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É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

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Tuesday, April 6, 2010

As voltas do criativo

Não importam as voltas que damos. Não importa todo o trabalho em que estamos embrenhados, nem toda a bulícia do dia-a-dia. Não importa o quanto estamos ocupados, ou o quanto andamos cansados, ou o quanto queremos compor ou desenhar ou criar. O que importa é que recebemos uma chamada. E é da nossa casa! Quer que regressemos àquilo que realmente interessa...

E o que interessa realmente? É o porquê. Quando perdermos a noção do porquê, perderemos tudo, porque sem o porquê, nada faz sentido. É demasiado fácil perdermos o porquê, a razão, o centro das coisas. O deslumbramento talvez seja o culpado, embora também seja fácil culpar o excessivo trabalho. Mas não, é o deslumbramento que se assume como o principal responsável pela perda da identidade central e fulcral do papel do criativo...porquê?

Porque no dia em que criarmos algo do 'nosso tamanho', perdemos a magia da criatividade, do criar. A ambição de todo o criativo, é criar algo maior que ele próprio, que perdure, seja uma música, um filme ou uma obra de arte de outra estirpe. É essa a maior e mais bela ambição do criativo. E isso obriga-nos a procurar uma 'musa' maior do que nós mesmos, um ponto de inspiração que nos ultrapasse, e que permita que a criação seja maior e mais bela que o criador. Ora, só é possível tal desígnio se a nossa 'musa' for a fonte suprema de inspiração, infinito quer no flow in, quer no flow out, e que constantemente nos desafia e ultrapassa os limites da nossa imaginação, do nosso pensamento criativo. E por mais que tente dar voltas para encontrar a melhor e mais completa musa, eis que dou por mim a regressar ao mesmo ponto de inspiração...

Porque no dia em que formos incapazes de reflectir a essência da criatividade, seremos incapazes de criar. E o que é a essência da criatividade? Despirmo-nos do que já existe e reinventarmos aquilo que pensávamos já estar inventado. Parece difícil, e é-o, na realidade. Temos de nos desformatar daquilo que já há está formado na nossa cabeça, sob pena de sempre voltarmos à mesma forma. E sé é suposto voltarmos à mesma musa, é contra o voltarmos à mesma forma que os criativos lutam dia após dia. Há que desligar do como foi feito ontem, e do como é feito hoje, ser criativo é fazer a ligação com o como será feito amanhã. É reencontrar esta essência da criatividade, que nos faz desesperar por moldar o futuro. Isso é criatividade! É desfazer, desformatar, desmontar, para que seja possível criar, construir, consubstanciar o que ainda não foi feito...

Porque criar é trazer o futuro para hoje. É isso que criamos, o futuro. É pegar naquilo que gostaríamos que fosse feito amanhã, e fazê-lo hoje, de uma maneira que nunca o mundo pôde antes ver. Isso é criatividade, mesmo que nos tentem enganar tantas vezes, oferecendo-nos vinho velho em odres novos. Os odres são bonitos, mas o conteúdo deles é o mesmo, vinho velho. A realidade é que as pessoas estão fartas do vinho que beberam ontem, elas querem um vinho novo, de aroma e gosto suave, mas intenso, que lhes provoque emoções, sensações, e não a indiferença do costume. É isso que é a criatividade, é tratar do odre e do vinho, é dar beleza, mas também dar conteúdo, é trazer o vinho bom para a frente. E por isso o criativo não é mais do que aquele que pinta de futuro o presente.

Porque criar é ver com outros olhos, com outros óculos, ver o que poucos viram, ou o que muitos acharam inexequível. É ver para lá da névoa e da dúvida, e vislumbrar uma beleza nunca antes vista. É conseguir ver mais do que apenas o imediato, as dificuldades, as impossibilidades, e projectar, numa tela por vezes baça, uma imagem que vai para lá da mesma tela, e que consegue captar a essência do que há de vir. É por isso que não raras vezes quem cria é incompreendido, é-o porque vê o que mais ninguém vê, e isso é considerado louco. Cria aquilo que vê para lá do nevoeiro.

Porque sem voltar ao centro, à forma, à 'musa' inicial, tudo isto que escrevi há-de desvanecer-se. Porque até hoje ainda só conheci uma pessoa, capaz de ir para lá do razoável e do imaginável, só conheci uma pessoa que consegue ver todo o mundo com outros olhos, só conheci uma pessoa capaz de trazer constantemente o futuro para hoje, convidando-nos a entrar nele dia após dia, após dia, após dia. Amigos criativos, é exactamente para Ele que devemos voltar...

1 comentários:

Unknown said...

E é exactamente como Ele que devemos olhar! Ver como Deus vê...é ver o que o que mais ninguém vê e que é único, especial, sublime...mas é preciso olhar para além do visível...tal como Ele!

Que bonito pensamento!
Amo-te muito!

Sara