Este Blog...

É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

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Wednesday, September 23, 2009

Um pedaço de liberdade (ou porque dos servos rezará a História)

Falamos muito de liberdades. Como a sociedade portuguesa esteve tantos anos privada dela, adquiriu este hábito de falar dela a torto e a direito. Mas qual é, na verdade, o conceito de liberdade? Em que se traduz esta obsessão da nossa sociedade actual, hipervalorizado ao máximo, por vezes até ao extremo?

Há muitos tipos de liberdade. Geralmente, todos eles entroncam em questões comuns. Por exemplo, é difícil que uma sociedade em que não haja liberadade de imprensa possa consagrar outras liberdades individuais. O contrário, então, é impossível. Porquê? Porque liberdade é um conceito aberto, transversal e multi disciplinar. Liberdade não é um exclusivo de um domínio, de uma corrente, ou de uma tendência cultural ou política. O conceito de liberdade ultrapassa todos estes paradigmas, pulverizando-os.

Sinto-me cada vez mais contente por acordar todos os dias num país em que me posso exprimir livremente. Um país em que posso votar sem ser pressionado, nem ter que passar por colunas de bombas ou ver militares em tudo quanto é sítio em dia de eleições. Um país em que não sou obrigado a votar num partido único e dono da verdade, mas em que posso escolher entre 14 forças diferentes, desde um extremo ao outro. E liberdade é, e muito, isto. A liberdade de escolher aquilo que acredito ser o melhor, a liberdade de decidir, sem pressões externas, sem chantagens, sem dilemas que não os morais e interiores normais numa situação destas. Votar já é fantástico. Poder fazê-lo em consciência é dádiva que devíamos preservar com todas as forças.

Isto a propósito da liberdades. Das liberdades. E do que ela é ou elas são. A individual termina onde começa a dos outros. A de imprensa termina na calúnia e na mentira. A de expressão termina na injúria. A de pensamento termina no meu próprio mal. A de votar termina quando não exerço o meu direito. Mas, acima de tudo, continuo a achar que a maior liberdade é a daquele que, sendo livre, escolhe ser servo. Porque dos que escolherem servir rezará a História.

Friday, September 18, 2009

E nós, não estaremos a ser escutados?

Esta questão da escutas ao Presidente e à sua equipa levantou tremenda celeuma na sociedade portuguesa. Afinal, está em jogo a independência da Presidência, a seriedade do Governo e do PR, a cooperação estratégica, etc, etc, etc... mas a pergunta não deixou de ecoar na minha mente nas últimas horas... não estaremos todos a ser escutados?

Às vezes não seria mau de todo que agissemos como se estivéssemos a ser escutados, vigiados. Cada vez que ficamos entregues a nós próprios, a tendência é a de fazermos, desculpem a expressão, porcaria. O mais interessante da questão é que, de facto, estamos a ser escutados, vigiados, vistos. Mas também não deixa de ser interessante que a vigilância a que estamos sujeitos não é de forma a sermos incriminados de algo, mas de forma a sermos libertos e salvos de muito do nosso próprio dia-a-dia. Aquele que nós 'vigia', não o faz por perversão ou para acusação de alguém. Fá-lo pela necessidade de nos mostrar o melhor caminho, a melhor maneira.

Isto não deixa de me fazer pensar na forma como nos comportamos quando estamos a ser vigiados e quando não o estamos a ser. Porque é que somos tão diferentes numa e noutra situação? Porque nos comportamos detestavelmente quando estamos sós e somos tão bonzinhos quando somos vigiados? Afinal, somos autênticos ou não? Seremos verdadeiros, reais? Ou seremos apenas parte de uma novela à escala mundial em que desempenhamos papéis conforme as situações, conforme as nossas necessidades e os nossos interesses?

Dá que pensar não dá? Ou será preciso que o SIS nos escute para mudarmos o nosso pada~ro de comportamento?

Thursday, September 17, 2009

As promessas da campanha eleitoral

Amigos, esta é a minha estimativa de promessas a que vamos assitir na próxima campanha eleitoral, no desesperado 'apelo' ao voto...

- Sócrates promete que, vencendo, amanhã será Sexta-Feira;

- Por seu turno Manuela Ferreira Leite, prometerá que, se ganhar as eleições, todos os dias serão Segunda-Feira...afinal o país precisa de produzir;

- Já Louça virá dizer, comentando as promessas dos outros candidatos, que vai nacionalizar quer a Segunda, quer a Sexta, dizendo também que num futuro próximo, toda a semana será nacionalizada;

- Como resposta Jerónimo de Sousa dirá, com aquele ar 'autêntico', que, se a CDU fôr Governo, a Festa do Avante passará a ter início a 12 de Abril prolongando-se até 22 de Dezembro, todos os anos...farra da grossa, portanto;

- E falta Portas...que virá a público defender os agricultores, as PME's, os professores, os médicos, os pensionistas, os retornados, os ex-combatentes, os trabalhadores, os desempregados, as velhotas que assistem ao programa do Goucha, os jovens que vêm o Curto Circuito, os micro, pequenos, pequenotes, pequenitos, médios-pequenos, médios-médios, médios-grandes, grandes-pequenos, grandes-médios e grandes-grandes empresários, os lavadouros públicos, a lavoura, os tractores SAME, a fábrica da Guloso de Benavente, os produtores de porquinhos da Índia, os visitantes do ZOO, os próprios animais do ZOO, o Carlos Azenha, a Manuela Moura Guedes, a fauna, a flora, a flora intestinal, o Bifidus Activo, o Becel Pró-Activ e as empresas de cablagem de routers wireless. Quando tiver acabado de defender tanta coisa, vai-se aperceber que já é dia 23 de Novembro e que toda a gente já votou...

Vamos lá ver se falho por muito...cheira-me que não...

Wednesday, September 16, 2009

Que raio de conversa é essa?

Ricardo Araújo Pereira perguntou ontem a Manuela Ferreira Leite: 'Então a senhora anda a proclamar a antítese da política, dizendo que não promete nada que não possa cumprir? Mas que raio de brincadeira é esta?'

Estava a ver o programa em directo e de imediato soltei uma gargalhada sonora. É pouco comum ver um plítico, especialmente um candidato a primeiro-ministro responder a uma pergunta iniciada com a expressão 'mas que raio'. Mas deixemos o conteúdo da pergunta e passemos ao que me leva a escrever: aquilo a que damos importância numa campanha eleitoral.

Ao votar em eleições legislativas, estamos a escolher quem nos governa nos próximos 4 anos. Logo, estamos a falar daquelas que são, no meu entender, e em conjunto com as autárquicas, as eleições mais importantes do ponto de vista da construção do futuro do país. Sendo as mais importantes, exigiriam da parte de quem vota uma atitude responsável. Mas qual é a nossa aitude enquanto eleitores?

Para começar, há sempre uma percentagem superior a 30% que nem sequer se dá ao trabalho de comparecer no dia das eleições. E eu percebo. É difícil votar quando somos ameaçados, quando não temos liberdade para o fazer, e quando é preciso ir para as mesas de voto 3 ou 4 horas antes para conseguir votar. É normal que tudo isto torne desencorajante o acto em si. Em seguida temos os qeu votam pela carinha dos candidatos. Não conhecem nada, não sabem de nada, mas acham o xôr Portas 'tão simpático', ou o xôr Louçã 'tão honesto, coitadinho'. Depois destes temos a maioria, os que votam basicamente porque sim ou porque não. Conhece o programa de Governo? 'Não. Mas gosto muito da D.Ferreira Leite. É séria e o país precisa de seriedade'. Ou então 'não gosto nada do Sócrates, por isso vou votar na Dra.' Propostas conhecidas? Talvez o TGV, mas na realidade nem sabem para que serve ou o que está em jogo. Por fim, a minoria. Aqueles que se dão ao trabalho de ler, de ouvir o que realmente importa. Depois disso dizer 'sim senhor, concordo com as propostas de x ou y, têm o meu voto'. Mas esta realidade que aqui descrevi, talvez com algum exagero, não é mais do que o que nós somos na realidade.

Vejamos bem este facto. O que distingue melhor um político português? A sua obra? As suas propostas? Não, certamente que não. Um político em Portugal é mais conhecido pelo que não cumpriu do que pelo que fez, pelas gaffes e pequenas coisas do que pela obra. Sócrates será sempre lembrado pela promessa dos 150 mil empregos (que afinal foram perdidos, e não criados) e pelo caso da Universade Independente. Durão Barroso será sempre lembrado pelo choque fiscal, a maravilhosa transformação de descida em subida vertiginosa de impostos e pela saída para Bruxelas. Isto só para falar nos mais recentes. Mas não são só as promessas. Nós temos o país que merecemos. Um exemplo claro: talvez não nos lembremos de uma única medida dos 10 anos de governação cavaquista, mas lembramo-nos certamente do episódio 'bolo-rei', em que Cavaco degustava à grande e de boca aberta um enorme pedaço do dito cujo. A nós interessam-nos mais esta questiúnculas e pequenas coisas 'engraçadas' das campanhas e do exercício do poder, do que as verdadeiras questões de fundo. Estamos mais preocupados com o facto de Ferreira Leite dizer 'piquenas e médias empresas' do que com o que é proposto pelo seu partido. Estamos mais interessados na eleição de Sócrates como homem sexy platina na votação do Correio da Manhã, do que em ouvir o que ele pretende fazer durante mais 4 anos. Estamos mais interessados em ouvir Louça a falar da pseudo-moralização da política (naquele tom arrogante de dono da verdade...) e estamos pouco interessados em saber o que faria o BE se fosse Governo. Agora pergunto, o que é mais importante saber para votar: conhecer os programas e ideias ou saber o que veste, o que diz nas 'horas vagas', as gaffes, os gestos, a compra de pseudo-militantes para encher pavilhões e arruadas...afinal, o que interessa isso? Eu quero é saber quem governará melhor o país caso ganhe. Isso é um ponto de vista pessoal, que terei eu próprio de criar. Essa tomada de posição não tem paralelo nenhum com estas pequenitas coisas, que apenas nos distraem do essencial.

Tenho pena que demos tanta importância a estas coisas tão pequenas e insignificantes. Tenho pena que demos demasiada improtância ao que é acessório, e deixemos esquecido o que é essencial. Tenho pena que 95% dos eleitores que vão votar (estimativa minha) nem sequer leia os programas eleitorais de cada partido e escolha de acordo com eles...

É assim que somos. Logo, é normal que quem governa seja nem mais, nem menos, que o nosso fiel reflexo...

Thursday, September 10, 2009

Irra, que é teimoso!

É tiro e queda. À pergunta ‘qual o seu maior defeito?’, 95% dos portugueses pouco mais consegue responder que com um simples ‘teimosia’. O que me leva a pensar que, das duas, uma: ou somos demasiado bonzinhos no que toca a tudo o resto (ideia que, depois de 5 minutos numa estrada portuguesa, deixa de ser hipótese a considerar); ou então somos tão maus na nossa auto-avaliação como o somos a conduzir. Reparem também que este somos maus a conduzir nunca se aplica à primeira pessoa (nunca ouvi ninguém dizer que conduz mal, mas ouço toda a gente a dizer que em Portugal se conduz mal… como se nós conduzíssemos na Conchichina…), mas ao país em geral, exceptuando eu próprio, ou melhor, exceptuando a pessoa que diz a frase.

Não há mudança sem antes haver a percepção e o assumir de que precisamos dela. Há uma frase que eu simplesmente adoro e que diz que ‘somos capazes de ver o grão de areia no olho do nosso vizinho, mas somos incapazes de reparar na trave de madeira que está mesmo à frente dos nossos olhos.’ Poucas frases classificam tão bem o ser humano como esta. Muito perspicazes a apontar o que os outros devem fazer. Tranquilos, pacientes e, muitas vezes, insensíveis, na percepção das coisas que nós próprios temos de mudar.

Esta incapacidade de nos avaliarmos correctamente tem um preço alto a pagar, chamado estagnação. Ninguém é mais velho do que aquela pessoa que está no mesmo sítio há anos e anos e anos consecutivos. É possível ser velho na idade e novo na vida, se soubermos ser os nossos primeiros críticos, os nossos primeiros comentadores, dos nossos hábitos e atitudes. Aposto que se projectássemos noutra pessoa algumas atitudes que por vezes temos, seríamos os primeiros a apontar e acusar. Então porque temos esta tendência de dar ou retirar importância às coisas, consoante elas são praticadas ou ditas por nós, ou por outros? Porque somos assim tão incapazes de ver que, muitas vezes, as acusações que nós fazemos também reportam a coisas que fazemos, sem que reparemos ou sem que consigamos dar importância a isso?

Isto a que propósito? É simples. Uma das leis mais fantásticas da humanidade, é aquela que nos diz que se queremos alguma coisa dos outros para nós, devemos ser os primeiros a libertá-la. Não gostas da maneira como o teu patrão te trata? Então não te queixes, antes trata o teu patrão de forma cordial, simpática e semeia a forma como queres ser tratado sem reinvindicar. Não gostas da maneira como o teu vizinho te olha? Então não vás para casa dizer mal dele. Da próxima vez que o encontrares fala com ele, pergunta-lhe como está, liberta a forma como gostavarias de ser tratado.

Porque não é apontando dedos que iremos ver mudança a acontecer à nossa volta. É sendo os primeiros a mudar e a agir no sentido de fazer de cada lugar, de cada ocasião, de cada oportunidade, algo melhor.

Monday, September 7, 2009

Férias de Deus...

Ponto prévio: Este vai ser um post durinho, portanto se tiverem hiper-sensibilidade religiosa, isto é mesmo para vocês...leiam-no bem!

Faz-me confusão. Na minha cabeça não entra o conceito, nem sequer o consigo perceber. Falo daquelas pessoas que conseguem tirar férias do trabalho, de casa, das preocupações, da família (por vezes), dos amigos (embora quase nunca o façam), e que, pelo caminho, tiram férias de Deus. Mas o que é tirar férias de Deus? Será possível tirar férias de Deus? Não, não é. Então as pessoas vingam-se naquilo em que é mais fácil tirar férias: o simples acto de ir à igreja.

Para quem, como eu, acredita na igreja, não como instituição, mas como o braço vivo e activo de Deus na Terra, em cada cidade, vila e aldeia, torna-se difícil olhar para esta questão de ânimo leve. Aliás, só de escrever sobre isto já estou a ficar irritado. Todos nós, frequentadores de igreja ou não, cristãos convictos ou não, temos as nossas férias, o nosso tempo de descanso. Eu também o tenho. É claro que me ausento de Lisboa algumas vezes, vezes essas em que deixo de frequentar a Igreja. Mas seria incapaz de estar em Lisboa, em casa, e deixar de ir à Casa de Deus, 'apenas porque estou de férias'. Afinal em que acreditamos? Afinal, o que é, para nós, a igreja? Um frete? Ou será um espaço de vida? Fazemos igreja porque amamos Deus e a sua obra na Terra acima de qualquer coisa? Ou fazemos porque 'fica bem'? Porque não concebo que alguém que ame esta causa, a deixe orfã e tire férias dela. Porque não consigo entender e me parece incompatível que alguém ame e ignore a causa simultaneamente.

Cada um de nós tem direito ao seu descanso, e não é isso que me faz saltar as veias do pescoço, pelo contrário. O que me incomoda realmente é a mentalidade que nos afasta da Casa e da causa vezes sem conta porque, e passo a citar, 'também precisamos de descansar'. A minha pergunta é o que seria de nós, se Jesus também tivesse decidido que precisava de um descansozinho quando estava a caminho da cruz (e, segundo parece, Ele estaria bem mais cansado do que algum de nós alguma vez esteve...). O que aconteceria se Jesus, quando a caminho da cruz, tivesse decidido 'bom, eu vou para o Algarve e chego a tempo da cruz, mas como preciso de dormir, porque venho cansado das férias, amanhã não ponho os pés na igreja...'. Teria sido muito bonito, mesmo!

Tiremos as nossas férias e o nosso tempo de recarregar de baterias. Aquando da criação, está escrito que Deus, ao sétimo dia, descansou. Para alguns de nós parece mais que, ao sétimo dia, Deus trabalhou. Os outros seis foram para ir para o Algarve, arrumar aquele quartinho malvado que está desarrumado desde que nos mudámos, fazer uma limpeza de lés a lés à casa, ir ao Planetário com o sobrinho da filha da nossa melhor amiga. E por causa disso deixamos a causa coxa e orfã semanas e semanas a fio durante um ano. Vamos mostrar que uma das diferenças que nos caracteriza é o amor e a paixão pelos outros. Porque se passamos a vida a 'descansar' de Deus e da igreja, é sinal que precisamos de refocar as nossas prioridades, já que nada nos distingue de um funcionário de uma qualquer empresa. E, que eu saiba, nenhum de nós quer ver a causa de Cristo transformada numa empresa.

Da próxima, tiremos férias para descansar, vamos duas semanas para o Algarve, sim senhora! Mas quando estivermos por cá, não vamos dormir até às 12h, ou apanhar o carrinho para a Costa. Vamos ser e fazer parte da causa.

A ver se escapamos da letra de uma música com alguns anitos que dizia 'No Domingo, falo do quanto gostaria de ver um avivamento, mas na segunda-Feira nem sequer consigo encontrar a minha Bíblia.'

Friday, September 4, 2009

Uma Cruz

Só há uma cruz. Aquela que O levou até ao topo do monte, onde veio a morrer só porque eu quis. Aquela que foi carregada sem ajuda, sem brilho, sem glamour. Aquela que viu sangue, água, vinagre, injúrias, dor, morte. Aquela que se tornou o símbolo de uns tantos para a perdição de muitos.

Só há uma cruz. A que ainda não foi, nem é, nem será totalmente compreendida por nós. A que nós ainda não vimos, a que nós ainda não alcançámos na totalidade. A que pensamos ser o pior momento, a que pensamos ser a vergonha das vergonhas.

Só há uma cruz. Uma que não significa pregos e madeira. Uma onde não se ouve o barulho dos martelos a baterem no madeiro. Uma de onde não jorra morte, ou ódio, ou infâmia, ou culpa, ou maldição. Uma onde tudo o que fazia sentido deixou de fazer. Uma que usou as coisas estranhas para enganar as óbvias. Uma que veio baralhar as contas do senhores que ‘tudo’ sabiam.

Só há uma cruz. Não, não é a das mãos e pés pregados. Não, não é a da carinha infeliz e mísera de um corpo frágil e sem cor. Não, não é a do sofrimento, dor e súplica. Não, não é a do desafio do ‘salva-te a ti mesmo’. Não, não é da repetição exaustiva disto ou daquilo. Não, não é, definitivamente, a cruz da morte.

Só há uma cruz. A do sangue que escorre vitoriosamente. A da dor redentora, do amor encarnado e vivido. A da pedra removida, do lugar vazio, da surpresa, do impensável. A da misericórdia de um ser que, sendo forte, poderoso, se fez fraco, se tornou como um dos tais que o desprezaram, e por eles mesmo decidiu carregar peso e mais peso.

Só há uma cruz. Aquela de onde vejo todo o mundo. Aquela de onde se vê o lado direito do Grande. Aquela onde a Humanidade decidiu firmar estacas. Aquela que não mostra um ser morto, mas alguém vivo. Aquela onde quem quiser pode beber, e fazê-lo de graça.

É essa a cruz que eu conheço. Conheces outra?

Wednesday, September 2, 2009

A desgraça alhei(r)a

Interessante este desporto nacional que faz da desgraça alheia o toque de inspiração para o dia. Confesso se ainda não percebi se é apenas uma característica tuga ou se é mesmo o ser humano que é assim. Tenho a sorte de todos os meus amigos estrangeiros (e tantos que elas são...upa, upa!) serem uns porreiraços, o que não dá para fazer uma avaliação global e planetária da coisa.

Duas situações diferentes, duas marcas profundas da cultura portuguesa. Um acidente na estrada. Dois ou três carros completamente destruídos. A polícia a mandar avançar e nós a tentar ver o que nraio se passa ali. Curiosidade? Não. Gosto por perceber que tipo de desgraça alheia ali aconteceu. Por isso é que preferimos passar lá enquanto a polícia não chega, mesmo que nunca na vida paremos para chamar socorro numa situação dessas! Outra. O nosso vizinho, homem que até é simpático, passa pouco tempo em casa, porque se farta de trabalhar. Abre uma empresa, enriquece, embora continue simpático, sempre limitado pelo pouco tempo que passa em casa. Enriqueceu, ouvimos nós? Deve ter sido jogada, negócio escuro, droga, qualquer coisa. Porque enriquecer legitimamente é que nunca. Estranho que depois este mesmo povo vote em Isaltinos, Fátimas Felgueiras e Valentins Loureiros...

Eu confesso que de vez em quando sou acometido por este pensamento. Mas logo que me apercebo de tal facto, esbofeteio-me violentamente a ponto de nunca mais pensar na desgraça alheia como a minha alegria. Foi esta mentalidadezinha que nos tirou do topo do mundo e nos empurrou para o fundo da Europa. Foi esta maneira mesquinha e invejosa de ver as coisas que fez de nós os pequenotes que hoje somos. É por isso que eu prefiro a desgraça alheira. Aquela desgraça que vem em forma de colesterol quando me acometo a um prato da dita cuja como se não houvesse amanhã. É que a desgraça alheira não faz mal a ninguém a não ser a mim mesmo...e ainda me dá o belíssimo prazer de a poder saborear...