Eram perto de 21h30...estava sentado no meu sofá ultra-confortável, ao telefone e a tentar manter uma conversa. Enervei-me, não com o meu interlocutor, mas com aquilo que estava a ver. Todos sabem do meu benfiquismo, mas 'aquele' Sporting enervou-me profundamente. Que raio, afinal sou português e chateia-me ver uma equipa portuguesa, nem que seja de corfebol, a levar da maneira que o Sporting ontem estava a levar. A querida esposa estava na cozinha a aquecer o jantar (eu sei que era tarde, mas lá em casa somos como os espanhõis e jantamos à hora da ceia...), enquanto eu gritava da sala frases como 'epá, estes gajos não estão a jogar nada' ou o também clássico 'epá, se era para isto, era preferível não estarem lá!' Nisto, último minuto, canto do lado direito, um guarda-redes meio atabalhoado a tentar cabecear uma bola, mas apenas a conseguir atrapalhar um defesa, confusão desgraçada e...GOLO! Eu não sei porque sou benfiquista, mas creio que está na hora de os sportinguistas erguerem um altar de sacrifíos entre Enschede e Alkmaar...
Bem, mas por incrível que pareça, não vim falar de futebol. Venho, isso sim, falar de duas atitudes distintas perante a vida. Utilizo o jogo de ontem como mero exemplo. Quantas vezes mais acontecerá aquilo que aconteceu ontem à noite? Quantas vezes mais cairá qualquer coisa do céu, livrando-nos da derrota mais que certa? Quantas vezes mais seremos salvos mesmo no segundinho antes do apito final?
Parece estranho, mas a maior parte de nós acaba por viver como o Sporting ontem. Não estamos inspirados, não estamos com grande vontade de estar ali, preferíamos estar no Liverpool ou no Real Madrid ou até no clube da esquina. Se trabalhamos na empresa x, preferiamos trabalhar na y. Se trabalhamos na y, preferiamos trabalhar na x. Falta-nos diariamente a atitude de guerreiros, porque afinal, a vida é 1% de inspiração e 99% de transpiração. É um facto que muitas vezes seremos salvos à beira do apito final, mas quantas vezes isso acontecerá?
É altura de trabalharmos de forma mais afincada nos treinos, de levarmos uma vida mais 'profissional', porque nem sempre acontecem os milagres das 9 e tal da noite. É por isso que é preferível darmos tudo desde o primeiro minuto de jogo, independentemente do campo em que jogamos. A alternativa é vivermos de milagre em milagre, sob pena de ele, um dia, não aparecer. E aí, poderá ser tarde mais...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago
3 comentários:
Se a minha mulher lêsse este teu post diria é: "Para quando o milagre das mulheres puderem estar a ver TV e ser o marido a estar na cozinha a aquecer a sopa!!!!"...
Abraços do Ricardo Silvestre
É uma boa comparação e que vai de encontro a um dos maiores vícios dos portugueses (ou será da humanidade em geral?), que é o de nunca nos aplicarmos a 100% naquilo que temos obrigação de fazer. Eu próprio padeço desse vício e vence-lo implica uma luta constante e desgastante contra o conformismo e a preguiça.
Já agora, não penses que vou passar a ser um comentador assíduo. Comecei a visitar o teu blogue por causa da publicidade que fazes no facebook, mas não costumo ter tempo para comentar. Hoje é que, por estar de férias, decidi deixar também o meu contributo. Abraço
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