sempre consigo) os pontos de vista em questão. Foi com surpresa e desagrado que ouvi da boca deste senhor, António Serzedelo de seu nome, a destilar disparates odiosos contra tudo o que é contra a legalização dos casamentos entre homossexuais, dizendo que a recolha das 90 mil assinaturas que hoje foi apresentada no Parlamento tinha sido obra de ‘párocos que haviam incentivado os fiéis a assinarem no final das homílias’(uau, grande problema...) e que ‘até os evangelistas tinham feito publicidade a esse facto numa conferência no Algarve’ (nem eu, que estive nessa tal conferência de evangelistas, sabia que a conferência tinha sido assim tão importante para a Opus Gay…). Deixando de lado a ignorância da expressão ‘evangelistas’ (como diria Ricardo Araújo Pereira, já que é para injuriar, ao menos que o façam acertadamente…), espantou-me o tom do discurso e a dureza arrogante do mesmo. Eu sou o primeiro a afirmar que os homossexuais foram, ao longo dos tempos, perseguidos e alvos de injustiças sociais gigantescas. Mas isto só vem confirmar os meus receios: o ser humano só suspira pela democracia quando está na mó de baixo, quando aparece como ‘parte dominante’ rapidamente se esquece dessa mesma democracia.

É deste fundamentalismo que falo e contra o qual me pronuncio. Então de que vale a nosso opinião? É certo que a arma da opinião tem sido mal usada n vezes, por gente que não percebe que a opinião vale a pena quando é para agir. Costumo dizer que não precisamos de alguém que aponte os problemas, porque esses já conhecemos. Precisamos é de quem trabalhe nas soluções. Mas a má utilização da opinião não justifica isto. Será que a minha opinião vale menos ou mais que a de alguém? Será que o meu ponto de visto é melhor ou pior do que um qualquer outro? Será que podemos passar a vida a julgar as pessoas, tendência particularmente óbvia quando os julgados deixam a sua posição e passam a julgadores? Será? Então de que democracia somos nós apoiantes? Slazar, Hitler e Mussolini também se diziam democratas. Em Portugal haviam eleições, com o ‘pequeno’ pormenor de ganahr sempre o mesmo. Hitler ganhou o poder democraticamente, mas no que toca a democracia, ficámos por aí. Porque a grande conquista da democracia não foi a cruz no boletim. A grande conquista da democracia é que eu gtenho direito a ter a minha visão, a minha opinião, e tenho direito a fazer algo por isso. Na democracia, a única coisa que não se deveria admitir é a superioridade de julgamento de pensamento ou de opinião. E eu ainda hei-de ver isso a acontecer…