Rock Star é um conceito na moda há décadas. É um conceito ilusório de estrelato, realização e glamour difícil de explicar. Um conceito perseguido por milhares, apesar das histórias trágico-glamorosas que pontuam as estrelas que conhecemos. A realidade é que a maior parte de nós vive com a ilusão de um dia atingir esse conceito de imortalidade que caracteriza o estrelato. Uma imortalidade que nos leva a vivermos para lá da nossa existência terrena, mas que também nos leva a um sítio onde a nossa própria vivência terrestre se torna quase que intocável - ninguém nos 'toca', ninguém consegue chegar até nós. O porquê disto é uma pergunta a que poucos conseguiriam responder. Fama, dinheiro, sexo ou exposição mediática poderiam ser razões aparentes, mas não estou convencido que sejam a explicação de tudo. Por isso, entremos no mundo rock star...
Que desejo secreto é este?
Em primeiro lugar é um desejo de reconhecimento. Faz parte da nossa natureza. Nós, seres humanos, lutamos para sermos reconhecidos naquilo que fazemos, atingimos o ponto máximo da nossa existência quando alguém nos aponta como 'bons, excelentes, ou fantásticos' a fazer isto ou aquilo. O homem é um animal que precisa de reconhecimento, e precisa dele como se de pão para a boca se tratasse. Se eu faço x, então espero o reconhecimento y. Se eu faço bem, espero que haja reconhecimento nisso, e se for reconhecimento público, tanto melhor. E isso leva-nos ao segundo ponto...
É o nosso desejo de sermos superiores que vem ao de cima. Ao sermos reconhecidos publicamente, estamos a ser elevados sobre alguém, estamos a ser colocados em posição superior a a, b ou c. E isso faz-nos sentir tão bem...faz-nos sentir tão superiores. E vicia-nos. Após sermos reconhecidos publicamente, passamos a esperar secretamente que, sempre que há um reconhecimento, ele seja direccionado a nós, mesmo que até saibamos que houve quem fizesse mais que nós. Estranho? Nem por isso...
E a estranheza disto dilui-se numa simples razão: nós somos competitivos! Por mais que neguemos esse facto, só estamos bem em competição. Pela melhor piada, pelo melhor carro, pela melhor casa, pelo melhor emprego, pelo melhor ordenado. E pensamos que quem não pensa assim deve ser atrasado ou coisa que o valha! Gostamos de competição. Mais! Nós precisamos de competição! É por isso que produzimos mais e melhor quando temos quem esteja a fazer o mesmo trabalho. É o desejo secreto de batermos o nosso concorrente a trabalhar...
E a culpa talvez seja das luzes, essas marotas que nos fazem pensar que somos mais importantes do que o que somos na realidade, essas luzes que nos enganam e fazem de nós as rock stars que nunca fomos. E é essa ambição descarada de nos tornamos imortais, não no que fazemos, mas no nosso nome, que nos impele de forma tão gananciosa a procurar tal desiderato. Que fique claro: cada um de nós deve deixar uma marca que perdure, pelo bem, para lá da nossa vida. Mas que o que perdure seja a nossa obra e não o nosso nome. Se este perdurar no tempo, então que seja pela nossa obra, nada mais. Não deixemos que a 'bebedeira' de luzes nos encha o ego, sob pena de a 'ressaca' da nossa pseudo exposição (que, na maior parte das vezes, é irrelevante, convenhamos...) seja terrívelmente dolorosa.
E a culpa é (deixemos o talvez de lado) dessa ideia miticamente mística de que quanto mais inatingíveis estivermos, melhores somos, de que quanto menos do 'povo', mais importantes nos tornamos. Au contraire. Quanto mais próximos, chegados e dados às pessoas estivermos, mais perto dos seus problemas, anseios e motivações estaremos. Quanto mais próximos, chegados e dados às pessoas estivermos, mais próximos estaremos da solução. E todos sabemos que o mundo anda à procura de solução desde que se inventou.
Por isso, políticos, líderes, responsáveis, chefes e afins...próximos das 'gentes', do 'povo', das pessoas...ok?
A injustiça da parábola do filho pródigo
13 years ago