Ricardo Araújo Pereira perguntou ontem a Manuela Ferreira Leite: 'Então a senhora anda a proclamar a antítese da política, dizendo que não promete nada que não possa cumprir? Mas que raio de brincadeira é esta?'
Estava a ver o programa em directo e de imediato soltei uma gargalhada sonora. É pouco comum ver um plítico, especialmente um candidato a primeiro-ministro responder a uma pergunta iniciada com a expressão 'mas que raio'. Mas deixemos o conteúdo da pergunta e passemos ao que me leva a escrever: aquilo a que damos importância numa campanha eleitoral.
Ao votar em eleições legislativas, estamos a escolher quem nos governa nos próximos 4 anos. Logo, estamos a falar daquelas que são, no meu entender, e em conjunto com as autárquicas, as eleições mais importantes do ponto de vista da construção do futuro do país. Sendo as mais importantes, exigiriam da parte de quem vota uma atitude responsável. Mas qual é a nossa aitude enquanto eleitores?
Para começar, há sempre uma percentagem superior a 30% que nem sequer se dá ao trabalho de comparecer no dia das eleições. E eu percebo. É difícil votar quando somos ameaçados, quando não temos liberdade para o fazer, e quando é preciso ir para as mesas de voto 3 ou 4 horas antes para conseguir votar. É normal que tudo isto torne desencorajante o acto em si. Em seguida temos os qeu votam pela carinha dos candidatos. Não conhecem nada, não sabem de nada, mas acham o xôr Portas 'tão simpático', ou o xôr Louçã 'tão honesto, coitadinho'. Depois destes temos a maioria, os que votam basicamente porque sim ou porque não. Conhece o programa de Governo? 'Não. Mas gosto muito da D.Ferreira Leite. É séria e o país precisa de seriedade'. Ou então 'não gosto nada do Sócrates, por isso vou votar na Dra.' Propostas conhecidas? Talvez o TGV, mas na realidade nem sabem para que serve ou o que está em jogo. Por fim, a minoria. Aqueles que se dão ao trabalho de ler, de ouvir o que realmente importa. Depois disso dizer 'sim senhor, concordo com as propostas de x ou y, têm o meu voto'. Mas esta realidade que aqui descrevi, talvez com algum exagero, não é mais do que o que nós somos na realidade.
Vejamos bem este facto. O que distingue melhor um político português? A sua obra? As suas propostas? Não, certamente que não. Um político em Portugal é mais conhecido pelo que não cumpriu do que pelo que fez, pelas gaffes e pequenas coisas do que pela obra. Sócrates será sempre lembrado pela promessa dos 150 mil empregos (que afinal foram perdidos, e não criados) e pelo caso da Universade Independente. Durão Barroso será sempre lembrado pelo choque fiscal, a maravilhosa transformação de descida em subida vertiginosa de impostos e pela saída para Bruxelas. Isto só para falar nos mais recentes. Mas não são só as promessas. Nós temos o país que merecemos. Um exemplo claro: talvez não nos lembremos de uma única medida dos 10 anos de governação cavaquista, mas lembramo-nos certamente do episódio 'bolo-rei', em que Cavaco degustava à grande e de boca aberta um enorme pedaço do dito cujo. A nós interessam-nos mais esta questiúnculas e pequenas coisas 'engraçadas' das campanhas e do exercício do poder, do que as verdadeiras questões de fundo. Estamos mais preocupados com o facto de Ferreira Leite dizer 'piquenas e médias empresas' do que com o que é proposto pelo seu partido. Estamos mais interessados na eleição de Sócrates como homem sexy platina na votação do Correio da Manhã, do que em ouvir o que ele pretende fazer durante mais 4 anos. Estamos mais interessados em ouvir Louça a falar da pseudo-moralização da política (naquele tom arrogante de dono da verdade...) e estamos pouco interessados em saber o que faria o BE se fosse Governo. Agora pergunto, o que é mais importante saber para votar: conhecer os programas e ideias ou saber o que veste, o que diz nas 'horas vagas', as gaffes, os gestos, a compra de pseudo-militantes para encher pavilhões e arruadas...afinal, o que interessa isso? Eu quero é saber quem governará melhor o país caso ganhe. Isso é um ponto de vista pessoal, que terei eu próprio de criar. Essa tomada de posição não tem paralelo nenhum com estas pequenitas coisas, que apenas nos distraem do essencial.
Tenho pena que demos tanta importância a estas coisas tão pequenas e insignificantes. Tenho pena que demos demasiada improtância ao que é acessório, e deixemos esquecido o que é essencial. Tenho pena que 95% dos eleitores que vão votar (estimativa minha) nem sequer leia os programas eleitorais de cada partido e escolha de acordo com eles...
É assim que somos. Logo, é normal que quem governa seja nem mais, nem menos, que o nosso fiel reflexo...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
2 comentários:
Eu estou é preocupado com o facto de tu e o Pastor agora escreverem sem o espaço entre o ponto final e o começo de outra frase? Quem inventou isto? Em que faculdade Portuguesa isto foi ensinado? Por essas e por outras... não voto em ti!!!
Ricardo Silvestre
Hás-de me dizer onde é que eu não pus o espaço entre os pontos finais e o início da frase seguinte...
Tens de ir ao oculista ó pazinho!
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