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É fruto da maneira como vejo o mundo. Aceitam-se discordâncias e divergências, sempre dentro de uma lógica de boas maneiras, claro!

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Thursday, April 29, 2010

Pedem-se soluções

Mais do que procurar, pedem-se soluções! Ao longo destas últimas semanas fui escrevendo e falando (no '3 minutos da UCB Portugal) sobre os defeitos e as qualidades do povo deste país à beira-mar plantado. Muita coisa poderia ter escrito mais, mas decidi cingir-me ao essencial, na minha singela e modesta opinião. Mas a crise, a cujo agravameto temos assistido nos últimos dias, pede que se tomem medidas, que se encontrem soluções, que haja o contributo de todos. Que medidas? Que soluções? Tentemos encontrá-las, então...

Solução 1 - A verdade.

Há que ser verdadeiro. Chega de promessas vãs e pouco claras. É preciso que saibamos o quão funda vai esta crise. É preciso que a nossa preocupação nãos esteja nas TVI's ou nos Rui Pedro Rocha's ou nos Paulo Penedos desta vida. A nossa concentração deve estar centrada em saber como vai verdadeiramente este país. Quanto devemos, de quanto precisamos, o que é necessário fazer, quais os sacrifícios. É clareza neste discurso que é necessária. A primeira forma de sair de um problema é reconhecê-lo e avançar na sua direcção para o resolver. E para isso é preciso ver o problema sem nevoeiro, sem filtros nem distorções da realidade. É preciso vê-lo com olhos seriamente orientados e sem pré-concepções. É preciso ver a verdade...

Solução 2 - Colaboração

Ontem foi dado um bom passo. Gostei de Passos Coelho quando disse que o maior partido da oposição estava ali para ajudar a encontrar soluções, e quando garatiu que não contassem com o seu partido para uma crise política. É precisa colaboração, disponibilidade para fazer em conjunto aquilo que, separados, teremos muito mais dificuldade em alcançar. São precisos cortes? Comecemos pela classe política, cortando nas despesas supérfluas massivas que ocorrem na administraçao central! É precisa colaboração de todos? Então que comecemos pela classe política, que em vez e apontar problemas, deve começar a apontar soluções! É preciso mais esforço? Comecemos então todos nós a dar o exemplo, concentrando os nossos esforços em comportamentos que ajudem o nosso país, consumindo produtos nacionais, gastando menos em bens de necessidade duvidosa, e ajudando quem mais precisa de forma activa e regular. É precisa a colaboração de todos! E todos significa todos mesmo!

Solução 3 - Olhar para lá da nuvem

A nuvem é densa e a tendência é focarmo-nos dela. É preciso olhar para lá da nuvem, para lá dos problemas, para lá das dificuldades. É preciso olhar, planear, pensar como pdoeremos sair e o como podemos sair daqui. É altura de, tal como J.F.Kennedy afirmou nos anos 60, perguntar ao nosso país o que podemos fazer por ele, em vez de perguntarmoso que pode ele fazer por nós. É tempo de sermos rigorosos para com quem vive na base da desnestidade e da mentira. É tempo de dar a quem precisa e tirar a quem vive em preguiça. É preciso olhar o futuro, não apenas a nuvem, mas o futuro brilhante e radioso que nos espera...

Solução 4 - Um espírito de Inter Milão

Esta semana o Inter jogou no campo do Barcelona. Basicamente, e trocando isto por miúdos, o Barcelona é uma equipa magnífica, talvez a melhor do mundo. O Inter treinado por Mourinho, sabia que tinha pela frente uma tarefa hercúlea, e montou uma estratégia para ultrapassar o seu adversário. Viu-se confrontado com a lesão de um dos seus melhores jogadores no aquecimento. Viu-se confrontado com a expulsão de um seu jogador ainda antes da meia-hora. Decidiu jogar feio e sem grande magia. Sem floreados nem coisinhas bonitas. E passou à final! É altura de deixarmos para trás os floreados, as bonitas coisas como estádios, estradas e aeroportos, tudo coisas muito charmosas e megalómanas. É preciso jogarmos feio em direcção aos resultados de que precisamos, ficarmos cientes de que temos um objectivo pela frente, que é levantar o nosso país do marasmo em que se encontra e devolver-lhe uma esperança que parece estar perdida. É preciso compreendermos que vão ter de ser tomadas decisões pouco belas, mas indispensáveis se queremos existir daqui a 10, 20 ou 50 anos. É preciso jogar à Inter. Bonito? Que interessa o bonito se não existirmos daqui a 10 anos?

Wednesday, April 21, 2010

O Mariquismo Cristão

Nota prévia: As expressões 'mariquismo' e 'mariquinhas', utilizadas várias vezes neste artigo, não têm por base qualquer referência a questões de orientação sexual. As mesmas são utilizadas num contexto que evoca a linguagem infantil, designando uma acção que deixa de ser feita por medo das consequências imediatas ou posteriores.

Somos uns mariquinhas. Pé de salsa, acrescentaria nos meus tempos de escola. Não aguentamos nada, somos incapazes de lidar com a decepção, pensamos que tudo se faz em 21, 6 e até em 3 passos, e esquecemo-nos que a graça da vida está na jornada e não no alcançar dos objectivos. Se os pudéssemos alcançar assim, de mão beijada, deixariam de ter todo o seu sabor. Mas não, continuamos e estamos cada vez piores na nossa intolerância ao fracasso, à dor e à desilusão. Volto a afirmá-lo: estamos feitos uns mariquinhas...

‘Ai, Rúben, estás tão azedo!’ Não, não estou. Estou até bastante bem-disposto. Mas começa a causar-me urticária extrema este mariquismo. Dei por mim um dia destes a perguntar-me a mim mesmo: ‘estás um bocadinho maricas, a queixares-te de tudo e de nada, não estás?’ E a resposta foi um sim. Oh meu Deus! Também tu, Rúben?!?! É verdade, ou era porque tinha muito trabalho, ou porque tinha pouco tempo livre, ou porque isto ou porque aquilo. ‘Vamos lá parar com isto!’ pensei eu. Afinal, quero ou não quero crescer? Afinal, quero ou não quero fazer coisas maiores que eu próprio? Afinal, aceitei ou não entregar-me a uma causa de coração, independentemente do preço a pagar?

A maior parte de nós precisa de trabalhar a sua capacidade de sofrimento e aprender a carregar os diversos pesos que a vida nos vai colocando aos ombros aqui e ali. Temos de deixar de ser crianças que choram desesperadamente à primeira queda e joelho esfolado, e temos de ser mais duros, mais, desculpem a expressão, homenzinhos. Capazes de suportar tempos de abundância e de falta, tempos de sol e de chuva, tempos de vitória e tempos de tremenda dificuldade.

Não se esqueçam que, para a maior parte de nós, já lá vai a fase de meninice relativamente à vida. Já sabemos que nem sempre teremos sacos de algodão para transportar, e que muitas vezes teremos de transportar gigantescas barras de aço durante períodos de tempo bem razoáveis. É estranho quando os mesmos desafios nos colocam os mesmo problemas. Era suposto crescermos com eles, e não apenas encararmos os mesmos desafios continuamente. É essa fase de meninice mariquinhas que precisamos de ultrapassar. É verdade que as quedas esfolam os joelhos, os cotovelos, às vezes até partimos a cabeça ou algum osso, mas nada disso deixa de ter remédio. Há que levantar a cabeça, levantar o corpo do chão, levantar a moral das tropas, e prosseguir, prosseguir em direcção ao rumo. É verdade que as recuperações muitas vezes diferem do tamanho da queda e das repercussões da mesma, mas ficar sentado no chão a chorar pelo braço partido não o vai curar.

A minha pergunta é: e se Jesus se tivesse regido pelas nossas típicas acções ‘mariquinhas’?

Muito provavelmente, quando confrontado com a mágoa, que é das primeiras atitudes de ‘mariquinhas’ que revelamos, Ele teria fugido aquando da entrada triunfal em Jerusalém, dizendo alguma coisa como: ‘então vocês que estão aqui tão contentes comigo, a saudar-me triunfalmente, são os mesmos que me vão crucificar daqui a uma semana? Epá, então desculpem lá mas a vossa atitude magoa-me de sobremaneira. É por isso que renuncio à minha qualidade de Salvador do mundo, devido à muita dor que me causaram a hipocrisia dos habitantes de Jerusalém.’ Muitas vezes agarramo-nos à mágoa que outros nos causaram, às más atitudes de x ou y. Não me vou agarrar ao argumento de que todos nós magoamos alguém durante a nossa vida, embora ele seja verdade. Mas vale a pena pensar no que Jesus fez, apesar da atitude hipócrita daquela gente. Será que Jesus não estava magoado com a situação? Certamente...mas os mesmos que o saudaram vitoriosamente, que eram os mesmos que o crucificaram uma semana depois, esses mesmos que o magoaram, foram também os mesmos a quem Jesus trouxe a possibilidade de perdão e arrependimento. Jesus não refugiou na sua mágoa profunda para com aquela gente, nem sequer lhe dedicou grane atenção. Limitou-se a relatar o que haveria de acontecer, nada mais. Não havia mágoa que o parasse, ele sabia que estava prestes a escrever história!

E se Jesus tivesse feito aquilo que muitas vezes fazemos, usar o argumento do peso excessivo? O ‘isto é demasiado pesado’ ou o ‘eu não aguento’. Só um aparte para dizer que há, de facto, momentos em que isso é verdade. Mas já repararam que, quem sua esse tipo de argumento, usa-o numa base constante? Estão sempre ‘cheios de trabalho, estão sempre cheios de dificuldade em gerir porque é tudo em demasia. Jesus passou por um momento, apenas um momento similar: pediu a Deus para ‘afastar de mim este cálice’. Jesus sabia que aquilo era demasiado pesado e que implicava grande sofrimento. Mas ele estava disposto a ir ate ao fim, como se viu no que resta da História. Será que ele não poderia, depois de ter pedido a Deus para afastar toda aquela dor, ter dito algo como: ‘Oh Deus, desculpa lá, mas isto é demasiado duro. Conta comigo para pregar em tudo quanto é sítio, ir aqui e acolá, fazer discípulos, deixar a cabeça dos fariseus em água, epá mas para ser crucificado como se fosse um criminoso, isso não! O que quiseres menos isso, porque eu não aguento!’ Apesar de tudo, Ele aguentou até ao fim. Ele sabia que era uma situação passageira, cujos proveitos seriam muito maiores que o seu esforço, que, embora sobre humano, era apenas momentâneo. E foi com os olhos postos num futuro radioso que Ele se predispôs a tudo isto...

Talvez falte aqui a cobardia. O seu contrário, a valentia, não a considero a ausência de medo, mas sim o avançar apesar do mesmo. A cobardia é olhar demasiado para o medo e de menos para o que o futuro nos reserva. Coisas novas implicam processos novos, caminhos desconhecidos, e problemas nunca antes solucionados. Mas será esta conjugação de factores que nos levará a lugares nunca antes alcançados. Se Jesus tivesse tido medo do desconhecido, hoje seríamos gente perdida no meio do falhanço do plano divino, vergados ao peso do mal e da culpa. Se Jesus se tivesse vergado perante o peso da cobardia, não teríamos visto a mudança da História que ainda hoje pode ser feita na vida de cada um. Se Jesus não tivesse avançado no meio do escuro desconhecido, hoje não teríamos a possibilidade de vermos este resultado: vidas transformada diariamente por um Deus pessoal, amoroso, gracioso e que está à disposição de todos aqueles que o quiserem receber.

Friday, April 16, 2010

O que é nosso...

Estranha mania a dos portugueses de desvalorizar o que é nosso. A nossa música é sempre a mais pirosa, os nossos políticos são sempre os mais horríveis e porcos corruptos, a nossa selecção devia jogar sempre mais, mesmo que tenha dado 5-0 ao Brasil...nunca estamos satisfeitos! 'Oh insaciável povo este', diria Camões da alto da sua pala de sapiência. Eu diria que é uma terrível insegurança que nos leva a este ponto...mas insegurança relativa a quê?

Somos inseguros quanto à nossa história - Síndrome da Ignorância Adquirida

Um povo que não sabe de onde veio, dificlmente saberá para onde ir. Temos uma história rica mas infelizmente pouco valorizada. É claro que o nosso olhar não deve estar lá atrás, mas também há limites para tudo...Infante D.Henrique Vasco da Gama, Pedro Álvares Cabral, Luiz Vaz de Camões, são nome dos quais devemos saber a história de trás para a frente. Raios! Triste país em que as referência se chamam José Mourinho e Cristiano Ronaldo (com todo o respeito que me merecem...). Triste país em que há feriados religiosos por tudo e por nada e em que só há um feriado dedicado a uma figura da história portuguesa! Triste país que ignora de onde vem, porque isso é sinal que ignora para onde vai...

Somos inseguros quanto ao presente - Síndrome Velho do Restelo

Aqueles que ainda conhecem a História de Portugal sabem-no, mas talvez não consigam sempre enquadrar da melhor maneira (eu próprio a maior parte das vezes esqueço-me dele...). Falo da história do velho do restelo, imortalizado na expressão popular similar que define o pessimista exacerbado, aquele para quem o fim do mundo está mesmo aí há esquina há, pelo menos, 50 anos. Esquecemo-nos que essa figura pontua aquilo que é mais comum nos portugueses: a figura que rejeita o que é novo, a figura que não assume riscos, a figura que inflama meia dúzia de iluminados e os leva a rejeitar liminarmente qualquer ideia que venha romper com o pré-estabelecido. Para o velho do restelo o mundo era plano, e aqueles burros, em quem o Reino tinha gasto tanto dinheiro, iam morrer, porque iam cair na borda do mundo. Ainda hoje há uns quantos iluminados que continuam a dizer que devemo-nos manter tal como estamos, sem riscos, aqui fechadinhos na nossa casa. Relembremo-nos que Portugal foi grande quando se abriu ao mundo. Se calhar está na hora putra vez...

Somos inseguros nos conflitos - Síndrome de Pequenez

Algures no tempo perdemos aquele espírito de padeira de Aljubarrota que nos trouxe até aqui e nos fez despachar castelhanos à velocidade da luz. É óbvio que o tom é de brincadeira, mas não o conteúdo. Portugal tornou-se um país de extremo politicamente correcto. Evitamos o confronto, o conflito. Muitos entendidos dizem que isso deve-se ao facto de sermos um país estável em termos de conflitos bélicos há muitos e muitos anos. Talvez seja. Mas precisamos de recuperar esse espírito 'padeira de Aljubarrota'! Precisamos de perder o medo de ir à guerra, de meter o pé, precisamos de deixar de ser o pequenino bem comportado. É essa pequenez estampada na tentativa de fazer tudo muito bem feitinho que nos tem causado tantos problemas e nos tem afundado cada vez mais no fundo dos fundos dos fundos da relevância a nível mundial.

Significa isto que estamos feitos? Não, porque muitas outras coisas temos de extraordinário...falamos disso depois, ok?

Wednesday, April 14, 2010

A vã glória de corrigir sendo corrigido

Titulo estranho e poético. Eu sei, foi essa a ideia. Ao mesmo tempo que fiz um título engraçado, consegi que ele tivesse sentido, isto tendo em conta aquilo que vou escrever a seguir...nada mau, nada mau, mesmo!

Nenhum de nós pode dar-se ao luxo de dizer que não precisa de ser corrigido. Mesmo orgulhosos, sabemos lá no fundo que temos que mudar uma ou outra coisa (mas alguns dizem logo 'não mais do que isso!) para que a nossa vida seja maior e para que o nosso futuro seja mais risonho. Ao mesmo tempo, a correcção é das coisas com que lidamos pior. Não seria estranho se a correcção não fosse o que é na realidade: a aceitação do que fizemos ou somos de menos bom, e o assumir como irremediável uma coisa chamada mudança...ouch!

Há que perceber que somos uma contante mutação, e que quem pára não morre, é um facto, mas torna-se um mero peão, sem infuência, sem capacidade de adaptação. sem capacidade de sobrevivênca no médio/longo prazo. É a aceitação da correcção e a consequente mudança que nos torna capazes de nos melhorarmos a nós próprios, regenerando a nossa maneira de pensar, de agir, de ver, de viver. Em suma, diz-me o quanto és capaz de ser corrigido, e eu dir-te-ei quão longe chegarás...

Há que encontrar o equilíbrio fundamental entre a firmeza e mudança. Muitos confundem a segunda com incapacidade de ser firmes numa determinada decisão. Costumo dizer que, se me provarem por a+b que a opção que me apresentam é melhor que a minha, então só se for burro é que não a levo em consideração. Por outro lado, mudar de decisão sem estar certo de que se muda para melhor, é, isso sim, falta de firmeza. Esta capacidade de reconhecer nos outros as ideias melhores que as nossas é das melhores coisas de um líder. É ele que decide, sim. Mas nada como termos uma liderança que decide o melhor, não olhando à(s)cara(s) ou ao(s) nome(s) por detrás de determinada ideia.

Precisamos de ser mais inteligentes perante a correcção. Afinal, se for justa, ela vem para nosso bem e crescimento. Vem para que mudemos o nosso interior e as nossas acções para melhor. Só alguém muito inseguro é capaz de ver na correcção uma punição ou um castigo. Até o pode parecer à primeira vista. Mas se olharmos para lá do nevoeiro, obteremos, como sempre que vemos as coisas dessa maneira, a imagem fiel do que ela representa: uma oportunidade de crescimento e mudança para um futuro melhor e mais brilhante.

Quem corrige ama, e quem ama corrige, é uma frase que tem grande fundo de verdade. Mal de alguém que me seja próximo quando eu me torno indiferente aos seus erros, é sinal de indiferença. E sabem qual o contrário desse tal senhor que corrige? Pois, é isso mesmo...

Tuesday, April 6, 2010

As voltas do criativo

Não importam as voltas que damos. Não importa todo o trabalho em que estamos embrenhados, nem toda a bulícia do dia-a-dia. Não importa o quanto estamos ocupados, ou o quanto andamos cansados, ou o quanto queremos compor ou desenhar ou criar. O que importa é que recebemos uma chamada. E é da nossa casa! Quer que regressemos àquilo que realmente interessa...

E o que interessa realmente? É o porquê. Quando perdermos a noção do porquê, perderemos tudo, porque sem o porquê, nada faz sentido. É demasiado fácil perdermos o porquê, a razão, o centro das coisas. O deslumbramento talvez seja o culpado, embora também seja fácil culpar o excessivo trabalho. Mas não, é o deslumbramento que se assume como o principal responsável pela perda da identidade central e fulcral do papel do criativo...porquê?

Porque no dia em que criarmos algo do 'nosso tamanho', perdemos a magia da criatividade, do criar. A ambição de todo o criativo, é criar algo maior que ele próprio, que perdure, seja uma música, um filme ou uma obra de arte de outra estirpe. É essa a maior e mais bela ambição do criativo. E isso obriga-nos a procurar uma 'musa' maior do que nós mesmos, um ponto de inspiração que nos ultrapasse, e que permita que a criação seja maior e mais bela que o criador. Ora, só é possível tal desígnio se a nossa 'musa' for a fonte suprema de inspiração, infinito quer no flow in, quer no flow out, e que constantemente nos desafia e ultrapassa os limites da nossa imaginação, do nosso pensamento criativo. E por mais que tente dar voltas para encontrar a melhor e mais completa musa, eis que dou por mim a regressar ao mesmo ponto de inspiração...

Porque no dia em que formos incapazes de reflectir a essência da criatividade, seremos incapazes de criar. E o que é a essência da criatividade? Despirmo-nos do que já existe e reinventarmos aquilo que pensávamos já estar inventado. Parece difícil, e é-o, na realidade. Temos de nos desformatar daquilo que já há está formado na nossa cabeça, sob pena de sempre voltarmos à mesma forma. E sé é suposto voltarmos à mesma musa, é contra o voltarmos à mesma forma que os criativos lutam dia após dia. Há que desligar do como foi feito ontem, e do como é feito hoje, ser criativo é fazer a ligação com o como será feito amanhã. É reencontrar esta essência da criatividade, que nos faz desesperar por moldar o futuro. Isso é criatividade! É desfazer, desformatar, desmontar, para que seja possível criar, construir, consubstanciar o que ainda não foi feito...

Porque criar é trazer o futuro para hoje. É isso que criamos, o futuro. É pegar naquilo que gostaríamos que fosse feito amanhã, e fazê-lo hoje, de uma maneira que nunca o mundo pôde antes ver. Isso é criatividade, mesmo que nos tentem enganar tantas vezes, oferecendo-nos vinho velho em odres novos. Os odres são bonitos, mas o conteúdo deles é o mesmo, vinho velho. A realidade é que as pessoas estão fartas do vinho que beberam ontem, elas querem um vinho novo, de aroma e gosto suave, mas intenso, que lhes provoque emoções, sensações, e não a indiferença do costume. É isso que é a criatividade, é tratar do odre e do vinho, é dar beleza, mas também dar conteúdo, é trazer o vinho bom para a frente. E por isso o criativo não é mais do que aquele que pinta de futuro o presente.

Porque criar é ver com outros olhos, com outros óculos, ver o que poucos viram, ou o que muitos acharam inexequível. É ver para lá da névoa e da dúvida, e vislumbrar uma beleza nunca antes vista. É conseguir ver mais do que apenas o imediato, as dificuldades, as impossibilidades, e projectar, numa tela por vezes baça, uma imagem que vai para lá da mesma tela, e que consegue captar a essência do que há de vir. É por isso que não raras vezes quem cria é incompreendido, é-o porque vê o que mais ninguém vê, e isso é considerado louco. Cria aquilo que vê para lá do nevoeiro.

Porque sem voltar ao centro, à forma, à 'musa' inicial, tudo isto que escrevi há-de desvanecer-se. Porque até hoje ainda só conheci uma pessoa, capaz de ir para lá do razoável e do imaginável, só conheci uma pessoa que consegue ver todo o mundo com outros olhos, só conheci uma pessoa capaz de trazer constantemente o futuro para hoje, convidando-nos a entrar nele dia após dia, após dia, após dia. Amigos criativos, é exactamente para Ele que devemos voltar...