Este Blog...

É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

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Thursday, October 29, 2009

Fair-Play

A propósito do Saramgo e das suas afirmações, mais uma vez se veio provar que a Igreja (no geral) e os cristãos continuam a padecer de uma doença crónica, revelada de tempos a tempos: incapacidade de lidar com qualquer tipo de crítica ou ideia diferente. Falta-nos fair-play, falta-nos entrar na era da liberdade de expressão e opinião. Foi por isso que, da última vez que esteve em Portugal, na ocasião do lançamento do projecto 'Um Milhão de Líderes', Marcos Witt proferiu vezes sem conta a ideia de que a Igreja deveria ter mais pastores e líderes e menos ditadores. Há gente que ainda confunde capacidade de liderança com capacidade de manipulação e firmeza com teimosia e incapacidade de ouvir críticas ou opiniões.

Quem me conhece ou lê este blog sabe que gosto de arrasar com a ideia da opinião pela opinião. No meu entender, a opinião deve ter em conta alguns factores: o factor oportunidade, o factor conhecimento, o factor construtivo e o factor humildade. O factor oportunidade porque devemos esperar pela hora certa para dar a nossa opinião. O factor capacidade porque nos devemos limitar a opinar sobre questões sobre as quais tenhamos conhecimento. O factor construtivo porque nos devemos limitar a opinar para construir e nunca para destruir. O factor humildade, porque devemos estar prontos para que a nossa opinião não seja reconhecida como válida. Ora, logo a Igreja, onde opinião é quase sagrada, é que havia de ser o sítio onde pior lidamos com a opinião dos outros. Saramago disse o que disse. Em última análise, é ele o responsável pelas afirmações que teve. Que temos nós que ver com isso? É triste, mas há mais gente a ler a Bíblia por causa de Saramago do que por causa de todos os líderes da igreja portuguesa juntos!

Quando era miúdo era fã do Herman. Escapava-me à cama para ver os programas quando eram durante a semana. Achava um piadão aos skectches e ao humor corrosivo. Lembro-me de sketches polémicos, como a última ceia ou outros relativos a Fátima, entre outras coisas. Sempre achei estranho que fôssemos tão fãs do Herman quando ela fazia humor com a igreja católica, e tão contra o mesmo quando ele fazia sketches humorísticos com Deus. Então mas isto é que é Fair-Play? Lembro-me muito bem de um sketch em que Herman interpretava o papel de Deus, e alguém fazia de Baptista Bastos, um ateu convicto. Que grande sketche! Acho que o próprio Deus se terá rido à brava. Mas nós não. O Herman estava a 'gozar' com Deus! Ultraje! Blasfémia! Mas o delírio voltava com um Sketche sobre Fátima ou os católicos. Muito coerente...

Isto a propósito do sabermos lidar com as críticas, as opiniões e o sabermos rir de nós próprios. Alguém critica a Bíblia? Preocupemo-nos mais em informar as pessoas e em responder às suas necessidades (através da Bíblia) do que em fazer grandes defesas teológicas. A Bíblia defende-se a ela própria. Alguém brinca com a Igreja ou com Deus? Tenhamos Fair-Play para perceber e até agradecer, porque só é trazido para o humor aquilo que é relevante. Alguém se levanta contra a Igreja? Antes de respondermos vejamos se não há razões para isso... às vezes, até eu próprio tenho vontade de me levantar contra a Igreja. Não contra a Igreja que Deus instituiu, mas a Igreja que os homens tornaram um antro de intolerância, de ilicitude, de interesses e de irrelevância.

Depois de tantos erros históricos que já cometemos enquanto Igreja nos últimos (largos!) séculos, vamos evitar cometer mais um: virar as costas à sociedade só porque não gostamos do que ela diz de nós... até porque este seria o pior erro histórico de todos os tempos...

Monday, October 26, 2009

Caim, Saramago e Deus

Fruto do estudo que deu origem à palavra que partilhei ontem na minha igreja, cá está 'Caim, Saramago e Deus', tudo junto no mesmo saco!

É importante situarmos esta discussão que se gerou na passada semana acerca das declarações de Saramago. Tudo isto surge porque Saramago vê na história de Abel e Caim traços de ruindade de Deus e alguma injustiça no comportamento de Deus para com Caim. Mas será que isto corresponde à verdade? Será que é exactamente assim? Será que Caim não fez nada para que Deus não aceitasse a sua oferta? Estaremos perante um mero capricho de Deus?

O que aconteceu a Caim, importa dizê-lo, não foi fruto do destino, nem sequer das circunstâncias. Não é reportado que Abel e Caim tivessem tido quaisquer problemas anteriores a este. Não é reportado que Caim tivesse uma má natureza, por assim dizer. Até as actividades a que estes dois se dedicaram eram das mais nobres (pastorícia e agricultura) da época e sem grandes diferenças de estatuto entre si. Caim fez uma escolha e Abel fez outra. Essa foi a diferença, mas já lá vamos.

A atitude de Deus também foi inatacável. Limitou-se a responder à atitude de Caim. Colocar o ónus do que aconteceu nesta história em Deus é de uma injustiça tremenda. Abel trouxe o melhor do que tinha (as primícias, ou seja a primeira e mais importante parte do seu trabalho), enquanto Caim trouxe uma simples parte. A diferença da qualidade entre o que Caim e Abel trouxeram é feita biblicamente por omissão. Ao referir-se à oferta de Abel como 'primícias' e ao omitir a qualidade da oferta de Caim, é-nos dado a entender que Abel terá sido excelente, enquanto Caim apenas normal. E quanto ao que é a normalidade aos olhos de Deus, apenas refiro uma passagem: 'Mas visto que és apenas morno – nem quente nem frio – hei-de vomitar-te da minha boca!’ Está tudo dito, não está?

Há que assinalar como Caim transformou uma questão que era sua e da sua atitude, ou, quando muito, uma questão entre ele próprio e Deus, numa questão pessoal entre ele e o irmão. Só assim se explica que tenha partido para o assassinato do seu irmão.

Colocar em Deus o ónus desta história é desonestidade e incapacidade de interpretação do que está escrito. Caim escolheu. Mesmo depois de Deus lhe ter aberto as portas ('se fizeres o que é bom serás aceite e feliz'), mesmo depois de Deus ter colocado as cartas em cima da mesa ao dizer-lhe quais seriam as consequências de se deixar dominar pela maldade. Caim escolheu. Escolheu a oferta que deu, a 'normal' oferta que deu. Escolheu assassinar o irmão, mesmo sabendo que isso teria tremendas consequências. Escolheu não ouvir Deus nem os seus conselhos. Seguiu um caminho que geralmente leva à ruína: o não sermos ensináveis. Escolheu a falsidade ('irmão, vamos dar uma volta?') e a mentira (Não sei onde ele está, Deus! Por acaso, serei eu guarda dele?'). Caim fez uma série de escolhas erradas, mas o mais interessante ainda nem sequer é isso...

Deus decidiu proteger Caim. Ao medo deste em ser atacado e morto por outros povos (pergunta do milhão de €: que outros povos seriam estes? Então afinal o mundo não era só habitado por Adão, Eva, Caim e Abel por esta altura?), Deus respondeu com a promessa de que quem atacasse Caim teria um castigo sete vezes superior ao seu. Incrível. Parece-me um pouco da demonstração 'antecipada' da graça e do amor que caracterizam a natureza divina. Apesar de Caim ter nitidamente errado de forma consciente e premeditada, Deus escolheu protegê-lo da maldade que o próprio Caim iniciara. Que tremendo...

A única coisa de que trata esta história é da atitude. Da de Abel e da de Caim. De um Abel que trouxe algo de muito bom, e de Caim que trouxe apenas algo. Esse é o nosso desafio. Normalidade ou excelência? Apenas o que é requerido ou milha extra? O que é pedido ou tudo o que há em nós? São dúvidas que se decidem nas coisas do dia-a-dia. E, já agora, deixem-me reescrever aquele dito português. «Dos extravagantes rezará a História.»

Wednesday, October 21, 2009

À Procura do Entusiasmo Perdido

Nesta frase se pode resumir uma boa parte da nossa vida. Andamos cerca de 20 anos a acumular sonhos, objectivos, projectos de realização pessoal, a estabalecer metas, umas mais realistas e outras menos, a projectar ilusões para o futuro, a pensar no sonho em que a nossa vida se tornará quando formos independentes, doutores ou engenheiros, chefes de família, felizes e realizados, tanto na área financeira, como na profissional, ou até mesmo na familiar. E depois andamos 60 anos à procura da fuga desses mesmos objectivos, porque nos queremos esquecer de todos eles...

Quando éramos novos (até parece que sou muito velho) a ilusão era o nosso nome do meio, mas a rotina bolorenta em que a nossa vida se tornou teve o condão de sugar toda a criatividade, toda a ilusão, todo o sonho, toda a vitalidade. Hoje, resumimos a vida à procura de darmos melhores condições aos nossos filhos, às nossas esposas, aos nossos maridos, ou ao conseguir pagar a gigantesca conta em que a nossa vida se tornou. E onde morreu o sonho? Onde morreu o entusiasmo? Onde morreu o ideal? Já essa 'grande' banda de seu nome BAN (mais conhecida por ter sido a banda de João Loureiro, filho de Valentim Loureiro e ex-presidente do Boavista) cantava um pedido simples, 'dá-me um ideal'.

Hoje o mundo move-se com base no compromisso e no medo. No compromisso que assumimos de tentar dar o melhor àqueles que nos são queridos e no medo de que o contrário disso aconteça. Problema 1: o melhor que nos é apresentado, e que se resume a dinheiro para pagar faculdade aos filhos, boa casa, bom carro, roupa de marca, casa de férias, férias no estrangeiro, e tudo o que mais quiserem, não é, na realidade, o melhor da vida. Problema 2: quando descobrimos que abdicámos dos nossos sonhos, valores e princípios, já é tarde de mais e estamos prontos para uma única coisa: a reforma.

Não peço que me deêm um ideal, mas deêm-me o entusiasmo de fazer alguma coisa apenas porque existe um tremendo prazer nisso. Não me peço que devolvam todos os sonhos, mas que pelo menos me devolvam a ideia de que as oportunidades estão lá, basta agarrá-las e ser diligente com elas. Porque não é apenas o conhecimento que faz o mundo avançar. É a paixão , é o entusiasmo, é a garra. Por isso é tempo. É tempo de encontrar o entusiasmo perdido. É tempo de desfrutar do que, mesmo sendo pequeno, é tão fantástico! É tempo de desfrutar das nossas famílias e dar-lhes mais do que somos e não do que temos. É tempo de desfrutar dos nossos amigos e ser verdadeiramente ajuda nas suas vidas. É tempo de assumir que temos responsabildiade social, e de irmos pela rua dizer que a vida é entusiasmante, fantástica, e foi feita para ser vivida na sua plenitude. Porquê? Apenas porque temos a promessa de alguém que um dia disse que era possível viver, e não apenas de uma forma normal, mas de uma forma abundante...

Wednesday, October 7, 2009

Há coisas que nos ultrapassam

Há coisas que nos ultrapassam. Certamente. Mas há coisas pelas quais somos ultrapasados. E isso dói mais do que a primeira, não dói?

Há coisa que nos saem do alcance. Há coisas que nos fogem sem que possamos fazer algo para o evitar. Mas também há coisas que nos escapam por negligência, por incapacidade, ou porque as damos por garantidas. E é essa a destrinça que importa fazer.

Tenho dias em que me apetece processar pessoas por estagnação por negligência. Tenho outros dias em que me apetece processar a mim mesmo pelas mesmas razões. Se Deus nos deu condições, se Deus nos deu talentos, se Deus nos deu um cérebro (e que cérebro!), se Deus nos deu tudo o que precisamos, de que estamos à espera para alcançar o que está proposto à nossa frente.

Tenho a certeza que quem lê estes parágrafos estará a dizer ‘é certo, Ruben, tens toda a razão!’ Eu não quero ter razão! Eu quero é que nos deixemos de falinhas mansas e desculpas esfarrapadas. Eu quero é que sejamos homenzinhos e mulheres à séria, capazes de fazer tudo o que for preciso até não nos restar uma gotinha de sangue! Afinal, que tipo de gente é que somos? O que nos distingue? O que nos torna diferentes? O que apresentamos de forma viva à sociedade? Padrões de comportamente moral? Só? Que fraca ideia de Evangelho que andamos a ‘distribuir’ por onde passamos…

Ao longo de décadas, de séculos, alguém tentou e conseguiu reduzir cristianismo a um padrão de comportamento moralista e moralizador. E fê-lo com um tremendo sucesso. A Igreja é mais conhecida pelo não do que pelo sim. Não é isto triste? Mas onde é que se foi buscar esta ideia? Quem concebeu igreja como a moralizadora da sociedade perdida? Quem concebeu esta ideia peregrina? Não sei. Ou pelo menos acho que não sei. Mas sei que está na hora de a deixar de lado. Abram-se as portas e venham daí. Venham daí os mais desfavorecidos e os mais desgraçados, porque esses é que precisam do favor e da graça. Venham daí os famintos e os sem-abrigo, porque esses é que precisam de alimento e tecto. Venham daí os escorraçados e os oprimidos, porque esses é que precisam de apoio e liberdade. Venham daí, porque as portas estão abertas!

Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas a negligência com que encaramos o Evangelho e a Sua causa palpável na terra tem de acabar! Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas não há coisas pelas quais sejamos ultrapassados, nomeadamente pela antiga, bolorenta, limitadora, tradicionalista e castradora maneira de pensar. Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas está na hora de rebentar com as paredes que se construiram durante anos, e que serviram para não contaminar gente que nem sonhava que já estava contaminada pela negligência com que tratou o Evanglho, ao falhar numa mensagem tão clara como central: que a graça e o perdão de Deus não conhecem limites ou fronteiras! Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas já chega! Porque aos mornos a História não fará jus, mas dos que, quentes ou frios, assumirem na plenitude o que são e para o que vão! Um NUNCA MAIS carimbado em cima da Igreja morna!

Sejamos duros. O Evangelho é demasiado importante, demasiado caro, demasiado bom para ser desperdiçado neste circo que montámos nestes últimos tempos. E Tu, Deus, perdoa-nos se errámos aqui e ali. Olha para nós e tem compaixão. Faz-nos UM, em relevância, sentido de responsabilidade e amor. É só isso que eu Te peço!