Odiados por metade do mundo, inclusivamente nalguns sectores da Europa, os Estados Unidos, no meu entender, continuam a dar um sinal de vitalidade democrática, que vulgariza, e chega, até, a ridicularizar a democracia europeia. Creio que o que se passou em 2001, entre Bush e Al Gore, foi um acidente (que também é possível na política portuguesa...) de percurso, que não nos tem deixado ver a nós, europeus, algumas das virtudes democráticas dos 'polícias do mundo'.
Há pouco mais de um mês, John McCain, candidato republicano, era dado como morto politicamente, sem hipóteses de vitória aparentes. Hoje é o candidato republicano mais-que-anunciado. No início da campanha, e até há bem pouco tempo, Barack Obama não era mais que uma 'figura simpática' nesta corrida. Hoje, luta taco-a-taco, com a aquela que, há tempos, era a vencedora antecipada e anunciada dos democratas: a experiente Hillary Clinton.Seria isto possível em Portugal? Seriam estas reviravoltas prováveis no nosso país? Em Portugal aconteceu uma vez, no primeiro referendo ao aborto. Na História recente da Europa, lembro-me de um exemplo: Espanha, há sensivelmente quatro anos, onde Mariano Rajoy, ultra-favorito, perdeu à última hora para Zapatero, que seguia a mais de 10 pontos percentuais nas sondagens, embora aqui todo o 'mérito' tenha estado do lado da desastrosa gestão do 11 de Março por parte do PP Espanhol, e da forma cega como tentou culpabilizar a ETA num primeiro momento.
Enquanto os Estados Unidos vivem há décadas (desde Watergate, embora com alguns 'acidentes de percurso' pelo meio) numa estabilidade invejável, a Itália vai conhecer o seu enésimo governo dos últimos 10/15 anos, a Inglaterra viveu uma situação de sucessão quase monárquica (Gordon Brown limitou-se a tomar o poder dentro do seu próprio partido...), França sofre com os excessos pessoais do seu presidente, Alemanha vive num governo de bloco central para não se tornar ingovernável, etc, etc.
Para os mais distraídos com este 'circo' mediático, lembro que as verdadeiras eleições presidenciais norte-americanas decorrem, apenas, em Novembro deste ano, sendo que esta pré-campanha intra-partidária decorre há sensivelmente um ano. E é interessante verificar que, ao contrário do que acontece na Europa, em que as lutas são cada vez menos baseadas em diferenças de ideal, mas em diferenças de opinião (e, às vezes nem isso, o que é claramente o nosso caso...), na América assiste-se a uma batalha interessante de diferenças, de rupturas. Até nos Republicanos, no poder há 8 anos, a candidatura anunciada é de ruptura, porque McCain foi um dos maiores críticos internos a George W. Bush.
Para os anti-americanos primários, uma questão. Em algum país da Europa assistimos a um debate tão extenso, mas, ao mesmo tempo, tão eficaz, tão revelador das necessidades de um país, tão despertador das consciências? A meu ver, tal não acontece deste lado do Atlântico. Daí o grande interesse que estas corridas americanas despertam na Europa. Creio que isso também se explicará com alguma 'frustração'... Os americanos discutem intra-partidariamente, assumindo diferenças, mantendo uma pose de respeito mútuo (que se tem verificado imensamente nesta corrida), sem grandes ataques pessoais, sobrepondo-se, neste caso, aquilo que considero um excelente debate de ideias. Depois disso ainda há a tal discussão final, para a qual partimos já com meses e meses de discussão prévia. Para mim este debate de ideias acaba por ser uma espécie de expressão final da democracia. Com erros, com infelicidades, é certo. Mas muito superior à expressão de democracia europeia.
Muitos dirão que, sendo a democracia americana tão 'superior' à europeia, como são possíveis erros como o Iraque, a política ambiental, a política económica dos últimos anos, e por aí fora? São possíveis, é um facto, tal como na Europa. Mas isso não invalida que um sistema seja superior ao outro. Em Portugal as escolhas reduzem-se, sistematicamente, a dois candidatos, escolhidos por dois partidos (até aqui tudo bem) que de diferentes nada têm. Que discussão haverá entre duas pessoas, dois partidos iguais a tentarem parecer diferentes?
Olhemos de forma descomplexada para o exemplo norte-americano e aprendamos a discutir, verdadeiramente, o futuro do nosso país. Porque as diferenças e a discussão das mesmas são as bases da democracia. E quando elas não existem...
Há pouco mais de um mês, John McCain, candidato republicano, era dado como morto politicamente, sem hipóteses de vitória aparentes. Hoje é o candidato republicano mais-que-anunciado. No início da campanha, e até há bem pouco tempo, Barack Obama não era mais que uma 'figura simpática' nesta corrida. Hoje, luta taco-a-taco, com a aquela que, há tempos, era a vencedora antecipada e anunciada dos democratas: a experiente Hillary Clinton.Seria isto possível em Portugal? Seriam estas reviravoltas prováveis no nosso país? Em Portugal aconteceu uma vez, no primeiro referendo ao aborto. Na História recente da Europa, lembro-me de um exemplo: Espanha, há sensivelmente quatro anos, onde Mariano Rajoy, ultra-favorito, perdeu à última hora para Zapatero, que seguia a mais de 10 pontos percentuais nas sondagens, embora aqui todo o 'mérito' tenha estado do lado da desastrosa gestão do 11 de Março por parte do PP Espanhol, e da forma cega como tentou culpabilizar a ETA num primeiro momento.
Enquanto os Estados Unidos vivem há décadas (desde Watergate, embora com alguns 'acidentes de percurso' pelo meio) numa estabilidade invejável, a Itália vai conhecer o seu enésimo governo dos últimos 10/15 anos, a Inglaterra viveu uma situação de sucessão quase monárquica (Gordon Brown limitou-se a tomar o poder dentro do seu próprio partido...), França sofre com os excessos pessoais do seu presidente, Alemanha vive num governo de bloco central para não se tornar ingovernável, etc, etc.
Para os mais distraídos com este 'circo' mediático, lembro que as verdadeiras eleições presidenciais norte-americanas decorrem, apenas, em Novembro deste ano, sendo que esta pré-campanha intra-partidária decorre há sensivelmente um ano. E é interessante verificar que, ao contrário do que acontece na Europa, em que as lutas são cada vez menos baseadas em diferenças de ideal, mas em diferenças de opinião (e, às vezes nem isso, o que é claramente o nosso caso...), na América assiste-se a uma batalha interessante de diferenças, de rupturas. Até nos Republicanos, no poder há 8 anos, a candidatura anunciada é de ruptura, porque McCain foi um dos maiores críticos internos a George W. Bush.
Para os anti-americanos primários, uma questão. Em algum país da Europa assistimos a um debate tão extenso, mas, ao mesmo tempo, tão eficaz, tão revelador das necessidades de um país, tão despertador das consciências? A meu ver, tal não acontece deste lado do Atlântico. Daí o grande interesse que estas corridas americanas despertam na Europa. Creio que isso também se explicará com alguma 'frustração'... Os americanos discutem intra-partidariamente, assumindo diferenças, mantendo uma pose de respeito mútuo (que se tem verificado imensamente nesta corrida), sem grandes ataques pessoais, sobrepondo-se, neste caso, aquilo que considero um excelente debate de ideias. Depois disso ainda há a tal discussão final, para a qual partimos já com meses e meses de discussão prévia. Para mim este debate de ideias acaba por ser uma espécie de expressão final da democracia. Com erros, com infelicidades, é certo. Mas muito superior à expressão de democracia europeia.
Muitos dirão que, sendo a democracia americana tão 'superior' à europeia, como são possíveis erros como o Iraque, a política ambiental, a política económica dos últimos anos, e por aí fora? São possíveis, é um facto, tal como na Europa. Mas isso não invalida que um sistema seja superior ao outro. Em Portugal as escolhas reduzem-se, sistematicamente, a dois candidatos, escolhidos por dois partidos (até aqui tudo bem) que de diferentes nada têm. Que discussão haverá entre duas pessoas, dois partidos iguais a tentarem parecer diferentes?
Olhemos de forma descomplexada para o exemplo norte-americano e aprendamos a discutir, verdadeiramente, o futuro do nosso país. Porque as diferenças e a discussão das mesmas são as bases da democracia. E quando elas não existem...
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