Há coisas que nos ultrapassam. Certamente. Mas há coisas pelas quais somos ultrapasados. E isso dói mais do que a primeira, não dói?
Há coisa que nos saem do alcance. Há coisas que nos fogem sem que possamos fazer algo para o evitar. Mas também há coisas que nos escapam por negligência, por incapacidade, ou porque as damos por garantidas. E é essa a destrinça que importa fazer.
Tenho dias em que me apetece processar pessoas por estagnação por negligência. Tenho outros dias em que me apetece processar a mim mesmo pelas mesmas razões. Se Deus nos deu condições, se Deus nos deu talentos, se Deus nos deu um cérebro (e que cérebro!), se Deus nos deu tudo o que precisamos, de que estamos à espera para alcançar o que está proposto à nossa frente.
Tenho a certeza que quem lê estes parágrafos estará a dizer ‘é certo, Ruben, tens toda a razão!’ Eu não quero ter razão! Eu quero é que nos deixemos de falinhas mansas e desculpas esfarrapadas. Eu quero é que sejamos homenzinhos e mulheres à séria, capazes de fazer tudo o que for preciso até não nos restar uma gotinha de sangue! Afinal, que tipo de gente é que somos? O que nos distingue? O que nos torna diferentes? O que apresentamos de forma viva à sociedade? Padrões de comportamente moral? Só? Que fraca ideia de Evangelho que andamos a ‘distribuir’ por onde passamos…
Ao longo de décadas, de séculos, alguém tentou e conseguiu reduzir cristianismo a um padrão de comportamento moralista e moralizador. E fê-lo com um tremendo sucesso. A Igreja é mais conhecida pelo não do que pelo sim. Não é isto triste? Mas onde é que se foi buscar esta ideia? Quem concebeu igreja como a moralizadora da sociedade perdida? Quem concebeu esta ideia peregrina? Não sei. Ou pelo menos acho que não sei. Mas sei que está na hora de a deixar de lado. Abram-se as portas e venham daí. Venham daí os mais desfavorecidos e os mais desgraçados, porque esses é que precisam do favor e da graça. Venham daí os famintos e os sem-abrigo, porque esses é que precisam de alimento e tecto. Venham daí os escorraçados e os oprimidos, porque esses é que precisam de apoio e liberdade. Venham daí, porque as portas estão abertas!
Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas a negligência com que encaramos o Evangelho e a Sua causa palpável na terra tem de acabar! Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas não há coisas pelas quais sejamos ultrapassados, nomeadamente pela antiga, bolorenta, limitadora, tradicionalista e castradora maneira de pensar. Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas está na hora de rebentar com as paredes que se construiram durante anos, e que serviram para não contaminar gente que nem sonhava que já estava contaminada pela negligência com que tratou o Evanglho, ao falhar numa mensagem tão clara como central: que a graça e o perdão de Deus não conhecem limites ou fronteiras! Há coisas que nos ultrapassam? Há, certamente. Mas já chega! Porque aos mornos a História não fará jus, mas dos que, quentes ou frios, assumirem na plenitude o que são e para o que vão! Um NUNCA MAIS carimbado em cima da Igreja morna!
Sejamos duros. O Evangelho é demasiado importante, demasiado caro, demasiado bom para ser desperdiçado neste circo que montámos nestes últimos tempos. E Tu, Deus, perdoa-nos se errámos aqui e ali. Olha para nós e tem compaixão. Faz-nos UM, em relevância, sentido de responsabilidade e amor. É só isso que eu Te peço!
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
2 comentários:
Caro Rúben,
Poucos são os que não partilham da tua frustração. Mas para ser franco, penso que não adianta culparmos o povo de não compreenderem o Evangelho, quando muitos líderes em Portugal não distinguem Lei e Evangelho, justificação e regeneração, Cruz e Reino; não sabem o que é a salvação pela graça, a justificação pela fé e a suficiência das Escrituras. Que fruto poderá advir duma mensagem tão diluída e acéfala e negligente da Palavra?
Creio sinceramente na Reforma e que ela chegue a Portugal; que nos envolvamos no mais profundo estudo teológico (pois é isso o verdadeiro discipulado), para equiparmos o cristão para toda a boa obra e vermos uma transformação real do mundo, tal como os apóstolos no seu tempo.
E lembro que não é nosso dever sermos relevantes para o mundo, mas para Deus. Só assim honraremos o Reino.
O teu irmão em Cristo,
Nuno Fonseca.
Olá Ruben! Este texto reflecte muito daquilo que penso e é do melhor que li nos últimos tempos. Pena é que estes pensamentos não sejam partilhados por muitos dos líderes das igrejas em Portugal. Os cristãos são educados por pessoas negligente e, sendo assim, acaba por ser natural que se tornem eles próprios negligentes. E muitos de nós não nos apercebemos disso.
No entanto, há esperança! Aqui e ali vou vendo pequenos sinais de que há gente inconformada com este "circo", como tu lhe chamas, e tenho fé que, pela graça de Deus e na Sua força, as coisas estão a mudar.
Talvez não mudem a partir do topo da pirâmide, talvez tenham que ser os cristãos anónimos a provocar uma revolução - para mim é mesmo esta a palavra certa - motivada pelo amor e pela urgência e não pela rebeldia. Talvez Deus possa usar a nossa geração para que Portugal conheça uma Igreja formada por pessoas que sejam realmente representantes de Jesus na terra, sal e luz, uma família unida pelo Amor do Pai... Há que dobrar os joelhos e, ao mesmo tempo, arregaçar as mangas. Há que fazer a nossa parte e motivar os outros a fazer a parte deles. Foi isso que fizeste através deste texto, mesmo que possa parecer uma mensagem dura. Às vezes uma mensagem dura é mesmo o que precisamos. Obrigado por teres partilhado isto connosco.
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