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Wednesday, April 21, 2010

O Mariquismo Cristão

Nota prévia: As expressões 'mariquismo' e 'mariquinhas', utilizadas várias vezes neste artigo, não têm por base qualquer referência a questões de orientação sexual. As mesmas são utilizadas num contexto que evoca a linguagem infantil, designando uma acção que deixa de ser feita por medo das consequências imediatas ou posteriores.

Somos uns mariquinhas. Pé de salsa, acrescentaria nos meus tempos de escola. Não aguentamos nada, somos incapazes de lidar com a decepção, pensamos que tudo se faz em 21, 6 e até em 3 passos, e esquecemo-nos que a graça da vida está na jornada e não no alcançar dos objectivos. Se os pudéssemos alcançar assim, de mão beijada, deixariam de ter todo o seu sabor. Mas não, continuamos e estamos cada vez piores na nossa intolerância ao fracasso, à dor e à desilusão. Volto a afirmá-lo: estamos feitos uns mariquinhas...

‘Ai, Rúben, estás tão azedo!’ Não, não estou. Estou até bastante bem-disposto. Mas começa a causar-me urticária extrema este mariquismo. Dei por mim um dia destes a perguntar-me a mim mesmo: ‘estás um bocadinho maricas, a queixares-te de tudo e de nada, não estás?’ E a resposta foi um sim. Oh meu Deus! Também tu, Rúben?!?! É verdade, ou era porque tinha muito trabalho, ou porque tinha pouco tempo livre, ou porque isto ou porque aquilo. ‘Vamos lá parar com isto!’ pensei eu. Afinal, quero ou não quero crescer? Afinal, quero ou não quero fazer coisas maiores que eu próprio? Afinal, aceitei ou não entregar-me a uma causa de coração, independentemente do preço a pagar?

A maior parte de nós precisa de trabalhar a sua capacidade de sofrimento e aprender a carregar os diversos pesos que a vida nos vai colocando aos ombros aqui e ali. Temos de deixar de ser crianças que choram desesperadamente à primeira queda e joelho esfolado, e temos de ser mais duros, mais, desculpem a expressão, homenzinhos. Capazes de suportar tempos de abundância e de falta, tempos de sol e de chuva, tempos de vitória e tempos de tremenda dificuldade.

Não se esqueçam que, para a maior parte de nós, já lá vai a fase de meninice relativamente à vida. Já sabemos que nem sempre teremos sacos de algodão para transportar, e que muitas vezes teremos de transportar gigantescas barras de aço durante períodos de tempo bem razoáveis. É estranho quando os mesmos desafios nos colocam os mesmo problemas. Era suposto crescermos com eles, e não apenas encararmos os mesmos desafios continuamente. É essa fase de meninice mariquinhas que precisamos de ultrapassar. É verdade que as quedas esfolam os joelhos, os cotovelos, às vezes até partimos a cabeça ou algum osso, mas nada disso deixa de ter remédio. Há que levantar a cabeça, levantar o corpo do chão, levantar a moral das tropas, e prosseguir, prosseguir em direcção ao rumo. É verdade que as recuperações muitas vezes diferem do tamanho da queda e das repercussões da mesma, mas ficar sentado no chão a chorar pelo braço partido não o vai curar.

A minha pergunta é: e se Jesus se tivesse regido pelas nossas típicas acções ‘mariquinhas’?

Muito provavelmente, quando confrontado com a mágoa, que é das primeiras atitudes de ‘mariquinhas’ que revelamos, Ele teria fugido aquando da entrada triunfal em Jerusalém, dizendo alguma coisa como: ‘então vocês que estão aqui tão contentes comigo, a saudar-me triunfalmente, são os mesmos que me vão crucificar daqui a uma semana? Epá, então desculpem lá mas a vossa atitude magoa-me de sobremaneira. É por isso que renuncio à minha qualidade de Salvador do mundo, devido à muita dor que me causaram a hipocrisia dos habitantes de Jerusalém.’ Muitas vezes agarramo-nos à mágoa que outros nos causaram, às más atitudes de x ou y. Não me vou agarrar ao argumento de que todos nós magoamos alguém durante a nossa vida, embora ele seja verdade. Mas vale a pena pensar no que Jesus fez, apesar da atitude hipócrita daquela gente. Será que Jesus não estava magoado com a situação? Certamente...mas os mesmos que o saudaram vitoriosamente, que eram os mesmos que o crucificaram uma semana depois, esses mesmos que o magoaram, foram também os mesmos a quem Jesus trouxe a possibilidade de perdão e arrependimento. Jesus não refugiou na sua mágoa profunda para com aquela gente, nem sequer lhe dedicou grane atenção. Limitou-se a relatar o que haveria de acontecer, nada mais. Não havia mágoa que o parasse, ele sabia que estava prestes a escrever história!

E se Jesus tivesse feito aquilo que muitas vezes fazemos, usar o argumento do peso excessivo? O ‘isto é demasiado pesado’ ou o ‘eu não aguento’. Só um aparte para dizer que há, de facto, momentos em que isso é verdade. Mas já repararam que, quem sua esse tipo de argumento, usa-o numa base constante? Estão sempre ‘cheios de trabalho, estão sempre cheios de dificuldade em gerir porque é tudo em demasia. Jesus passou por um momento, apenas um momento similar: pediu a Deus para ‘afastar de mim este cálice’. Jesus sabia que aquilo era demasiado pesado e que implicava grande sofrimento. Mas ele estava disposto a ir ate ao fim, como se viu no que resta da História. Será que ele não poderia, depois de ter pedido a Deus para afastar toda aquela dor, ter dito algo como: ‘Oh Deus, desculpa lá, mas isto é demasiado duro. Conta comigo para pregar em tudo quanto é sítio, ir aqui e acolá, fazer discípulos, deixar a cabeça dos fariseus em água, epá mas para ser crucificado como se fosse um criminoso, isso não! O que quiseres menos isso, porque eu não aguento!’ Apesar de tudo, Ele aguentou até ao fim. Ele sabia que era uma situação passageira, cujos proveitos seriam muito maiores que o seu esforço, que, embora sobre humano, era apenas momentâneo. E foi com os olhos postos num futuro radioso que Ele se predispôs a tudo isto...

Talvez falte aqui a cobardia. O seu contrário, a valentia, não a considero a ausência de medo, mas sim o avançar apesar do mesmo. A cobardia é olhar demasiado para o medo e de menos para o que o futuro nos reserva. Coisas novas implicam processos novos, caminhos desconhecidos, e problemas nunca antes solucionados. Mas será esta conjugação de factores que nos levará a lugares nunca antes alcançados. Se Jesus tivesse tido medo do desconhecido, hoje seríamos gente perdida no meio do falhanço do plano divino, vergados ao peso do mal e da culpa. Se Jesus se tivesse vergado perante o peso da cobardia, não teríamos visto a mudança da História que ainda hoje pode ser feita na vida de cada um. Se Jesus não tivesse avançado no meio do escuro desconhecido, hoje não teríamos a possibilidade de vermos este resultado: vidas transformada diariamente por um Deus pessoal, amoroso, gracioso e que está à disposição de todos aqueles que o quiserem receber.

2 comentários:

Soni@ Santos said...

Fantástico!
Obrigada por me relembrares que houve alguém que já passou por coisas bem piores...sem comparação, para que hoje eu possa confiar e olhar sempre em frente!

Carlos Pinto Leite said...

Magistral! Sem dúvida, a vida não é para mariquinhas mas para homens (e mulheres) de barba rija.