A propósito do Saramgo e das suas afirmações, mais uma vez se veio provar que a Igreja (no geral) e os cristãos continuam a padecer de uma doença crónica, revelada de tempos a tempos: incapacidade de lidar com qualquer tipo de crítica ou ideia diferente. Falta-nos fair-play, falta-nos entrar na era da liberdade de expressão e opinião. Foi por isso que, da última vez que esteve em Portugal, na ocasião do lançamento do projecto 'Um Milhão de Líderes', Marcos Witt proferiu vezes sem conta a ideia de que a Igreja deveria ter mais pastores e líderes e menos ditadores. Há gente que ainda confunde capacidade de liderança com capacidade de manipulação e firmeza com teimosia e incapacidade de ouvir críticas ou opiniões.
Quem me conhece ou lê este blog sabe que gosto de arrasar com a ideia da opinião pela opinião. No meu entender, a opinião deve ter em conta alguns factores: o factor oportunidade, o factor conhecimento, o factor construtivo e o factor humildade. O factor oportunidade porque devemos esperar pela hora certa para dar a nossa opinião. O factor capacidade porque nos devemos limitar a opinar sobre questões sobre as quais tenhamos conhecimento. O factor construtivo porque nos devemos limitar a opinar para construir e nunca para destruir. O factor humildade, porque devemos estar prontos para que a nossa opinião não seja reconhecida como válida. Ora, logo a Igreja, onde opinião é quase sagrada, é que havia de ser o sítio onde pior lidamos com a opinião dos outros. Saramago disse o que disse. Em última análise, é ele o responsável pelas afirmações que teve. Que temos nós que ver com isso? É triste, mas há mais gente a ler a Bíblia por causa de Saramago do que por causa de todos os líderes da igreja portuguesa juntos!
Quando era miúdo era fã do Herman. Escapava-me à cama para ver os programas quando eram durante a semana. Achava um piadão aos skectches e ao humor corrosivo. Lembro-me de sketches polémicos, como a última ceia ou outros relativos a Fátima, entre outras coisas. Sempre achei estranho que fôssemos tão fãs do Herman quando ela fazia humor com a igreja católica, e tão contra o mesmo quando ele fazia sketches humorísticos com Deus. Então mas isto é que é Fair-Play? Lembro-me muito bem de um sketch em que Herman interpretava o papel de Deus, e alguém fazia de Baptista Bastos, um ateu convicto. Que grande sketche! Acho que o próprio Deus se terá rido à brava. Mas nós não. O Herman estava a 'gozar' com Deus! Ultraje! Blasfémia! Mas o delírio voltava com um Sketche sobre Fátima ou os católicos. Muito coerente...
Isto a propósito do sabermos lidar com as críticas, as opiniões e o sabermos rir de nós próprios. Alguém critica a Bíblia? Preocupemo-nos mais em informar as pessoas e em responder às suas necessidades (através da Bíblia) do que em fazer grandes defesas teológicas. A Bíblia defende-se a ela própria. Alguém brinca com a Igreja ou com Deus? Tenhamos Fair-Play para perceber e até agradecer, porque só é trazido para o humor aquilo que é relevante. Alguém se levanta contra a Igreja? Antes de respondermos vejamos se não há razões para isso... às vezes, até eu próprio tenho vontade de me levantar contra a Igreja. Não contra a Igreja que Deus instituiu, mas a Igreja que os homens tornaram um antro de intolerância, de ilicitude, de interesses e de irrelevância.
Depois de tantos erros históricos que já cometemos enquanto Igreja nos últimos (largos!) séculos, vamos evitar cometer mais um: virar as costas à sociedade só porque não gostamos do que ela diz de nós... até porque este seria o pior erro histórico de todos os tempos...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago