‘São só três dias, senhor!’, exclamava aquele homem, num tom esbaforido e quase sem fôlego. Eu olhava para ele e pensava no quão irreal era aquela previsão. Afinal, quais seriam as hipóteses de, daqui a três dias, tal acontecimento de dimensão superior, acontecer? Poucas, pensava eu, mas o homem teimava, ‘três dias, senhor, três dias! Espere só mais três dias…’
Eu continuava a pensar que três dias era muito tempo. Tudo o que ultrapassa as três horas causa-me logo náuseas, quanto mais três dias. Raios! E logo agora que estava tudo tão bem encaminhado. Disse-lhe um ‘já volto’ frio e evasivo, na esperança de que ele próprio se deixasse daquela gritaria e daquela ideia. Tinha mais que fazer (frase que norteia toda a minha vida) e aquilo já se inseria no que eu habitualmente designaria de ‘palhaçada’.
Esperar três dias por uma coisa que nem sei se viria a acontecer, nem que hipotéticos resultados teria? ‘Não, nem pensar’, era o que me passava pela cabeça. Afinal, 'tenho dinheiro, estou bem na vida, gosto de tudo JÁ, e esperar nunca foi o meu forte. A minha assitente já sabe como é. É tudo hoje, agora, e às vezes, ontem! Não tenho tempo, nem paciência, nem quero esperar nem um, nem dois, quanto mais três dias! Isto comigo é tudo a andar e sem paragens, é a aviar cartucho’ pensava eu, como que a relembrar-me a mim mesmo como funciono.
Estava eu no meio do meu brainstorming de auto-elevação, quando um pequeno calafrio, pequeno mesmo, me passou pela área a que carinhosamente chamamos ‘espinha’. Corrente de ar? Ar condicionado? Olhei à volta e nada disso. Já sabia o que era. E quase que me chateei com isso. Era ‘aquela’ sensação que me ia obrigar a ir contra o que tinha acabado de pensar, a seguir o chamado ‘feeling’. ‘Raios!’ exclamei, como se estivesse destinado e automaticamente obrigado a ler e a cumprir aquilo que o tal de ‘feeling’ me tinha designado.
Virei a esquina e lá estava o tal homem. Antes que aquela cantilena começasse outra vez (o facto de eu lhe dar os três dias não significava que eu o quisesse ouvir de novo…) levantei o braço direito no ar, num sinal de ‘pare’, e avancei para ele, decidido e seguro. ‘Três dias, nem mais um’, disse-lhe eu com aquela voz de mau que tão bem sei fazer, ‘nem mais um’. O homem disse-me, então, um feliz mas tímido ‘não se vai arrepender, senhor’ que eu só dias depois compreenderia.
Mal sabia eu que, aos três dias, a minha vida iria mudar. Para sempre…
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
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