É tiro e queda. À pergunta ‘qual o seu maior defeito?’, 95% dos portugueses pouco mais consegue responder que com um simples ‘teimosia’. O que me leva a pensar que, das duas, uma: ou somos demasiado bonzinhos no que toca a tudo o resto (ideia que, depois de 5 minutos numa estrada portuguesa, deixa de ser hipótese a considerar); ou então somos tão maus na nossa auto-avaliação como o somos a conduzir. Reparem também que este somos maus a conduzir nunca se aplica à primeira pessoa (nunca ouvi ninguém dizer que conduz mal, mas ouço toda a gente a dizer que em Portugal se conduz mal… como se nós conduzíssemos na Conchichina…), mas ao país em geral, exceptuando eu próprio, ou melhor, exceptuando a pessoa que diz a frase.
Não há mudança sem antes haver a percepção e o assumir de que precisamos dela. Há uma frase que eu simplesmente adoro e que diz que ‘somos capazes de ver o grão de areia no olho do nosso vizinho, mas somos incapazes de reparar na trave de madeira que está mesmo à frente dos nossos olhos.’ Poucas frases classificam tão bem o ser humano como esta. Muito perspicazes a apontar o que os outros devem fazer. Tranquilos, pacientes e, muitas vezes, insensíveis, na percepção das coisas que nós próprios temos de mudar.
Esta incapacidade de nos avaliarmos correctamente tem um preço alto a pagar, chamado estagnação. Ninguém é mais velho do que aquela pessoa que está no mesmo sítio há anos e anos e anos consecutivos. É possível ser velho na idade e novo na vida, se soubermos ser os nossos primeiros críticos, os nossos primeiros comentadores, dos nossos hábitos e atitudes. Aposto que se projectássemos noutra pessoa algumas atitudes que por vezes temos, seríamos os primeiros a apontar e acusar. Então porque temos esta tendência de dar ou retirar importância às coisas, consoante elas são praticadas ou ditas por nós, ou por outros? Porque somos assim tão incapazes de ver que, muitas vezes, as acusações que nós fazemos também reportam a coisas que fazemos, sem que reparemos ou sem que consigamos dar importância a isso?
Isto a que propósito? É simples. Uma das leis mais fantásticas da humanidade, é aquela que nos diz que se queremos alguma coisa dos outros para nós, devemos ser os primeiros a libertá-la. Não gostas da maneira como o teu patrão te trata? Então não te queixes, antes trata o teu patrão de forma cordial, simpática e semeia a forma como queres ser tratado sem reinvindicar. Não gostas da maneira como o teu vizinho te olha? Então não vás para casa dizer mal dele. Da próxima vez que o encontrares fala com ele, pergunta-lhe como está, liberta a forma como gostavarias de ser tratado.
Porque não é apontando dedos que iremos ver mudança a acontecer à nossa volta. É sendo os primeiros a mudar e a agir no sentido de fazer de cada lugar, de cada ocasião, de cada oportunidade, algo melhor.
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
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