Ponto prévio: sou portuguesíssimo, de nascença e criação. Gosto do meu país. Talvez por isso algumas destas coisas me entristeçam tanto. Vejamos se algumas destas coisas não são absolutamente caricatas (para ser simpático):
- O governo prevê a inflação a 2,2% e dá aumentos dessa ordem. O povo, há largos anos a perder poder de compra não percebe porquê, mas também não diz nada. Mas vêm 100 mil professores para as ruas porque não querem ser avaliados. Faz sentido. É preferível ganhar pouco uma vida inteira do que ganhar mais mas arriscar ser despedido porque se é incompetente. Bom, a inflação já vai bem acima dos 2,2%, mas ninguém se preocupa. Mais um ano a perder poder de compra. Tudo vai bem, tudo vai óptimo.
- O povo. O povo queixa-se. Dia sim, dia sim. O que faz? Pouco. A produtividade é baixa, os salários condizentes. Reclamamos direitos mas não cumprimos os deveres. Afinal, o dinheiro é pouco para comprar aquele plasma que tanta falta faz para ver o Euro. Os chamados bens de primeira necessidade. E o povo continua a queixar-se. Mas também continua a ir de transporte próprio para o emprego, mesmo quando tem transporte público à porta de casa e do trabalho. Mas queixa-se que a gasolina está que não se pode. Mas o plasma, esse, não falha. Parece que a loja entrega até dia 7. E é bom que apareçam antes das 17h , porque o povo quer ver a abertura do Euro. Esse fantástico Suiça-Rep.Checa. Onde? Na SportTv, claro!
- Os políticos. Uns são bons, outros nem tanto. Uns são competentes, outros são o contrário. Tal como em qualquer outra actividade. Os políticos. Avessos à mudança. Afinal a mudança é desconfortável e o povo manifesta-se na rua sempre que há sinais dela. Porquê? Ninguém sabe. Mas todos sabem que isso custa votos. Os políticos. Como disse Cavaco quando Santana era primeiro, os competentes devem afastar os incompetentes. Será? Bom, enquanto o povo continuar a preferir a demagogia à verdade e o espectáculo à eficiência será difícil. Quando Santana, depois do que fez no país e no PSD, ainda obtém 30% dos votos de militantes do seu partido, parece-me que algo vai mal. Prefiro a crua verdade de Ferreira Leite (ao menos ninguém é enganado. Não podemos baixar impostos, ponto!) ou o discurso renovador e fresco de Passos Coelho (num estilo de Obama português...). Os políticos. Ao menos Manuel Alegre não engana ninguém, diz o que pensa, mesmo que seja em conjunto com os seus 'amigos' do BE. Trouxe o tema da igualdade social ao topo da actualidade, em vez da subida dos combustíveis. Está na hora. Novos ricos, há cada vez menos. Já novos pobres vão surgindo todos os dias....
- O ópio. Papel que encaixa perfeitamente ao futebol. O Porto excluído da Champions abre o Telejornal. A pobreza no país, o excessivo endividamento das famílias portuguesas, a desigualdade social que grassa por estas bandas, tudo isso é secundário. O facto do Porto perder a participação na Champions é que é grave. Ou isso ou as últimas do treino da selecção. Por falar nisso, já repararam que os treinos da selecção são transmitidos em directo pela televisão? Traço de terceiro mundo que nem ouso comentar... O ópio. Sabe bem ao início, faz-nos alhear da realidade e parecer que tudo está bem. Mas quando acaba o efeito causa valente dor de cabeça. Estou para ver a depressão em que o país estará por alturas do fim do Euro. E se formos campeões (Deus queira que sejamos, ao menos animava isto um bocadinho...), apenas adiamos a dor uns quantos dias.
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