Este Blog...

É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

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Thursday, November 19, 2009

Qual é o preço?

Fiz asneira. De imediato caí em mim e pensei 'Tenho de corrigir isto. Fiz mal, tenho de o reconhecer, tenho de fazer alguma coisa para compensar e desfazer o mal que fiz.' Cheguei a um qualquer sítio, de um qualquer lado, de uma qualquer aldeia. Olho à minha volta e procuro qualquer coisa que me ajude a desfazer o que fiz. Ah, a consciência mói-me porque sei que errei, o corpo começa a sentir os efeitos da culpa que me invade de maneira cada vez mais criteriosa, parece que tudo se conjuga para o desastre. Assinei a minha sentença de maldição para sempre.

Mas eis que surge a luz, a luz em forma de homem. Uma luz que me diz 'faz'. E é isso que me preparo para fazer. Eis que ponho os pés ao caminho e penso, embrulhado no meu próprio peso lamacento. 'Ai, se pudesse voltar atrás', penso. Mas não posso, e é por isso mesmo que tenho de fazer algo, não posso ficar aqui parado, assim, à espera das consequências que nem sei se serão arcadas por mim ou por outro ou outros! E faço-me à estrada. A dor do arrependimento é mais forte que a dor do saber que tenho de sair do meu conforto para decidir reparar o que fiz de mal.

E então surge a oportunidade. Alguém me oferece, sem nenhum esforço ou preço alto envolvido, a redenção da minha consciência. 'Uma oportunidade vestida a ouro', pensei eu. Seria? De que me serviria se o pagamento do meu erro se resumisse ao preço de um simples 'quero'? Aquela pessoa estava diante de mim, esticava a mão, repetidamente, oferecia-me aquilo que eu queria ouvir. E eu, de impulso, queria dizer que sim, que aceitava. Afinal, nada como não ter de me esforçar para corrigir a embrulhada em que me meti. Que oportunidade! Até estava capaz de agradecer a Deus pela divinamente comandada mão daquele homem...

Preparava-me para aceitar quando, de repente, caí na realidade. E o estrondo foi maior do que pensava. Então, mas para que passei por tudo isto? Será que vou sair desta sem aprender uma única coisa? E então pensei. Logo verbalizei, 'não, não aceito. Antes quero pagar o preço justo do que me ofereces. Porque não quero que a minha vida seja a de um menino mimado que só viu facilidades. Quero aprender com aquilo que a vida tem para me dar. Não ma dês. Vende-ma!' O homem, por seu turno, absolutamente surpreendido com a minha proposta, insistia: 'toma, ofereço-ta. Porque havia de te vender algo que te quero oferecer?' Mas eu estava determinado nos meus objectivos. 'Vende-ma', dizia eu, 'e pelo seu preço justo'. Porque não quero passar a correr pela vida sem poder dizer que aprendi dela alguma coisa. Porque não quero poder dizer que vou de milagre em milagre todo o santo dia.

O homem olhava para mim, quase que petrificado pela minha atitude. Apostava em como 'então mas isto cabe na cabeça de alguém' era a frase que lhe passava na cabeça repetidamente. 'Não me dês a solução. Antes vende-ma', repeti novamente. Até que ele me perguntou, numa mistura de incredulidade e dúvida, 'porque queres que ta venda?'. Respirei fundo, não tinha uma resposta imediata para aquilo, o que eu tinha feito era quase um acto reflexo. Até que senti alguma coisa cá dentro, que me fez perceber claramente o porquê. E disse-o ao homem que ali estava a minha frente: 'quero comprar-te isso, porque não quero chegar diante de Deus com uma vida que não me custou nada. Quero oferecer-lhe algo que me tenha saído do couro. Aquilo que Ele tinha para me oferecer já ofereceu. Agora é a minha vez de fazer algo. Aí tens a tua resposta.' E, num acto imediato, abri a carteira. Sem olhar para quanto lá tinha, peguei num molho de notas e passei-as para a mão deste homem. Ele continuava incrédulo. Eu também. Afinal, foi a única vez até hoje em que não perguntei 'qual é o preço?' E sei que nunca me arrenpenderei disso...

Monday, November 16, 2009

O início de algo

A maior parte das histórias começam com um erro. Alguém decide errar, por simples desobediência, por falta de coragem, por mero desconhecimento ou imprudência, ou até pelo sincero pensamento de que está a fazer o melhor. Raras vezes (ou talvez nunca!) as histórias começam com grandes actos heróicos. Tenho-me perguntado porquê. E talvez tenha encontrado uma resposta minimamente plausível para esse facto.

O facto de a maior parte das histórias começarem com um erro não é mais do que o assumir que o ser humano precisa da adversidade para se transformar. É a vantagem das crises, dão-nos a possibilidade de nos convencermos a nós próprios de que é preciso mudar, de que é preciso fazer alguma coisa. Geralmente uma boa história começa com um erro, e depois evolui para uma catadupa de acções redentoras levadas a cabo por uma espécie de 'messias'. É assim que se processa.

Sempre gostei da ideia de como começa uma árvore ou uma planta. Semente lançada à terra e por aí fora, bla, bla, bla. Esquecemo-nos que a semente que é lançada à Terra só produz depois de ter morrido. Isso não torna a semente desnecessária, pelo contrário sem semente e sem a sua morte, não há árvore, não há planta. Parece um contra senso? É capaz. Mas é mesmo assim que funciona.

Talvez alguns de nós devêssemos olhar para o errar com olhos mais optimistas. Errar pode ser, desculpem a expressão, 'tramado'. Mas também pode ser o início de uma bela história. O Filho pródigo começou com um erro. E o erro só potenciou a beleza do final da história. Moisés começou com um erro, ao matar um egípcio, mas isso só potenciou o seu destino. A própria humanidade começou com um erro, mas aquilo que Adão fez trouxe-nos até aqui, e esse 'aqui' deve ser menos desdenhado e mais apreciado por nós, meros seres humanos.

Meter a pata na poça é parte do encanto da vida. Errar faz parte de uma jornada que só termina quando expiramos pela última vez. Tudo para que o morrer seja lucro. Porque nada levaremos desta vida, nem nada nos valerá depois de fecharmos os olhos. Eu erro. Eu falho. Eu arrependo-me de muita coisa que fiz. Mas também sou mudado, moldado, transformado pelas dificuldades e pelos erros. Porque para o morrer ser lucro, o viver tem de ter algum propósito. E no meu dicionário só há espaço para um conceito sinónimo da palavra viver: Jesus. Porque é Ele que pode pegar numa história e mudar-lhe o rumo. Para sempre.

Monday, November 9, 2009

E o muro caiu...

Faz hoje 20 anos que o Muro de Berlim caiu. Uma alegria para uns, um momento negro para outros. Não gosto de confundir comunismo com aquilo que se fez na União Soviética depois da morte de Lenine, apenas porque não tem nada a ver. Marx e Engels até voltas no caixão devem ter dado. De uma sociedade que visava defender a igualdade e combater as assimetrias que o capitalismo teimava em desenhar, passámos para uma outra em que a liberdade não passava de uma palavra irritante que feria os ouvidos de Estaline e de dos seus compinchas e sucessores. Não me lembro em qual dos livros e teorias de Marx isto viria escrito...

O muro e a sua queda não passarão do 'está consumado' do comunismo. Todos já se tinham apercebido do que ia acontecer, de que o comunismo como o conhecíamos tinha os dias contados e seguia pela via dolorosa até ao monte caveira. O muro foi o momento em que se marcou o final dessa viagem. Finito, acabou a cortina de ferro, acabou o Ocidente vs URSS, acabou a Guerra Fria...e o comunismo? Terá acabado também?

Não sou comunista, mas sempre tive uma boas relações de amizade com quem fosse. Sempre gostei de algumas das suas características pessoais. Os que conheço são pessoas cordiais, sérias e amigas do seu amigo. Talvez por isso tenha à vontade para falar disto. É que o grande problema do comunismo, no geral, não são as suas ideias (embora existam muitas com as quais não concorde), é a sua base. Será que há alguém que não ache que o mundo poderia ser melhor se fôssemos todos iguais, verdadeiramente? Será que alguém duvida que a boa distribuição dos recursos não era a resposta para tantos e tantos problemas que o mundo tem vivido? Claro que não. Creio que o conunismo tem muito de bom, embora a sua interpretação tenha sido distorcida vez após vez, da Coreia do Norte a Cuba.

A base, voltemos à base. Nenhum dos problemas da Humanidade será resolvido se insistirmos em colocar o Homem e o humanismo no centro de tudo. Nem comunismo nem capitalismo poderão ser a resposta enquanto nós formos a questão central. O único resultado palpável será o contributo para o crescimento dos nossos egos, manias e desvarios, todos colocados num lugar bem mais acima do que deveriam estar. Não posso também deixar de assinalar que o comunismo veio trazer ao de cima alguns dos mais sanguinários, crueis e anti-democratas líderes mundiais. De Kim Jong-Il a Estaline a lista é longa e merece reflexão.

Posto isto, creio que a queda do muro ainda continua a ser a resposta. Muro de Berlim? Não, não é a queda do muro de Berlim...são outros muros...são outros muros...aqueles que temos construído entre o Homem e o seu Arquitecto. É preciso derrubar esses porque aquilo de que o Homem precisa é de uma renovação geral e global. E essa só esta ao alcance daquele que fez o projecto inicial...

Friday, November 6, 2009

Estive a mais

Abro um parentesis para falar de futebol novamente, mas apenas para chegar a um ponto que nada tem a ver com futebol. Paulo Bento demitiu-se do comando técnico do Sporting. Na conferência de imprensa produziu a seguinte afirmação: «estive quatro meses a mais no Sporting.' É dela que faço o meu ponto de partida hoje.

Saber fazer e saber estar são conjugações indispensáveis para qualquer um. A competência, o esforço e a dedicação são palavras básicas de importancia chave em qualquer coisa que façamos. Mas muitas das vezes esquecemo-nos que discernimento também o é. E discernimento é saber fazer o que deve ser feito, no tempo certo, no lugar certo. Ao proferir esta frase, Bento admitiu que faltou discernimento para ver que o seu tempo tinha terminado ali. Repara-se como isto afecta tudo e todos. Afectou a instituição, porque parece estar muito longe dos planos que tinha para esta temporada. Afecta Bento, que ficará ligado para sempre a este início de época sombrio e terrível. Afecta os adeptos, aqueles que veêm de fora, pela descrença e falta de fé e esperança (mesmo que seja numa coisa secundária como o futebol...).

Sabermos qual é o tempo das coisas, o tempo de entrada, o tempo de saída, o tempo de colocar certas decisões em prática, é fundamental. O timing, como lhe chamam os ingleses, pode fazer de uma decisão certa uma atitude errada, quando tomada num momento inadequado. Discernirmos o quando é muitas vezes mais difícil do que discernirmos o como ou o porquê.

Digo estas coisas porque enquanto povo, temos dificuldade nas 'saídas'. É raro ver alguém que consegue ser airoso na saída. É raro ver alguém que é capaz de discernir que o seu tempo, num determinado lugar, terminou. E é triste. É triste ver gente capaz, dedicada e competente, deitar tudo a perder porque não soube quando sair de cena.

'Estive a mais' é uma frase que devemos evitar. E de evitar é também o pânico de sair de determinado lugar. Porque haverá sempre um novo desafio, uma nova luta, assim queiramos e saibamos nós encontrá-los. É porque eles estão aí à espreita a qualquer momento, basta estar atento.