Existem momentos na nossa vida em que a pressão aumenta, o coração bate mais depressa, em que a adrenalina sobe até quase fazer disparar o coração. São normalmente momentos em que percebemos que algo está em jogo, momentos que percebemos que podem ser decisivos e que podem influenciar o nosso rumo daí por diante. É interessante ver como mudamos perante a possibilidade iminente de momentos de decisão, como a nossa atenção se redobra, como, de repente, nos tornamos atentos a todos os pormenores, todas as possibilidades, todas as potenciais movimentações.
Mas o que é feito dos outros momentos? O que é feito da esmagadora maioria dos momentos em que, à partida, não somos obrigados a atenção redobrada ou a um cérebro em permanente estado de alerta. São aquilo a que chamamos os ‘dias normais’, aqueles em que não temos nenhuma apresentação no trabalho ou na faculdade, aqueles em que não temos nenhum exame ou avaliação. Reparemos no exemplo dos atletas de alta competição. Eles não aparecem apenas nos dias dos Olímpicos ou dos Mundiais. Antes disso há toda uma preparação que lhes permite chegar aos momentos decisivos com todas as suas capacidades no topo, capazes de dar o melhor de si. De uma maneira simples, podemos dizer que a preparação de um atleta de alta competição tem dois momentos dstintos. Um primeiro momento, anterior ao sucesso, em que o atleta é preparado para melhorar os seus índices físicos gerais. Ao mesmo tempo, a sua exposição a um trabalho intenso e difícil de suportar molda a sua personalidade e capacidade de sofrimento. Num segundo momento, o atleta prepara-se especificamente para a sua disciplina, especialmente se falarmos de uma disciplina técnica. Ou seja, um saltador não treina apenas o salto em si, treina todos os aspectos relacionados com cada momento do salto, desde a velocidade, passando pelo acto da chamada, e terminando na maneira como ‘aterra’ na caixa de areia. Mas o verdadeiro momento decisivo não é quando se apresenta num Campeonato do Mundo ou nuns Jogos Olímpicos. O momento decisivo deu-se no primeiro dia de treino, quando decidiu que se iria esforçar e trabalhar para chegar a um determinado nível. Mais, os momentos decisivos foram todos aqueles em que decidiu ir correr em vez de ir beber uns copos com uns amigos (bem mais apelativo, não é?), ou todos aqueles em que decidiu ir saltar para a caixa de areia, em vez de ir ver o jogo de futebol, ou até todos aqueles momentos em que ficou horas a fio a melhorar a sua técnica de salto, em vez de ficar em casa, deitado a ver televisão.
Todos nós temos dons, e isso é um facto. Mas ainda não conheci nenhum dom que se desenvolvesse enquanto estamos sentados no sofá a beber cerveja, a comer tremoços e a ver televisão. O momento em que decidirmos deixar de viver por essa bitola, saindo da nossa zona de conforto, esse será o momento de decisão da nossa vida.
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago