Fiz asneira. De imediato caí em mim e pensei 'Tenho de corrigir isto. Fiz mal, tenho de o reconhecer, tenho de fazer alguma coisa para compensar e desfazer o mal que fiz.' Cheguei a um qualquer sítio, de um qualquer lado, de uma qualquer aldeia. Olho à minha volta e procuro qualquer coisa que me ajude a desfazer o que fiz. Ah, a consciência mói-me porque sei que errei, o corpo começa a sentir os efeitos da culpa que me invade de maneira cada vez mais criteriosa, parece que tudo se conjuga para o desastre. Assinei a minha sentença de maldição para sempre.
Mas eis que surge a luz, a luz em forma de homem. Uma luz que me diz 'faz'. E é isso que me preparo para fazer. Eis que ponho os pés ao caminho e penso, embrulhado no meu próprio peso lamacento. 'Ai, se pudesse voltar atrás', penso. Mas não posso, e é por isso mesmo que tenho de fazer algo, não posso ficar aqui parado, assim, à espera das consequências que nem sei se serão arcadas por mim ou por outro ou outros! E faço-me à estrada. A dor do arrependimento é mais forte que a dor do saber que tenho de sair do meu conforto para decidir reparar o que fiz de mal.
E então surge a oportunidade. Alguém me oferece, sem nenhum esforço ou preço alto envolvido, a redenção da minha consciência. 'Uma oportunidade vestida a ouro', pensei eu. Seria? De que me serviria se o pagamento do meu erro se resumisse ao preço de um simples 'quero'? Aquela pessoa estava diante de mim, esticava a mão, repetidamente, oferecia-me aquilo que eu queria ouvir. E eu, de impulso, queria dizer que sim, que aceitava. Afinal, nada como não ter de me esforçar para corrigir a embrulhada em que me meti. Que oportunidade! Até estava capaz de agradecer a Deus pela divinamente comandada mão daquele homem...
Preparava-me para aceitar quando, de repente, caí na realidade. E o estrondo foi maior do que pensava. Então, mas para que passei por tudo isto? Será que vou sair desta sem aprender uma única coisa? E então pensei. Logo verbalizei, 'não, não aceito. Antes quero pagar o preço justo do que me ofereces. Porque não quero que a minha vida seja a de um menino mimado que só viu facilidades. Quero aprender com aquilo que a vida tem para me dar. Não ma dês. Vende-ma!' O homem, por seu turno, absolutamente surpreendido com a minha proposta, insistia: 'toma, ofereço-ta. Porque havia de te vender algo que te quero oferecer?' Mas eu estava determinado nos meus objectivos. 'Vende-ma', dizia eu, 'e pelo seu preço justo'. Porque não quero passar a correr pela vida sem poder dizer que aprendi dela alguma coisa. Porque não quero poder dizer que vou de milagre em milagre todo o santo dia.
O homem olhava para mim, quase que petrificado pela minha atitude. Apostava em como 'então mas isto cabe na cabeça de alguém' era a frase que lhe passava na cabeça repetidamente. 'Não me dês a solução. Antes vende-ma', repeti novamente. Até que ele me perguntou, numa mistura de incredulidade e dúvida, 'porque queres que ta venda?'. Respirei fundo, não tinha uma resposta imediata para aquilo, o que eu tinha feito era quase um acto reflexo. Até que senti alguma coisa cá dentro, que me fez perceber claramente o porquê. E disse-o ao homem que ali estava a minha frente: 'quero comprar-te isso, porque não quero chegar diante de Deus com uma vida que não me custou nada. Quero oferecer-lhe algo que me tenha saído do couro. Aquilo que Ele tinha para me oferecer já ofereceu. Agora é a minha vez de fazer algo. Aí tens a tua resposta.' E, num acto imediato, abri a carteira. Sem olhar para quanto lá tinha, peguei num molho de notas e passei-as para a mão deste homem. Ele continuava incrédulo. Eu também. Afinal, foi a única vez até hoje em que não perguntei 'qual é o preço?' E sei que nunca me arrenpenderei disso...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
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