Interessante este desporto nacional que faz da desgraça alheia o toque de inspiração para o dia. Confesso se ainda não percebi se é apenas uma característica tuga ou se é mesmo o ser humano que é assim. Tenho a sorte de todos os meus amigos estrangeiros (e tantos que elas são...upa, upa!) serem uns porreiraços, o que não dá para fazer uma avaliação global e planetária da coisa.
Duas situações diferentes, duas marcas profundas da cultura portuguesa. Um acidente na estrada. Dois ou três carros completamente destruídos. A polícia a mandar avançar e nós a tentar ver o que nraio se passa ali. Curiosidade? Não. Gosto por perceber que tipo de desgraça alheia ali aconteceu. Por isso é que preferimos passar lá enquanto a polícia não chega, mesmo que nunca na vida paremos para chamar socorro numa situação dessas! Outra. O nosso vizinho, homem que até é simpático, passa pouco tempo em casa, porque se farta de trabalhar. Abre uma empresa, enriquece, embora continue simpático, sempre limitado pelo pouco tempo que passa em casa. Enriqueceu, ouvimos nós? Deve ter sido jogada, negócio escuro, droga, qualquer coisa. Porque enriquecer legitimamente é que nunca. Estranho que depois este mesmo povo vote em Isaltinos, Fátimas Felgueiras e Valentins Loureiros...
Eu confesso que de vez em quando sou acometido por este pensamento. Mas logo que me apercebo de tal facto, esbofeteio-me violentamente a ponto de nunca mais pensar na desgraça alheia como a minha alegria. Foi esta mentalidadezinha que nos tirou do topo do mundo e nos empurrou para o fundo da Europa. Foi esta maneira mesquinha e invejosa de ver as coisas que fez de nós os pequenotes que hoje somos. É por isso que eu prefiro a desgraça alheira. Aquela desgraça que vem em forma de colesterol quando me acometo a um prato da dita cuja como se não houvesse amanhã. É que a desgraça alheira não faz mal a ninguém a não ser a mim mesmo...e ainda me dá o belíssimo prazer de a poder saborear...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
0 comentários:
Post a Comment