Entretidos. Andamos muito entretidos. Basta um Porto-Benfica e esquecemo-nos logo dos problemas e da crise e da falta de dinheiro e dos submarinos, etc, etc, etc. Andamos demasiado ocupados a tentar perceber se o Benfica é campeão neste ou no próximo fim-de-semana, andamos demasiado ocupados com os PC's, os Mac's, as Playstations, os 'talkshows', o futebol, as novelas, e esquecemo-nos que temos uma vida, uma família, uma cidade, um país e um mundo para criar. 'Eh, Ruben...que gravidade vai para aí!' dirão alguns...será? Estarei assim tão enganado? Não estará na altura de devolvermos o entretenimento ao sítio onde ele merece estar?
Eu adoro entretenimento. Adoro ser entretido. Sim, gosto do Jay Leno e do Conan. Sim, também sou apaixonado pela bola e ninguém me tira o Benfica ou a selecção. Sim, gosto disso tudo e ainda de mais algumas coisas. E é exactamente isso que me está a tirar do sério. Não é o gostar delas, entenda-se, mas é a importância que lhes dou, eu e meio mundo. Afinal, serão as 3 pedras no autocarro do Benfica são mais importantes que o empréstimo à Grécia? Será a próxima piada do Ricardo Araújo Pereira (por muito boa que seja...) mais importante do que descobrir o que se passou com os submarinos? Será o campeonato do mundo mais importante do que o tamanho da dívida externa portuguesa? A resposta é não! Então, porque nos esquecemos tão rapidamente do que é preciso fazer quando estamos entretidos. Porque continuamos a cair no 'Futebol, Fátima e Fado'? Porquê?
Isto do excesso de importância do entretenimento é fácil de explicar. Estamos tão embrenhados nos problemas do dia-a-dia, que a última coisa que queremos é pensar nos problemas dos outros e do próprio país quando chegamos a casa. O problema 1 disto é que nos limitamos a empurrar os problemas com a barriga enquanto assim for. O problema 2 é que lá se vai a participação cívica e a contribuição activa para mudar o actual estado de coisas. O problema 3 chama-se ópio e deriva do estado de euforia generalizada em que muitas vezes se vive durante determinados períodos de tempo. É o que acontecerá no Mundial. Durante um mês vai parecer que não temos problemas. Afinal, estamos ali, no meio dos melhores do mundo. Ricardo Araújo Pereira dizia que 'se o Governo prometesse que o Benfica seria campeão, desde que eu andasse descalço por cima de vidros, então nem pensava duas vezes...venham de lá esses vidros!'
A cabeça vazia é o objectivo do entretenimento. O mesmo tem substituído a instrução e a valorização cultural do indivíduo. É possível aprender-se no entretenimento, mas não é a mesma coisa. Há que devolver o equilíbrio a tudo isto. Eu quero ser entretido. Sabe-me bem e ajuda a não entrar em paranóia. Mas eu também preciso de me alimentar culturalmente e não apenas ser um burro entretido. Porque, se não pusermos 'a pau', é para aí que caminhamos...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
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