Que referência e exemplo. Podemos até nem ser amantes de ciclismo, ou do fenómeno desportivo, mas temos de reconhecer que ele é capaz de produzir fenómenos que se tornam referências positivas e inspiradoras. Lance Armstrong é uma dessas figuras. Não apenas pelo talento. Corrijo, não pelo talento. O título do seu livro (que, infelizmente, ainda não tive oportunidade de ler...) é sintomático e foi, para mim, de grande inspiração. 'O ciclismo não é acerca da bicicleta' é um título que faz pensar sobre o que é a nossa vida.
Todos sabemos que no ciclismo a bicicleta é importante, claro. É indispensável que ela esteja em condições, devidamente afinada e arranjada, sem problemas, de preferência. Mas, se formos analisar as razões por detrás do sucesso ou insucesso, vemos que a bicileta não assume lugar de preponderância. Sem as pernas do ciclista, sem o pulmão do ciclista, sem a capacidade de sofrimento do ciclista, sem a capacidade de superação do ciclista, sem a capacidade de recuperação do ciclista em momentos críticos, a bicicleta não é mais que um tremendo e terrível peso.
Creio que é essa a mensagem da vida de Armstrong. A bicicleta da nossa vida é importante. As ferramentas que nos foram dadas são parte dela que não podemos nem devemos negligenciar. Sejam dons ou capacidades, essa ferramentas estão a nosso uso. Mas as nossas capacidades não chegam sozinhs a lado nenhum. Para que a 'bicicleta' ganhe sentido, é necessário que o ciclista a faça andar. Isso implica preparação, sob pena de sermos obrigados a desistir mais à frente. Isso implica capacidade de sofrimento, sob pena de não aguentarmos as 'etapas' de alta montanha. Isso implica capacidade de recuperação rápida, sob pena de não conseguirmos enfrentar um novo dia depois de termos feito um grande esforço. Isso implica que nós, ciclistas, sejamos capazes de pedalar forte, para não ficarmos para trás, dosear o nosso esforço, para que não nos cansemos em etapas que mal contam para a classificação geral, que sejamos capazes de andar na frente do pelotão, para não sermos apanhados por cortes inesperados que nos façam perder o contacto com a frente da corrida. E isso implica que sejamos corredores da 'geral'. Não sprinters, cuja vitória é efémera, mas ciclistas completos, que ambicionem chegar aos Campos Elísios e fazê-lo nos lugares da frente. Tal e qual como Armstrong...
A vida não é medida pelos dons. É medida por aquilo que faço com eles.
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
1 comentários:
Atrevo-me a dizer que este é dos melhores posts teus, desde que conheço as mãos de quem os escreve.Li e reli.Li nas entrelinhas e li o que nelas não existe mas consegues dizer.
Saber ler as lições dos sábios e explicá-las aos comuns com sabedoria é ser um sábio ainda maior, sabias?
Arrepiaste-me. A mim que nunca pedalei a sério nem soube o que é ter uma bicicleta. Em tempos desejei-a, muito. Não para pedalar sozinha nem pelo prazer de a ter, mas para ter a sensação de pedalar lado a lado com alguém que na vida já me fizesse mover.
Agora sei que sem bicicleta consigo dar-lhe o uso para a qual ela foi inventada e sabe bem saber que no caminho tu também és uma das minhas forças motrizes. Obrigada por dares sentido a um sentimento que julguei perdido no tempo. Mafi
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