Ao contrário da Europa, a democracia norte-americana lá vai dando sinais de pujança. À previsibilidade dos aliados europeus, os americanos vão respondendo com a força da surpresa, reforçada nos últimos meses com a ascensão política de Barack Obama.
Poucos se lembrarão a esta altura mas quando começou a corrida à presidência norte-americana ninguém ousava vaticinar um vitória de Obama no lado democrata. Se formos mais longe, percebemos também que ninguém vaticinava a vitória de McCain no outro lado da contenda. Mas foquemo-nos, por hoje, em Obama. Pelo seu discurso, por aquilo que representa, por ser o primeiro afro-americano a concorrer à presidência, Obama acaba por ser um valente sopro de novos ventos na lógica política. Não sei se estes 'ventos' chegarão à velha Europa, mas pelo menos trazem-nos um sinal de que nem sempre tudo corre como o previsto.
Creio que o maior desastre da democracia é quando esta perde o seu teor de imprevisibilidade. Tal como um campeonato em que o primeiro leva 20 pontos de avanço do segundo perde emoção, também a política tem na força da imprevisibilidade dos resultados um dos seus grandes aliados. Isso mobiliza as pessoas, fá-las lutar porque acreditam neste ou naquele projecto, mobiliza a opinião pública, cada vez mais regida pela emoção do que pela razão. Creio que, entre outras coisa, esta falta desta lógica de imprevisibilidade que tem contribuído para a descredibilização do sistema político europeu, do qual as mais recentes crises sociais do Sul e Centro são apenas um resultado e reflexo óbvio.
Confesso que encontro paralelo com a recente situação de Passos Coelho no PSD. O seu discurso representa uma espécie de experiência de uma corrente Obamista na Europa. Não venceu mas marcou pontos e terreno. Pela época em que apareceu será sempre colado a esta nova lógica política. A realidade é que a política e a sociedade precisam desesperadamente de mudança, pelo é normal que um discurso virado para essa mudança seja refrescante e uma lufada de ar fresco no já desgastado sistema social e político europeu.
Agora, resta-nos esperar. Enquanto portugueses e enquanto europeus. Esperar que, mais do que o discurso, possamos ver acções de mudança. Porque, segundo me parece, de discursos anda o povo farto...
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago